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Boletim Eletrônico Nº 1284

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06/09/2017



Os dois lados dos 'petro-reais'


PPGQ da UFES teve grande estímulo financeiro da Petrobras. Veio a crise e o poço fechou. Agora o investimento começa a voltar

Entre 2007 e 2012 o Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) recebeu aportes da Petrobras no valor de aproximadamente R$ 50 milhões de reais, sendo mais de 60% investidos no Núcleo de Competências em Química do Petróleo/LabPetro-Ufes. O Programa, criado com curso de mestrado em 2006, foi beneficiado por recursos da estatal, diante da grande produção de petróleo esperada para os anos futuros – o pré-sal começou a ser explorado em 2010. Mas com a crise, a partir do final de 2014, a torneira fechou. "O dinheiro acabou, bolsistas foram desligados e projetos foram paralisados", revela o professor Valdemar Lacerda Júnior, coordenador do Programa desde 2011. "No final de 2016 o dinheiro começou a voltar aos poucos, e aprovamos três novos projetos este ano." O financiamento da Petrobras, contudo, não impacta diretamente cerca de 40% dos docentes do Programa, que trabalham em áreas não-correlatas ao petróleo, mas são beneficiados indiretamente através do uso da infraestrutura e parque instrumental.

Professor Valdemar Lacerda Júnior com parte do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Caracterização e Processamento primário de petróleo.

O interesse da Petrobras em fomentar as pesquisas no PPGQ-UFES possibilitou que nos últimos 10 anos o programa se tornasse um dos mais bem aparelhados dentre os departamentos de química do País. Mas os primeiros anos não foram fáceis: com duas avaliações 3 consecutivas, o programa correu o risco de fechar. Medidas implementadas a partir de 2011 permitiram a nota 4. "E estamos esperançosos que na próxima avaliação conquistemos a nota 5 da CAPES", afirma Lacerda Júnior. Entre as medidas que impulsionaram a qualidade do mestrado estão a exigência de exames de qualificação e a exigência da publicação de artigo para o discente possa defender sua dissertação. "Até 2010 não tínhamos nenhuma patente. Nos dois anos seguintes depositamos 12, e quatro foram premiadas pela Petrobras", observa o coordenador do Programa. "Na pesquisa do SciVal da Editora Elsevier para os Top 500 da produção na área de Química no Brasil (2012-2016) temos 02 pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Química da UFES entre o Top 21, Prof. Wanderson Romão (19) e Prof. Eustaquio Vinicius Ribeiro de Castro (21), o que demonstra a consolidação e amadurecimento do Programa e de seus docentes."

O PPGQ-UFES titulou 156 mestres e um doutor – o doutorado foi implementado com conceito CAPES 4 em 2014. "Emanuele Catarina da Silva Oliveira foi uma aluna precoce, que realizou um excelente trabalho com a utilização da RMN associada a métodos quimiométricos na caracterização de petróleos. As próximas titulações de doutor devem ocorrer a partir de 2018", conta Lacerda Júnior. Ele chegou à UFES como docente em agosto de 2006, depois de fazer mestrado, doutorado e pós-doc na USP de Ribeirão Preto, em Química Orgânica e RMN. No ano seguinte assumiu a chefia do Departamento de Química e, desde 2011 coordena a pós-graduação. Já titulou 13 mestres e supervisionou 1 pós-doutorando e atualmente coordena um grupo com 2 pós-docs, três doutorandos e cinco mestrandos. Lacerda Júnior apresentou parte dos resultados de suas pesquisas no Congresso Mundial de Química (IUPAC 2017), em julho, em São Paulo.

Este é um dos artigos publicados pelo grupo:

"Study of the effect of temperature and gas condensate addition on the viscosity of heavy oils", J. F. P. Bassane, C. M. S. Sad, D. M. C. Neto, F. D. Santos, M. Silva, F. C. Tozzi, P. R. Filgueiras, E. V. R. de Castro, W. Romão, M. F. P. Santos, J. O. R. SILVA, V. Lacerda Jr., Journal of Petroleum Science & Engineering 2016, 142, 163-169.

Longe da química do petróleo, o professor Warley Borges coordena um grupo de pesquisa em química dos produtos naturais. Ele chegou ao Programa no segundo semestre de 2010 e titulou 10 mestres desde então. "Estudamos quase que exclusivamente plantas e recentemente estamos começando a trabalhar com semissíntese de alguns produtos naturais", explica. O grupo começou as pesquisas em 2011, mas foi a partir de 2013 que realmente começou a crescer, devido à reforma do laboratório com a aquisição de novos equipamentos e a vinda, por meio do Ciência sem Fronteiras, do professor Jaume Bastida, da Universidad de Barcelona, um dos maiores especialistas em alcaloides de Amaryllidaceae (a popular Açucena ou Lírio).

"Começamos a estudar a família Amaryllidaceae, que possui plantas que contém a Galantamina, que é um fármaco utilizado no tratamento para a Doença de Alzheimer. Já temos resultados bastante promissores, com alguns artigos já publicados e outros sendo escritos", conta Borges, que faz parte de uma rede de cooperação internacional com 15 coordenadores de diversos países das Américas, estabelecida pelo professor Bastida.

Professor Warley Borges, pesquisador-orientador em QPN: "Começamos a estudar a família Amaryllidaceae, que possui plantas que contém a Galantamina, um fármaco utilizado utilizado no tratamento para a Doença de Alzheimer. Já temos resultados bastante promissores, com alguns artigos publicados e outros sendo escritos."

Este é um dos artigos publicados pelo grupo:

“The Brazilian Amaryllidaceae as a source of acetylcholinesterase inhibitory alkaloids”, J.P. Andrade, R.B. Giordani, L. Torras-Claveria, N.B. Pigni, S. Berkov, M. Font-Bardia, T. Calvet, E. Konrath, K. Bueno, L.G. Sachett, J.H. Dutilh, W.S. Borges, F. Viladomat, A.T. Henriques, J.J. Nair, J.A.S. Zuanazzi, J. Bastida,  Phytochemistry Reviews 2016, 15, 147-160.

Leia entrevista concedida pelo professor Valdemar Lacerda Júnior ao Boletim SBQ:

Quais os pontos fortes do Programa?
O Programa de Pós-Graduação em Química do Centro de Ciências Exatas da Universidade Federal do Espírito Santo vem apresentando constante evolução desde sua criação, se consolidando nos últimos anos, que veio com a criação e aprovação pela CAPES de seu Curso de Doutorado. A partir de 2012, com as diferentes medidas e ações tomadas pela Coordenação do Programa com apoio de seu Colegiado (Exame de Qualificação e exigência de artigo científico para realização da defesa, entre outras) aprovadas no final de 2011, começou uma drástica melhoria do Programa em todos os itens avaliados pela CAPES, o que foi comprovado pelo aumento da nota do Programa na trienal 2010-2012, quando o Programa passou de 3 para 4 e ainda teve sua proposta de criação do Curso de Doutorado também aprovada com nota 4. A evolução continuou neste quadriênio 2013-2016, quando todos os itens avaliados pela CAPES o Programa apresentaram dados melhores comparados ao triênio passado. Desta maneira a expectativa atual é de manutenção da atual nota do programa e até de um possível aumento.

Apesar de alguns problemas ainda existentes, os quais vêm sendo enfrentados pela coordenação com o apoio do colegiado do programa e da Universidade, o PPGQUI apresenta os seguintes pontos fortes:

Alinhamento com a realidade do Estado do Espírito Santo - Como mostrado, os projetos são voltados para setores de interesses locais, tais como, petróleo, meio ambiente, siderurgia e mais recentemente segurança pública com a implementação de projetos na área de Química Forense. Deve-se salientar entretanto que o alinhamento com as necessidades regionais não exclui projetos de amplitudes maiores e de cunhos mais acadêmicos;

Infraestrutura boa, com um excelente parque de instrumentação - O Programa utiliza a estrutura do Departamento de Química e seus Laboratórios além do LabPetro e do NCQP, os quais possuem equipamentos novíssimos e de última geração;

Participação de alunos da graduação em projetos desenvolvidos no Programa. A quantidade de alunos de graduação que participa em projetos na pós-graduação é bastante significativa e isto certamente impacta em sua participação posterior no mestrado;

Participação de alunos de pós-graduação em atividades da graduação. Isso ocorre através dos estágios de Docência e na participação dos alunos da Pós em seminários e auxílio como co-orientadores em projetos de graduação, ainda que isto ocorra de maneira informal;

Alta produção científica no que se refere a congressos nacionais e internacionais;

Alta capacidade de financiamento de empresas privadas como: Petrobras, Shulumberger, Vale e Fibria (antiga Aracruz Celulose). Apenas com a Petrobras, os investimentos na área de química passam de 50 milhões de reais em projetos de infra-estrutura e P&D;

Aumento da produção científica na forma de papers em relação ao último triênio, especialmente, em estratos mais altos, hoje o perfil de publicações do programa claramente se concentra no estrato A2, sendo que temos na média no quadriênio 63% de produção qualificada com discente ou egresso;

Aumento substancial na produção de livros em relação ao último triênio e que deverá continuar nos próximos anos;

Patentes registradas no INPI ou patentes solicitadas, o que reflete as parcerias com as empresas privadas;

Aumento significativo da produção qualificada do programa, através da participação de discentes em papers, patentes e livros;

Corpo docente composto de pessoas jovens;

Corpo docente comprometido com o programa e com foco na melhoria do mesmo;

Apoio institucional através da concessão de diárias, passagens, e suporte para participação em editais junto às agências de fomento e empresas privadas ou estatais;

Como é a estrutura do Programa?
Atualmente o Programa de Pós-Graduação em Química conta um dos parques instrumentais mais modernos do país, com equipamentos de última geração. A estrutura é composta pelo LabPetro que está dividido no LabSerV e no Núcleo de Competências em Química do Petróleo. O LabSerV conta com laboratório com área aproximada de 130 m2 com infra-estrutura montada para atender essencialmente pesquisas na área de petróleo.

O Núcleo de Competências em Química do Petróleo (NCQP) é um prédio com área aproximada de 3.400 m2 que abriga laboratórios de pesquisa voltados a diversas áreas relacionadas ao setor de Petróleo, biocombustíveis, gás natural, e meio ambiente e foi inaugurado em março de 2012. No Núcleo temos 09 salas de pesquisadores, biblioteca, sala de reuniões, sala de videoconferência, sala de seminários, auditório, cozinha, escritório, oficinas, almoxarifados, sala de amostras, local para descarte de resíduos e subestação de 300 kVA. A infraestrutura do núcleo está à disposição do Programa de Pós-Graduação em Química e de toda comunidade universitária.

Quais os principais desafios enfrentados atualmente?
Com certeza é o financiamento. Com a crise que começou no final de 2014 os recursos aportados por agências de fomento e a capacidade de capacitação de recursos através de colaborações com empresas e iniciativa privada diminuiu drasticamente. Um ponto mais crítico são as bolsas de mestrado e doutorado, principalmente do curso de doutorado, que por ser um curso novo, iniciando em 2014, teve apenas algumas bolsas concedidas quando da aprovação do curso, não tendo a expansão de bolsas como normalmente acontece em cursos novos.

Qual a vocação da química na região?
Alinhamento com a realidade do Estado do Espírito Santo - os projetos são voltados para setores de interesses locais, tais como, petróleo, meio ambiente, siderurgia e mais recentemente segurança pública com a implementação de projetos na área de Química Forense. Deve-se salientar entretanto que o alinhamento com as necessidades regionais não exclui projetos de amplitudes maiores e de cunhos mais acadêmicos.

Os alunos e orientadores costumam participar de eventos regionais ou nacionais científicos, da SBQ por exemplo?
Sim, até 2015 era grande o número de discentes que participavam de diversos eventos nacionais e internacionais como: Reunião Anual da SBQ, BMOS, ENCA, SIBEE , SBPMat entre outros. Dentre os internacionais podemos relacionar: Petrophase e SMASH. A partir de 2016, o número de participações em eventos caiu drasticamente devido principalmente ao corte no valor do PROAP-CAPES, que apoiava grande parte das participações de discentes e docentes nos eventos científicos.

Quantas vagas são abertas anualmente?
Isto depende da oferta que cada docente orientador oferece anualmente. Para o Edital de seleção para entrada em 2018, publicado em agosto, são 24 vagas para doutorado e 24 vagas para mestrado. Nos últimos processos seletivos todas as vagas ofertadas são preenchidas.

Qual o destino dos egressos?
Cerca de 26% vão para a docência superior em Universidade particulares ou no Instituto Federal do Espírito Santo, 42% vão fazer doutorado em diferentes instituições do Brasil, incluindo nosso recém doutorado iniciado, 32% se dedicam ao trabalho como químicos em empresas ou laboratórios e 10% vão para a docência do ensino médio.

Quantas publicações foram geradas até hoje?
338 artigos científicos publicados em periódicos internacionais, 32 livros ou capítulos de livros publicados e 23 patentes depositadas.

Quantas publicações nos últimos 12 meses?
64 artigos científicos publicados em periódicos internacionais.

Cinco artigos relevantes:
“Analysis of the heavy oil distillation cuts corrosion by electrospray ionization FT-ICR mass spectrometry, electrochemical impedance spectroscopy, and scanning electron microscopy”, S. Freitas, M.M. Malacarne, W. Romão, G.P. Dalmaschio, E.V.R. Castro, V.G. Celante, M.B.J.G. Freitas,  Fuel (Guildford) 2012, 1, 1-7.

“Prins reaction: mechanism and recent synthetic applications”, S.J. Greco, R.G. Fiorot, V. Lacerda Júnior, R.B. Santos, Aldrichimica Acta 2013, 46, 59-67.
“Recycling of the anode from spent Ni-MH batteries for synthesis of the lanthanide oxysulfide/oxysulfate compounds used in an oxygen storage and release system”, P.V.M. Dixini, V.G. Celante, M.F.F. Lelis, M.B.J.G. Freitas, Journal of Power Sources (Print) 2014, 260, 163-168.

“Solid state 27Al NMR and X-ray diffraction study of alumina-carbon composites”, T.R. Lopes, G.R. Gonçalves, E. Barcellos, M.A. Schettino, A.G. Cunha, F.G.Emmerich, J.C.C. Freitas, Carbon (New York) 2015, 93, 751-761.
“Chemical Profile of Mango (Mangifera indica L.) using Electrospray Ionisation Mass Spectrometry (ESI-MS)”, B.G. Oliveira, H.B. Costa, J.A. Ventura, T.P. Kondratyuk, M.E.S. Barroso, R.M. Correia, E.F. Pimentel, F.E. Pinto, D.C. Endringer, W. Romão, Food Chemistry 2016, 204, 37-45.

Prêmios conquistados recentemente
Prêmio destaque Forense de 2016, na categoria de melhor artigo em Ciências Forenses para o artigo: “Europium–organic complex as luminescent marker for the visual identification of gunshot residue and characterization by electrospray ionization FT-ICR mass spectrometry”, C.A. Destefani, L.C. Motta, G. Vanini, L.M. Souza, J.F.A. Filho, C.J. Macrino, E.M. Silva, S.J. Greco, D.C. Endringer, W. Romão, Microchemical Journal (Print) 2016.

Prêmio inventor da Petrobras em 13 de agosto de 2013. Patente depositada sob o número 800130194951 em 26/09/2013 com o Título: Equipamento e Métodos para Preparação e Fracionamento de Amostras de Compostos Complexos por Adsorção Seletiva. Eustaquio V. R. de Castro (UFES), Crisitna M. dos Santos Sad (UFES), Júlio C. Magalhães Dias (Petrobras) e Renato R. Neto (UFES)

Linhas de Pesquisa em Andamento
Síntese e Caracterização de Materiais.
Química Forense.
Síntese Orgânica e Medicinal.
Elementos traço e Química Ambiental.
Eletroquímica Aplicada.
Química do Petróleo e Biocombustíveis.
Físico-Química de Soluções e Polímeros.
Química de Produtos Naturais.
Educação e Ensino de Química

Website:
http://www.quimica.vitoria.ufes.br/


Texto: Mario Henrique Viana (Assessor de Imprensa da SBQ)








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