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26/10/2017



PPGQ UFF enfrenta seu maior desafio


Amparado por estrutura consolidada, equipe motivada e a recente conquista do conceito CAPES 6, programa sofre com a crise do Rio de Janeiro

Na Universidade Federal Fluminense, o Programa de Pós-Graduação em Química passa por uma fase de adaptação a uma realidade bem diferente da que viveu entre 2005 e 2014. Com o estado do Rio de Janeiro quebrado, os recursos da FAPERJ que permitiram a construção de laboratórios e a realização de numerosos projetos de pesquisa, estão congelados. Só à UFF a FAPERJ deixou de pagar mais de quinze milhões relativos a 345 projetos aprovados em 2014-2015, e nos últimos dois anos os raros editais lançados são para a concessão de bolsas. O financiamento federal sofreu perdas significativas no último ano, e os projetos financiados pela Petrobras na última década também minguaram.

"Este é nosso maior desafio atualmente", afirma o coordenador do Programa, professor Ricardo Cassella, um dos fundadores do Programa. A crise paralisou a construção do novo prédio do Instituto de Química, necessário para abrigar novos docentes já credenciados e prover melhores condições estruturais para grupos já estabelecidos.

É uma situação atípica para o Programa, que recentemente conquistou o conceito CAPES 6, que até 2014 beneficiou-se de editais, pôde construir uma rede de laboratórios multiusuários (que atende também pesquisadores de outras universidades - http://www.caq.uff.br) e teve um grande salto qualitativo. "Manter-nos e aos nossos alunos motivados na atual situação não tem sido tarefa fácil" afirma a professora Maria Vargas, "mas estamos buscando colaborações com pesquisadores de outros estados e do exterior, tentando parcerias com a iniciativa privada, utilizando da melhor maneira os recursos que temos, e seguimos em frente enquanto pudermos."

Maria Vargas em companhia do seu parceiro no grupo de Bioinorgânica e Sistemas Nanométricas, Mauricio Lanznaster (à direita), colaboradores Célia Machado Ronconi e Fábio da Silva Miranda e alunos

O PPGQ da UFF tem 120 alunos matriculados entre mestrandos e doutorandos e publicou mais de 700 artigos entre 2010 e 2016. Este Programa resulta da fusão, em 2008, de dois programas de pós-graduação: o mais antigo deles, em Química Orgânica e outro, em Química, que abrangia as áreas de concentração de Físico-Química, Química Analítica e Química Inorgânica. A professora Maria Vargas chegou à UFF em 2003, depois de lecionar na UNICAMP por 15 anos e em Cambridge (onde obteve seu doutorado em 1983). Era coordenadora do antigo programa de Química quando, por orientação da CAPES, teve início o processo de unificação. Criou-se uma comissão mista composta por ela e os professores Marcos Costa de Souza (coordenador do PPGQO), Vitor Francisco Ferreira, Ricardo Cassella, José Walkimar de Mesquita Carneiro e Fabio Barboza Passos para pensar como seria o novo PPGQ, e ao longo de um ano, as propostas foram intensamente debatidas nos colegiados. "Foi uma experiência muito enriquecedora; passamos a nos conhecer melhor e construímos juntos um programa inclusivo e forte, representativo de todas as áreas da Química", conta.

Ela tem também imenso prazer em relembrar como a área de Química Inorgânica desabrochou desde sua chegada na UFF. "Na ocasião, em meu departamento um único pesquisador atuava na pós-graduação, o professor José Walkimar de Mesquita Carneiro – na área da química computacional." Jovens doutores, em sua maioria com experiência em grandes centros no exterior, foram sendo contratados e passaram a atuar no PPGQ, desenvolvendo trabalhos de ponta nas mais diversas áreas da química inorgânica, como magnetismo molecular e materiais multifuncionais (professora Maria das Graças Fialho Vaz), química bioinorgânica (professor Maurício Lanznaster), química supramolecular e materiais nano e mesoporosos (professora Célia Machado Ronconi), espectroscopia, química computacional (professor Gláucio Braga Ferreira), fotoquímica e nanomateriais (professor Fábio da Silva Miranda) e cristalografia e sistemas supramoleculares (professor Jackson Antônio Resende). O PPGQ tornou-se assim um polo importante na área de Química Inorgânica no estado do RJ.

Hoje a professora Maria Vargas coordena, em parceria com o professor Maurício Lanznaster, o Grupo de Química Bioinorgânica e Sistemas Nanométricos. O interesse é o planejamento e obtenção de complexos de platina, rutênio, cobalto, e outros, com potencial atividade antitumoral e antiviral. "Sintetizamos os complexos e estudamos sua reatividade, interação com DNA e proteínas e, através de colaborações, suas atividades biológicas", explica. O professor Fábio da Silva Miranda é parceiro em vários projetos do grupo. Colabora também com a professora Célia Machado Ronconi, coordenadora do Grupo de Química Supramolecular e Nanotecnologia, que fez seu pós-doc com o Prof. James Fraser Stoddart (prêmio Nobel em química 2016). Nos projetos que desenvolvem em colaboração investigam abordagem inovadora para o tratamento do câncer, que envolve o uso de nanopartículas magnéticas e nanoválvulas para a veiculação de fármacos. A vantagem em se utilizar as nanopartículas magnéticas é que elas geram calor na presença de um campo magnético alternado e se houver um fármaco acoplado, este é liberado. Portanto, o mesmo sistema combina termoterapia e quimioterapia para o tratamento do câncer, o que o torna mais eficiente e seletivo. "Excelentes resultados foram obtidos in vitro, o desafio agora é realizar os experimentos in vivo," explica a professora.

Mais recente no PPGQ, o professor Fernando Carvalho chegou a à UFF em 2009 e entrou no Programa em 2010. Desde então publicou 95 artigos, nove capítulos de livro e organizou um livro. Titulou três mestres, cinco doutores e 23 alunos de iniciação científica. Orienta atualmente dois mestrandos, seis doutorandos e três alunos de IC no Grupo de Síntese Orgânica Aplicada, em parceria com os professores Vitor Francisco Ferreira e David Rodrigues da Rocha.

Professor Fernando de Carvalho (à frente), com o Grupo de Síntese Orgânica Aplicada: "já produzimos várias moléculas bastante ativas contra o câncer, a doença de Chagas, fungos e bactérias, e também anti-inflamatórios. Esperamos que nos próximos anos algum desses derivados possa avançar um pouco mais na pesquisa clínica."

"Nos últimos anos, nossa pesquisa tem sido dedicada à área de Síntese Orgânica, com ênfase no desenvolvimento de novas metodologias e suas aplicações na fabricação de moléculas bioativas nas áreas de câncer, tuberculose e doenças negligenciadas", descreve Fernando. "Nessa busca, já produzimos várias moléculas bastante ativas contra doença de Chagas, fungos e bactérias, e também anti-inflamatórios. Esperamos que nos próximos anos algum desses derivados possa avançar um pouco mais na pesquisa clínica."

Fernando é da geração de novos orientadores credenciados pelo PPGQ na segunda metade dos anos 2000, por decisão estratégica da coordenação. "Resolvemos credenciar automaticamente os jovens docentes, com menos de cinco anos de conclusão do doutorado, que chegam ao IQ através dos departamentos de ensino", explica o professor Ricardo Cassella. "Hoje, podemos ver os frutos desta política, uma vez que vários destes jovens docentes tem conseguido alavancar as suas pesquisas com o respaldo dos grupos mais consolidados."

O professor Fernando tem planos de seguir formando novos mestres e doutores, e ampliar a rede de colaborações com outras área da química. "Só tenho a agradecer ao PPGQ UFF, pois conto com a colaboração de muitos colegas, desde a convivência diária ou esporádica à cooperação em projetos científicos", declara. "Adicionalmente, o PPGQ nos fornece as condições institucionais, mesmo que limitadas em certas ocasiões, para desenvolvermos nosso trabalho científico."

Leia íntegra da entrevista concedida pelo coordenador do Programa, professor Ricardo Cassella:

Quando foi criada PG em química da UFF? Quais os cursos disponíveis? Como é o processo de seleção?
O PPGQ-UFF começou a funcionar em 2008, como resultado da fusão entre os antigos Programas de Pós-Graduação em Química Orgânica e Química. Porém, a pós-graduação no IQ/UFF começou muito antes, já que o Programa de Pós-Graduação em Química Orgânica foi criado em 1990 e o Programa de Pós-Graduação em Química em 2002.

Nós oferecemos os cursos de Mestrado e Doutorado (acadêmicos) em Química.

Após algumas experiências, hoje, o processo de seleção de estudantes de Mestrado se dá através de uma prova de conhecimentos básicos de Química (com conteúdo das quatro grandes áreas) e da análise curricular. Neste caso, as bolsas de estudo disponíveis são concedidas de acordo com a classificação no processo seletivo. Por sua vez, os estudantes de Doutorado são selecionados através de uma análise curricular e têm que ser aceitos por um docente permanente do Programa. Neste caso, porém, as bolsas de estudo disponíveis são concedidas após a realização de um exame de conhecimentos de Química, cuja nota é somada àquela obtida na análise curricular realizada no processo seletivo.

Quantas vagas são abertas anualmente? Quantas são preenchidas? Quantos alunos existem hoje? Quantos foram formados até hoje?
O PPGQ-UFF oferece 60 vagas, anualmente, para cada curso (Mestrado e Doutorado), sendo 30 em cada processo seletivo, que é realizado a cada semestre. Em média, preenchemos de 20 a 25 vagas do curso de mestrado e de 25 a 30 vagas do curso de doutorado. O PPGQ-UFF tem, hoje, 120 alunos matriculados (mestrado + doutorado). Desde o início da PG em Química no IQ/UFF foram formados 285 mestres e 134 doutores.

Qual a vocação da química da região? Quais as principais linhas de pesquisa em andamento?
A região do Rio de Janeiro é fortemente afetada pela indústria do petróleo, de modo que temos muitos projetos nesta área. Entretanto, como o Estado do Rio de Janeiro tem um nível de industrialização elevado, seria injusto dizer que a Química Fluminense está centrada na indústria do petróleo, já que temos importantes polos em outras áreas como a indústria farmacêutica, a indústria alimentícia e a de materiais. A diversidade industrial somada ao pioneirismo do Estado do Rio de Janeiro faz com que o mesmo tenha amplo reconhecimento quanto à sua relevância na Química nacional, muito bem consolidado em todas as áreas da Química, sobretudo em sua capital e região metropolitana.

As características de nosso estado, destacadas acima, se refletem diretamente no PPGQ-UFF, que oferece aos estudantes uma grande diversidade de linhas de pesquisa. Aqui, os estudantes podem encontrar orientadores que trabalham em praticamente qualquer área da Química.

O PPGQ-UFF tem grupos de pesquisa consolidados em várias áreas da Química e oferece oportunidades de estudo nas 4 grandes áreas: Físico-Química, Química Analítica, Química Inorgânica e Química Orgânica. É importante destacar também que já há algum tempo observamos interações entre os grupos de pesquisa, com o desenvolvimento de muitos trabalhos de cunho interdisciplinar.

Como estão as publicações?
Nos últimos dois períodos de avaliação da CAPES (2010-2012 e 2013-2016), os professores e alunos do PPGQ-UFF publicaram mais de 700 artigos científicos, sendo que nos últimos 12 meses, nossos corpos docente e discente publicaram 115 artigos científicos.

Quais os pontos fortes do Programa?
Eu diria que os pontos fortes do PPGQ-UFF são, principalmente, a sua diversidade e a juventude do corpo docente aliada à experiência de grupos consolidados. Como mencionei anteriormente, o PPGQ-UFF oferece a possibilidade de estudos em praticamente todas as áreas da Química, o que o faz capaz de receber estudantes com diferentes formações e oriundos de diferentes centros.

Outro aspecto que considero relevante é a juventude do nosso corpo docente. Há alguns anos atrás resolvemos credenciar automaticamente os jovens docentes, com menos de cinco anos de conclusão do doutorado, que chegam ao IQ através dos departamentos de ensino. Hoje, podemos ver os frutos desta política, uma vez que vários destes jovens docentes tem conseguido alavancar as suas pesquisas com o respaldo dos grupos mais consolidados.

Outro aspecto importante de ressaltar é a nossa infra-estrutura instrumental. Ao longo dos anos nós conseguimos adquirir equipamentos de médio e grande porte, necessários para o desenvolvimento dos trabalhos dos estudantes. Estes equipamentos foram alocados em laboratórios multiusuários, que hoje atendem, inclusive, estudantes de outras universidades. Nossa rede de laboratórios multiusuários vem crescendo e se organizando, de modo que eu diria que, hoje, ela é uma das mais completas do estado.

Quais os principais desafios enfrentados atualmente?

Sem dúvida alguma, os dois maiores desafios a serem enfrentados pelo PPGQ-UFF são: (1) a escassez de financiamento devido à crise, que afetou especialmente a Faperj, que vinha sendo uma agência muito atuante na manutenção dos grupos de pesquisa do programa e (2) a resolução de nossos problemas de infra-estrutura predial. O IQ/UFF está finalizando um prédio novo, cujas obras estão atualmente paralisadas por falta de recursos. A finalização do prédio novo do IQ é fundamental para o PPGQ, uma vez que temos credenciado novos docentes que chegam à universidade e estes precisam de espaço adequado para trabalhar. Esta questão vale também para os docentes mais antigos, já que os prédios que ocupamos vão, ao longo do tempo, se tornando cada vez mais sujeitos a problemas.

Eu poderia citar também a questão da internacionalização. O Programa tem se esforçado para aumentar a sua inserção internacional, principalmente através de projetos em colaboração com grupos estrangeiros. Entretanto, precisamos avançar mais nesta questão, a fim de podermos receber um maior contingente de estudantes estrangeiros no programa, que ainda é reduzido.

Qual o destino dos egressos?
Este é um acompanhamento muito difícil de fazer, mas até onde temos conseguido acompanhar, identificamos que uma grande parte dos mestres e doutores formados no PPGQ-UFF tem ido trabalhar na área acadêmica, seja nas universidades aqui do estado ou nos institutos federais. Os centros de pesquisa sediados aqui no Rio de Janeiro também tem absorvido uma parte destes egressos. É interessante notar também que temos recebido muitos estudantes que já trabalham nestes locais e vem ao PPGQ-UFF buscar uma melhoria nas suas formações.

Os alunos e orientadores costumam participar de eventos regionais ou nacionais científicos da SBQ?

Em geral, observamos uma participação expressiva de nossos discentes e docentes em eventos da SBQ, tanto em nível nacional como em nível regional. A nossa ligação com a SBQ é muito forte. O Prof. Vitor Ferreira já foi presidente da sociedade e hoje é conselheiro, assim como a Profa. Maria Vargas. Ambos têm anos de serviços prestados à SBQ. Entre os mais jovens, podemos citar o Prof. Fernando de Carvalho, que é tesoureiro adjunto da SBQ nacional, o Prof. David Rodrigues da Rocha que é o secretário da regional Rio de Janeiro e a Profa. Célia Ronconi que é diretora da divisão de Química de Materiais. Como você pode notar, nosso envolvimento com a SBQ é muito grande, não só no que diz respeito à participação em eventos promovidos pela sociedade, mas também no que diz respeito ao próprio funcionamento da mesma.


Cinco publicações relevantes

“Alumina supported bimetallic Pt–Fe catalysts applied to glycerol hydrogenolysis and aqueous phase reforming”, A.V.H. Soares, G. Perez, F.B. Passos, Applied Catalysis B: Environmental 2016, 185, 77-87.

“A Cobalt Pyrenylnitronylnitroxide Single-Chain Magnet with High Coercivity and Record Blocking Temperature”, M.G.F. Vaz, R.A. Allão, H. Akpinar, J.A. Schlueter, P.M. Lahti, M.A. Novak, Chemistry - A European Journal 2014, 20, 5460-5467.

“Insight into and Computational Studies of the Selective Synthesis of 6H-Dibenzo[b,h]xanthenes”, P.F. Carneiro, M.C.F.R. Pinto, R.K.F. Marra, V.R. Campos, J.A.L.C. Resende, M. Delarmelina, J.W.M. Carneiro, E.S. Lima, F.C. da Silva, V.F. Ferreira, The Journal of Organic Chemistry 2016, 81, 5525-5537.

“Determination of chloride in brazilian crude oils by ion chromatography after extraction induced by emulsion breaking”, N.F. Robaina, F.N. Feiteira, A.R. Cassella, R.J. Cassella, Journal of Chromatography 2016, 1458, 112-117.

“Interaction of the HIV NCp7 Protein with Platinum(II) and Gold(III) Complexes Containing Tridentate Ligands”, V.H.F. Bernardes, Y.Qu, Z. Du, J. Beaton, M.D. Vargas, N.P. Farrell,. Inorganic Chemistry 2016, 55, 11396-11407.


Texto: Mario Henrique Viana (Assessor de Imprensa da SBQ)








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