21/11/2019

BCNP celebra os pioneiros e os jovens da química dos produtos naturais

Evento da SBQ reuniu 531 participantes e especialistas de diversos países; na programação, sessões inéditas sobre jovens pesquisadores e empreendedorismo

Com a presença de mais de 530 participantes, o 7th BCNP (Brazilian Conference on Natural Products), realizado no Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro, foi ao mesmo tempo uma homenagem aos pioneiros desta área da química no Brasil e uma afirmação sobre o trabalho dos jovens pesquisadores em química dos produtos naturais.

A programação reuniu especialistas de 13 países, pesquisadores de todas as regiões do Brasil, jovens e com muitos anos de pesquisa, com trabalhos em dez sub-áreas da Química de Produtos Naturais. Apesar das atuais condições de penúria da Ciência Brasileira e consequentemente da falta de incentivo a eventos desta natureza, o 7th foi mesmo um sucesso.

A XXXIII RESEM (Reunião Anual sobre Ecologia, Sistemática e Evolução Micromoleculares) precedeu à abertura do BCNP e contou com a participação especial do professor Benjamin Gilbert, que falou sobre "O desenvolvimento da química de produtos naturais no Brasil". Químico inglês nascido em 1929, Gilbert chegou ao Brasil em 1958 para trabalhar como pesquisador visitante no antigo Instituto de Química Agrícola, no Rio de Janeiro, onde conheceu Otto Gottlieb (o patrono da QPN no Brasil, que dá nome à medalha com que a divisão científica da SBQ homenageia os feitos nessa área). Ficou no País, passou pelo antigo NPPN, hoje IPPN/UFRJ, pelo Grupo de Bioquímica do Instituto de Pesquisas da Marinha, e pela Fiocruz, entre outras instituições.

Professor Benjamin Gilbert, 90 anos, chegou ao Brasil em 1958, conheceu Otto Gottlieb e participou ativamente do desenvolvimento da Química de Produtos Naturais no Brasil

"O professor Gilbert é remanescente do grupo que deu origem à química de produtos naturais no Brasil – e a área de produtos naturais é o coração da nossa química", explica a professora Claudia Moraes de Rezende (UFRJ), coordenadora do evento. "Então foi muito bom fazer esse resgate da trajetória das pessoas que contribuíram para o início e o desenvolvimento da QPN no País."

Na conferência de abertura, a professora Suzana G. Leitão (UFRJ) falou sobre seus 10 anos de pesquisas com a saracura-mirá (Ampelozizyphus amazonicus Ducke), uma planta utilizada tradicionalmente por quilombolas de Oriximiná-PA. "Foi uma palestra muito bonita e emocionante, que exaltou a importância da cultura regional brasileira e das populações tradicionais, o respeito que devemos a elas e como podemos atrelar este vasto saber aos estudos de atividade biológica...", comenta a professora Claudia. "Uma palestra que reforça o grande potencial do Brasil em Produtos Naturais, dada a pujança dos nossos biomas."

Entre pesquisadores estrangeiros convidados, um dos destaques foi o Professor Ludger Wessjohann (Halle-Saale, Alemanha), que falou sobre a metabolômica, uma abordagem que permite desvendar novos princípios ativos sem passar por todos os processos clássicos laboriosos de separação e isolamento cromatográficos.

"Ele destacou a metabolômica reversa em combinação com a quimioinformática, associado aos ensaios de atividade biológica, como uma alternativa para se descobrir as substâncias bioativas presentes em uma determinada matriz proveniente de produto natural. Com esta metodologia, é possível descobrir qual substância, em uma mistura complexa, pode ser um potencial novo fármaco. Ele apresentou ainda exemplos da descoberta de compostos ativos como responsáveis por sabores, modificadores de sabor (intensificadores de doçura) e compostos neuroativos (para o aprimoramento cognitivo e de memória)", explica a professora Ivana Leal (UFRJ), participante do Comitê Organizador.

Uma das novidades no 7th BCNP foi a sessão Jovens Pesquisadores por Região, que reuniu doutores jovens do Amapá, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro, cada um apresentando suas pesquisas. "É algo inédito dentro dos eventos da SBQ, e muito importante tanto no sentido de incentivar a participação e representatividade da química em todas as regiões do País, quanto de expor jovens pesquisadores e pesquisadoras e seus trabalhos a seus pares", afirma a professora Claudia.

Outra sessão inédita neste 7th BCNP foi sobre Empreendedorismo, com palestras dos empreendedores Daniel W. Barreto, da Assessa, uma empresa de base científica, especializada no desenvolvimento e produção de ingredientes bioativos de alta eficácia para a indústria cosmética, e Thais Guaratini, da Lychnoflora, empresa de pesquisa e desenvolvimento baseada em química orgânica e analítica, que oferece serviços para segmentos industriais como farmacêutico, cosmético e alimentos. "São pesquisadores formados na academia e que empreenderam com sucesso e muita garra. Foram convidados ao evento para descrever sua trajetória. É fundamental darmos aos estudantes opções de carreira que não sejam somente a universidade", observa a professora Claudia. Um minicurso sobre empreendedorismo também foi oferecido aos participantes, entre os cinco minicursos oferecidos, outra novidade no BCNP.

O presidente da SBQ, professor Norberto Peporine Lopes (FCFRP-USP) participou de uma mesa-redonda com os ex-presidentes da SBQ, professores Vitor Ferreira (UFF) e Vanderlan Bolzani (Unesp) sobre os "Desafios à ciência no Brasil".

Ao término do 7th BCNP, a diretora da divisão de QPN, professora Maria Fátima Graças F. Silva (UFSCAR) e o tesoureiro, professor Emmanuel V. Costa (UFAM) entregaram as medalhas Otto Gottlieb a importantes personalidades da QPN brasileira, como as professoras Alaíde Braga de Oliveira (UFMG), Nídia Franca Roque (UFBA) e ao professor Massayoshi Yoshida (CBA). Na categoria jovens talentos, foi agraciado o professor Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida (UNIVASF). Em seguida, foram abertos os trabalhos para o 8º BCNP, que ocorrerá em Goiânia.

"Este evento foi extremamente importante para ressaltar, mais uma vez, o brilhantismo da pesquisa de Produtos Naturais no Brasil e no Mundo. Com a participação ativa de pesquisadores e estudantes em diversos níveis de formação, mostramos os desafios da ciência em nosso país e de como os jovens tem tido importante participação neste enfrentamento perante as condições atuais que vem passando a Educação, Ciência e Tecnologia no País. Falamos sobre o empreendedorismo no Brasil e das contínuas e produtivas colaborações com parceiros no exterior, tudo em prol do fortalecimento e avanço da química de produtos naturais", resume a professora Ivana, agradecendo ainda "à dedicação e ao empenho dos colegas da comissão organizadora e ao IME, que gentilmente nos cedeu suas instalações e nos acolheu".


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)