Balanço realizado por especialistas identifica que entre os vários níveis de ameaças para a continuidade da vida no planeta, da forma como a conhecemos, três já apresentam sinais de alarme. Mudar esse quadro implica em definições que vão além das soluções técnicas. A avaliação é do professor Arnaldo Alves Cardoso, livre docente do IQ da UNESP de Araraquara, palestrante da conferência “Química ambiental: entre o futuro desejável e o possível” apresentada no dia 29.
           Os três níveis relacionados por Alves Cardoso são: as mudanças climáticas globais, cujos efeitos já podem ser sentidos de forma clara em vários pontos do mundo, em acidentes ambientais; a perda da biodiversidade, cujos resultados são irreversíveis, e a disseminação dos fertilizantes, uma solução criativa que permitiu ao ser humano vencer a fome, mas trouxe a presença do nitrogênio em solos, águas, e na atmosfera. Hoje, o excesso de nitrogênio no ambiente provoca, por exemplo, crescimento incontrolável de algas que produzem toxinas afetando tanto a disponibilidade de pescados como de água potável.
           Existem muitas respostas em âmbito técnico para tentar corrigir aspectos desse quadro, considera o professor da UNESP. Mas elas são insuficientes frente ao modo de vida considerado ideal pelas populações dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. “Existe uma contradição” salienta, quando se considera que todos desejam ter automóveis potentes, consumir bens descartáveis ou manter um padrão de vida de alto consumo de energia e, ao mesmo tempo, assegurar esse padrão para as próximas gerações.
           Alves Cardoso relacionou as várias necessidades consideradas importantes pelo homem atual, separando três como fundamentais para a sobrevivência. Alimento, água potável e energia. O limite para crescimento da produção de tais insumos básicos, observa, mostra que estão próximos do esgotamento. A terra agriculturável deverá chegar ao final de sua extensão, a água potável torna-se um bem cada vez mais escasso nas grandes cidades, dada a contaminação dos rios e fontes, e a energia já é, há algum tempo, objeto de preocupação de governos e corporações quanto a seus limites. O impasse desemboca, portanto, em uma questão política ou de consciência das sociedades que as levará a fazer escolhas e decidir o que é, ou não necessário.