|
10/3/2011
Nota de Falecimento
Ciência brasileira perde Herbert Magalhães Alves
Faleceu na última quarta-feira, dia 2 de março de 2011, aos 82 anos, o professor Herbert Magalhães Alves, do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da UFMG.
Herbert Magalhães Alves, aluno das primeiras turmas do curso de Química da UFMG nos anos 1940, foi jornalista do Jornal do Povo à mesma época, e depois professor Assistente de Química Orgânica da Faculdade de Filosofia da UFMG nos anos 50. Passou o ano de 1953 no Istituto Superiore di Sanità, em Roma, colaborando com o cientista Daniel Bovet, que viria a receber o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1957, e que trabalhou com o veneno brasileiro curare e seus análogos. Herbert Magalhães Alves tornou-se professor catedrático de Química Orgânica pela Escola de Engenharia em 1961, aos 33 anos – o catedrático mais jovem da UFMG. Esteve em Sheffield, Inglaterra, nos anos 1964-1966, no laboratório do professor William David Ollis, desenvolvendo estudos sobre as avocatinas, substâncias isoladas da semente do abacate.
Herbert Magalhães Alves foi um dos pioneiros da pesquisa em Química na UFMG e um dos jovens expoentes nacionais da Química Orgânica, à época, na área da Fitoquímica. Foi ele quem tomou a iniciativa da implantação da pesquisa em Química Orgânica na UFMG e um dos responsáveis pela criação do curso de Pós-Graduação em Química na UFMG em 1967-1968. Como homem de visão, pelos seus contatos nacionais e internacionais, e respeitabilidade na área, foi o responsável pela vinda do prof. Otto R. Gottlieb à UFMG, para colaborar no desenvolvimento d a pesquisa em Química Orgânica.
Foi Diretor do Instituto de Química, Chefe do Departamento de Química, e um eterno curioso, que nunca deixou de se interessar pela imensa riqueza da Química. O falecimento do Professor Herbert entristece a todos aqueles que tiveram o privilégio de com ele conviver. Por vontade expressa do professor Herbert, seu corpo foi doado para a pesquisa na Faculdade de Medicina da UFMG.
A professora Dorila Piló Veloso expressou assim seus sentimentos diante da notícia do falecimento do professor Herbert: “Recebi de suas mãos dois laboratórios de pesquisa, quando regressei do meu doutorado na França e preservei, durante tantos anos, aquela gavetinha cheia de extratos de plantas, que ele deixara num dos laboratórios. Ele era um grande apaixonado pela flora brasileira. Também, quando ele se aposentou - e ainda tenho presentes os conselhos que me repassou na nossa última conversa entre professores do DQ - o substituí na disciplina Química Orgânica III. Deu-me um apoio imenso durante a ditadura e como outros pro fessores do DQ, naquela época, na calada da noite dos perigos, ajudou a preservar minha vida. Até hoje, com muito carinho, repasso para meus alunos, a famosa listinha das substâncias orgânicas que ele elaborou, contendo aquelas que os alunos deveriam saber "de cor", para poder fazer um bom uso na ligação da Química com o cotidiano da sociedade. "Nas regiões profundas, tudo é lei"... Chegou o momento do professor Herbert se apagar nesta vida. Mas como as plantinhas que ele tanto amou, atrás das frágeis ramas que se deixam observar sobre a terra, há raízes profundas que vão perenizar o futuro. Ele teceu, com imensa competência, as raízes do legado de que o Departamento de Química hoje usufrui na Química Orgânica e na Pós-Graduação”.
Fonte: Heloisa de Oliveira Beraldo (UFMG)
|
|