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05/10/2023



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EDITORIAL
Defesa da democracia: universidades e sociedades científicas em um momento de reflexão

Vanderlan da Silva Bolzani, Professora Titular do IQAr, UNESP, Araraquara, Membro do Conselho da SBQ e ACIESP, Coordenação de Química TWAS, Ex-Presidente da SBQ.

A iniciativa da SBPC de convidar as sociedades científicas para se manifestarem e ampliar o debate sobre democracia é louvável e desperta questões importantes, entre elas a do papel e responsabilidade das universidades públicas na sua relação com a sociedade.

Ampliar o debate sobre a importância da participação cidadã nas políticas de estado e, em especial, levar a discussão para o ambiente acadêmico é pensar também no país que queremos para o futuro. A discussão encabeçada pela SBPC evidencia ainda a valor das nossas universidades públicas, dos cientistas e sociedades científicas na sua relação com a sociedade.

Para situarmos o contexto geral, devemos lembrar que o governo anterior, de 2019 a 2022, penalizou inúmeros setores da sociedade. Em particular aqueles identificados com as causas populares, detendo-se com especial crueldade sobre as políticas públicas voltadas para redução da pobreza, proteção à saúde e para preservação do meio ambiente. Isso resultou em terrível violência contra milhões de pessoas e torna mais premente a necessidade de tentarmos entender tal processo.

Nesse cenário, a nós cabe pensar sobre a universidade, as sociedades representativas dos cientistas e o lugar que ocupam e seus compromissos. Vale também salientar o desprezo pelos investimentos destinadas à educação, ciência e tecnologia, fundamentais para fortalecimento da democracia.

As universidades constituem-se de espaços pluridisciplinares privilegiados de produção do conhecimento, onde se estimula o questionamento contínuo do saber e o confronto civilizado de opiniões divergentes. Para isso desfrutam, em tese, da autonomia que lhes assegura esse ambiente em um sistema democrático. A tradição secular das universidades foi moldada levando-se em conta que essa liberdade é essencial para produção plena da ciência.

As sociedades científicas são ambientes organizados por grupos de acadêmicos de áreas diversas do conhecimento, formados para discutir o estado-da-arte dos avanços científicos mundiais de forma elitizada, ou para aprimorá-los e torná-los mais acessíveis aos vários extratos sociais.

Dentro deste universo, em um primeiro momento fomos impelidos a indagar como um governo democraticamente eleito empenhou-se em atacar a autonomia das universidades e procurou cercear suas atividades por meio de sucessivos cortes de recursos? Outros governos eleitos de forma democrática voltarão a fazer o mesmo? Como imaginar um país soberano sem uma ciência de vanguarda em todos os campos? Decorre dessa questão indagar se nossas universidades vêm cumprindo sua parte na tarefa de lutar pelo fortalecimento da democracia no país; ou se têm se empenhado de forma efetiva para que docentes e alunos reconheçam claramente a importância que a instituição atribui à democracia. A realidade mostrou que não se trata de escolher uma alternativa entre várias. Os prejuízos registrados nesse curto período de quatro anos emitem mensagens claras sobre a necessidade de colocar a tarefa de valorização da democracia no topo das prioridades não apenas das universitárias e sociedades científicas, mas de todos os seguimentos sociais do país.

Parte dessa preocupação está sendo expressa em dezenas de seminários, workshops e palestras que vêm ocorrendo nas universidades brasileiras sobre o tema democracia. Em geral, eles partem das áreas de conhecimento especializadas, como a Ciência Política, Sociologia, Direito e Filosofia. Uma questão relevante é saber se a universidade pode ultrapassar o âmbito do espaço acadêmico na tarefa de disseminar os valores democráticos e quais são os melhores caminhos para fazê-lo. Seriam as Sociedades cientificas? Atualmente existem mais de 170 instituições vigentes, sendo esse um ambiente ideal para discussões de temas importantes para o país, incluindo democracia.

Devemos considerar também que um fator decisivo no processo de erosão da democracia é o "esquecimento" do passado. Muitos brasileiros que se encantaram e se encantam com o discurso simplista e obtuso das vozes autoritárias foram levados a "não lembrar" que o país já viveu um período de vinte anos de ditadura. As perdas de direitos políticos, a violação dos direitos humanos pelo Estado e a supressão da liberdade de expressão, não ficaram suficientemente marcadas na mente coletiva.

Aqui, também, podemos refletir se as universidades têm feito sua parte e se empenhado para evitar esse esquecimento e a deformação do passado, componentes de um projeto que serviu para estimular o autoritarismo.

Como a realidade mundial tem mostrado, esse é hoje um dos principais desafios enfrentados pelos países em pleno século XXI: construir uma mentalidade que atribua à democracia um valor soberano, para que ela não seja objeto de atenção apenas quando é suprimida ou está nas mãos de articuladores autoritários. A democracia é trabalho e ação coletiva de universidades, sociedades científicas, docentes, pesquisadores e estudantes.





O Boletim Eletrônico da SBQ é um informativo oficial da Sociedade Brasileira de Química
Editor: Prof. Luiz Gonzaga de França Lopes
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