10/3/2011
Mulheres, senso e sensibilidade construindo um futuro melhor
Dia Internacional da Mulher, 8 de março
É animador ver a participação crescente da mulher em vários setores da sociedade atual. Em especial o desempenho das mulheres que atuam nas chamadas “ciências duras,” ou hard sciences, sempre considerado um universo masculino, em todas as épocas. É bastante animador observar nos índices estatísticos nacionais e internacionais um aumento crescente da produção cientifica feminina, nas últimas décadas, como uma maior inserção em cargos e postos tradicionalmente ocupados por homens.
A ciência e tecnologia sempre foram territórios de domínio majoritariamente masculino. A ciência, surgida nos séculos XV, XVI e XVII, registrou eventos importantes e ricos, principalmente as descobertas experimentais que abriram caminho para a compreensão do Universo, culminando na ciência que conhecemos hoje. Muitos destes eventos, incluindo os ocorridos no século XVII, marcaram uma longa trajetória de luta das mulheres que se aventuravam em um mundo de homens, tentando conquistar um lugar mais equilibrado entre os gêneros, pelo papel que desempenha como mulher, mãe e profissional em um mundo em constante mudança. Hoje em dia, o papel da mulher profissional, pesquisadora ou não, é fundamental para o desenvolvimento social e econômico do país, constituindo-se numa força de trabalho ativa, em setores estratégicos: da universidade aos institutos de pesquisa, das empresas de serviços às de base tecnológica e de produção, a mulher constrói uma nova dimensão social em todos os cantos do mundo.
No mundo científico, o percurso feminino foi longo e doloroso. Numa viagem através dos séculos as conquistas científicas das mulheres não foram muitas, quando comparadas aos seus parceiros de gênero. Dentro deste universo científico, impossível não mencionar a polonesa Marie Sklodowka Curie, que teve negada uma cadeira na Academia de Ciências da França, por ser mulher. Marie Curie, cientista disciplinada e brilhante, foi a primeira mulher a conquistar um Prêmio Nobel, o de Física, dividido com seu marido Pierre Curie, pelas descobertas dos elementos polônio e rádio, em parceria com Henri Becquerel. Esta eminente cientista aparecia para o mundo da época como uma assistente do marido, foi recompensada, logo a seguir, por ser vencedora do 11º Prêmio Nobel de Química, outorgado em 1911, por suas pesquisas sobre a radioatividade. Única cientista até hoje a receber esta menção duas vezes, sua trajetória profissional foi reconhecida pela UNESCO e IUPAC, que decretou 2011, centenário da sua premiação, o Ano Internacional da Química, tornando-se um símbolo da Química, o mundo celebra em 2011 os grandes feitos desta ciência para o desenvolvimento humano.
Particularizando para o nosso universo, dados estatísticos recentes, divulgados pelo último censo do CNPq, são bastante representativos da força feminina na ciência brasileira, demonstrando cada vez mais as conquistas da mulher nos meios acadêmico e tecnológico nacional. Dos 104 mil pesquisadores cadastrados em 22.797 grupos de pesquisa, 49% são mulheres, representando um avanço bastante animador, se comparamos com o senso de 1993, em que a participação da mulher era 39%. Mas não é para se exaltar! Quando a leitura é sobre coordenadores de grupos de pesquisa, o percentual cai para 45%, enfatizando o dado a que me referi no início deste texto. Este dado é muito interessante, principalmente quando se analisa várias áreas do conhecimento e se vislumbra um momento bastante favorável do desenvolvimento cientifíco e tecnológico no Brasil. Num país onde a mulher pesquisadora começa a despontar na ciência, o número de pesquisadoras nível 1A do CNPq é infinitamente menor que o de homens, dado estendido também para a Academia Brasileira de Ciências, onde as mulheres são minoria. Os traços culturais do Brasil são um componente forte na questão de gênero e ainda assistimos inúmeras descriminações sobre a força de trabalho da mulher, panorama que vislumbra mudanças substanciais. Desde a implantação de um governo republicano federativo no Brasil, ocorrido em 15 de novembro de 1889, em substituição ao antigo regime imperial, assistimos em 2010, a ascensão de uma mulher ao cargo máximo, a presidência do Brasil.
As conquistas femininas são evidentes, hoje, e não ficam restritas às pesquisadoras em si. Nos dias que correm as mulheres vão galgando espaços cada vez mais competitivos em todas as atividades. Liderando com menos vaidade e mais sensibilidade, as mulheres vão conquistando seu merecido espaço na sociedade moderna. Na verdade queremos contribuir de forma efetiva para a construção de um mundo melhor, mais digno, justo e humano.
Fonte: Vanderlan da S. Bolzani (UNESP, SBQ)
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