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27/10/2011
Itens verdes avançam no portfólio da Akzo Nobel
Por Celia Rosemblum | De Amsterdam - Valor Econômico
O currículo do CEO da Akzo Nobel, Hans Wijers, soma muitas facetas. Formado pela Universidade de Groningene, professor-assistente de economia da Universidade Erasmus de Roterdã, na Holanda, ele foi ministro de Assuntos Econômicos do governo holandês e consultor sênior de diferentes empresas. Concilia hoje seu cargo com uma diretoria não executiva da Royal Dutch Shell, a presidência da Oranje Fonds e da Ubbo Emmius Fund Foundation da Universidade de Groningen.
Wijers foi o principal dirigente do WWF na Holanda, e também integrante do conselho internacional da entidade durante quatro anos. Da experiência, gostou particularmente de fechar o primeiro acordo entre uma ONG e uma empresa holandesa, no caso de energia, para a adoção de práticas mais sustentáveis. "Foi possível ver a força da marca WWF."
Nos nove anos em que está à frente da fabricante de tintas, revestimentos e produtos químicos especializados - que teve em 2010 faturamento de € 14,6 bilhões, lucro líquido de € 800 milhões e soma 55,59 mil funcionários -, ele reorganizou a empresa e seu foco de negócios, pautou novas estratégias para os mercados em rápido crescimento e está agora empenhado em revigorar a marca. Também deu ênfase aos aspectos relacionados à sustentabilidade nas operações, produtos e estratégia - como conta abaixo, em trechos da entrevista que concedeu ao Valor.
Valor: Como a sustentabilidade passou a ser um tema de interesse da Akzo Nobel?
Hans Wijers : Meus predecessores sempre estiveram muito atentos às grandes tendências de longo prazo no mundo, em como poderíamos antecipá-las, preparar nossa companhia para esse tipo de desenvolvimento. Se pensarmos a questão demográfica mundial, o desenvolvimento dos mercados emergentes e o que isso significará para o uso de água, de energia, de qualquer matéria-prima, para a qualidade da vida, precisamos tomar consciência sobre o que acontecerá neste mundo. Teremos mais de 1 bilhão de pessoas, basicamente nas próximas décadas, entrando em uma situação de renda média e eles, com direito, irão reivindicar um estilo de vida comparável ao das últimas décadas na Europa e na América do Norte. Isso nos dá várias oportunidades, mas também traz questões com as quais teremos de lidar. É possível posicionar nossa empresa de forma que ela forneça produtos e soluções para desafios desse tipo e, fazendo isso, podemos fazer nossa empresa crescer e colocá-la em posição de liderança? Com essa visão, a sustentabilidade precisa ser parte integral da definição de estratégias.
Valor: Como isso se traduz nas rotinas da empresa?
Wijers : Gastamos mais de 60% de nossos investimentos em P&D [cerca de € 350 milhões] em questões relacionadas à sustentabilidade, em como podemos reduzir nossa pegada de carbono, desenvolver processos em que não haja desperdício de água, dar a nossas atividades um nível de segurança que faça com que nunca ocorram acidentes na empresa. Podemos ajudar nossos clientes a serem mais sustentáveis a partir da compra de nossos produtos? Foi por isso que desenvolvemos tintas para aviões que os tornam mais leves, coberturas em pó para veículos comerciais que reduzem o desperdício em 30% na comparação com outras aplicações. É por isso que desenvolvemos tintas "arquitetônicas" que, em áreas como o Brasil, se aplicadas na parte externa da casa reduzem os custos de refrigeração. Há muitos exemplos. Para nós é bom porque se convencemos o cliente que temos esses produtos, eles estão dispostos a pagar um prêmio. É bom para ambos os lados. Não somos uma ONG, somos uma empresa, temos que ter lucro.
Valor: Mas os consumidores realmente estão dispostos a pagar um preço premium por esses produtos?
Wijers : O interessante é que, embora existam exceções, produtos sustentáveis o diferenciam da concorrência. Se temos um produto que dá mais funcionalidade, reduz custos ou garante mais valor ao consumidor deles, eles estão totalmente dispostos a dividir parte desse lucro. Eles querem trabalhar conosco porque seus clientes também querem esse tipo de produto.
Valor: É mais difícil para uma companhia química ser sustentável do que para uma de outro setor?
Wijers : Existe uma questão muito interessante de percepção. Se olharmos o que algumas empresas químicas estão fazendo, elas desenvolvem produtos, moléculas que os ajudam a ser mais sustentáveis. Desenvolvemos ingredientes para plásticos ou para material de embalagem que se tornam então completamente recicláveis, do berço ao berço. Existem pesquisas em andamento que mostram que os trabalhos de algumas empresas químicas de ponta estão permitindo que a sociedade torne-se mais sustentável. Mas eu noto que isso contraria a percepção em relação às empresas químicas.
Valor: É possível reverter essa percepção?
Wijers : Eu sei que há muito tempo e dinheiro gastos pela indústria na tentativa de fazer isso, de educar estudantes, jornalistas, o grande público e isso não é muito bem sucedido porque as percepções não mudam tanto. Provavelmente teremos que enfatizar a formação de professores nas escolas, porque eu vi aqui, nesse país, por exemplo, como os professores dos meus filhos se referiam à indústria e isso mostrava claramente que eles não eram tão bem formados... É um desafio, mas a realidade é que se eu olho em volta, companhias pares como a Basf, Dow, DuPont, DSM investem muito em sustentabilidade, elas têm alguns dos processos mais limpos, muito de suas pesquisas estão na realidade criando as estruturas para uma sociedade mais sustentável. Deveríamos ser mais explícitos em relação a isso e não tão defensivos. O problema é que em um setor, às vezes os piores decidem a imagem de todos. Por isso os governos são importantes: eles deveriam impor padrões ambientais estritos, mas também assegurar que todos estejam em conformidade.
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