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28/10/2010


Tendências mundiais de CT&I e busca por sustentabilidade precisam nortear ensino

          Conhecer as mudanças vividas pela indústria mundial nas últimas décadas e situar o atual potencial do país em relação às demais economias pode ser um caminho para delinear qual o melhor perfil do profissional de química no futuro. Ao alinhar um conjunto de fatos relevantes, a partir do início do século passado, Fernando Galembeck, professor e pesquisador do Instituto de Química da Unicamp e membro do Conselho Consultivo da SBQ, convidou os participantes do 6º Encontro de Coordenadores dos Cursos de Graduação a refletir sobre eles para que interagissem com o tema de sua palestra: “O Profissional do Futuro”. O evento aconteceu durante os dias 18 e 19 de outubro, no Conselho Regional de Química, de São Paulo.
          Competência. Qual é o químico que precisamos no Brasil?, indagou o palestrante. Entre os fatores que pesam nas respostas está o reconhecimento das áreas onde o país conquistou competência e se mostra bem sucedido, como as indústrias de alimentos, de petróleo, equipamentos de transporte, metal mecânica e de produtos químicos. Outro fator a ser levado em conta é a importância de satisfazer necessidades locais não atendidas pelos fornecedores internacionais de tecnologia.
          Galembeck observou que o país vive um momento sem precedentes, com a perspectiva de tornar-se um dos maiores produtores de petróleo, ao mesmo tempo em que se afirma como o principal produtor de combustíveis derivados da biomassa. Recuperando a evolução mundial dos anos recentes, notou que, ao contrário de algumas previsões enunciadas, os países ricos não exportaram suas indústrias químicas para os parques industriais dos países menos desenvolvidos. Hoje, a produção da indústria química mundial, um negócio de US$ 3,7 trilhões por ano, está presente mais do que nunca no PIB das principais economias, como os EUA, Japão, China, Alemanha, França e Reino Unido. Um dos sinais que mostra a evolução vivida por esses países está no desaparecimento das chaminés, imagem emblemática da indústria do século passado. Elas deram lugar a unidades fabris com um novo perfil, com novas técnicas de produção e rígido controle de qualidade, voltados à proteção do meio ambiente e empenhados na sustentabilidade.
          Hierarquias. No caso do Brasil, ao mesmo tempo em que o país apresenta ótimas condições para ocupar um lugar de destaque na indústria mundial, convive com limitações no que se refere à formação de profissionais especializados, entre eles os químicos. Um ponto de partida para mudar esse quadro é reconhecer a necessidade de que ciência deve ser ensinada desde o início da escolarização. O país mantém, além disso, um sistema educacional muito desigual no ensino médio e superior, às vezes com componentes curriculares desconexos; não dispõe de informações sobre o destino dos egressos dos cursos de graduação e não estimula o domínio do inglês, ferramenta básica para ter acesso ao conhecimento.
          Contribuir para o sucesso desse químico dos próximos anos implica, no momento atual, também, em questionar conceitos cristalizados sobre a forma de ensinar ciência. É preciso contestar hierarquias de conteúdo que hoje são aceitas naturalmente, ponderou, e abandonar a visão reducionista de ciência que induz à rigidez e à falta de reflexão. A formação do profissional do futuro precisará ser capaz de responder às demandas atuais das empresas com competências amplas e visão abrangente. Para cumprir seu papel não poderá abrir mão, entretanto, de um forte compromisso com o aprendizado e domínio dos conteúdos de química, assinalou.


Diversidade e evolução devem sustentar a formação profissional

          As causas que limitam um melhor desenvolvimento do ensino no país já foram bastante debatidas e analisadas nos últimos anos. Cabe, agora, aos profissionais da educação empenhar-se na busca de novos caminhos para conseguir avanços nesse quadro. O conjunto de possibilidades que se abre aos interessados em participar do processo de mudança pode incluir, por exemplo, a utilização das ferramentas recentes de tecnologia da informação, como os mecanismos de busca da internet ou as redes sociais. Mas, independente do instrumento, o que deve orientar a mudança é a incorporação da mentalidade que acione o impulso criativo do estudante. Essa visão foi ampliada pela palestra “A formação do profissional em Química: as exigências da modernidade”, apresentada por Luiz Carlos Gomide Freitas, do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos durante o 6º Encontro de Coordenadores de Cursos de Graduação em Química.
          Termodinâmica. Com base em modelo da termodinâmica, Gomide definiu ‘civilização’ com “um mínimo em uma superfície de Energia Livre x Tempo”. O sucesso de uma civilização, avalia, “está relacionado com a incorporação de atitudes que contribuam para manter e aprofundar o mínimo de potencial, para o qual a educação é fundamental”.
          Listou o que considera serem os antecedentes históricos para explicar, na educação e em outras áreas, o “engessamento do processo criativo”: i) passado escravocrata, que moldou o conceito de ‘dono do tempo e da vontade do outro’, ao que atribui a vocação para cursos longos e detalhados. O nome “grade curricular” é um ato falho para a falta de liberdade de escolha; ii) argumentou que a formação positivista da ‘direita’ e marxista da ‘esquerda’ coincidem na proposição da ‘ordem’ como necessária para o ‘progresso’. O exagero na procura da ordem moldou uma sociedade pouco afeita à diversidade de opiniões e gestão. Na educação, considera, esta característica é traduzida no exagero de normatizações. Como conseqüência, analisa que qualidade (da formação) e quantidade (de estudantes) seguem o comportamento análogo à lei de Boyle: o aumento de uma variável implica no decréscimo da outra.
          Google. Gomide colocou-se diante da questão sugerida pelo título da palestra, de saber quais são as habilidades necessárias ao profissional do futuro. E avaliou ser impossível ter respostas precisas para a pergunta, dada a diversidade de interesses e a complexidade cultural e tecnológica atual. Das gravuras rupestres ao Google, observou, a tendência é a disponibilização crescente da informação. Assim, a melhor forma de aparelhar o estudante para esse futuro é contribuir para que ele incorpore de forma efetiva o modo de pensar cientifico, um aprendizado consistente de conceitos básicos, formação ética e cultura geral. Com esses recursos ele dispõe do lastro para ser bem sucedido nas escolhas científicas da carreira e também conta com a base intelectual para ser um cidadão participante. Gomide sugeriu, no âmbito dessa mudança, que a divisa “ordem e progresso” seja substituída por “diversidade e evolução”, com o objetivo de estimular a criatividade e a busca de respostas para além dos padrões estabelecidos.



Fonte: Carlos Martins (Assessoria de Imprensa da SBQ)




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