24/4/2014
Qualidade de publicações cientÃficas volta ser questionada
Tema é discutido em reportagem no boletim da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
Publicações cientÃficas, até mesmo as mais bem conceituadas, não investem em ciência, na avaliação do Nobel Randy Schekman. Segundo ele, as publicações cientÃficas estão ficando medÃocres, já que os estudos realizados são apenas aqueles em que os pesquisadores já sabem a resposta e que serão manchete nas revistas, conforme matéria publicada na Forbes.
Para o Dr. Isaac Roitman, doutor em Ciências (Microbiologia), professor emérito da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e da Universidade de BrasÃlia (UnB), não dá para afirmar que as publicações cientÃficas estão ficando medÃocres. "Ocorre é que a grande maioria das publicações cientÃficas não traz uma contribuição significativa ao conhecimento, isto é, não provocam saltos no conhecimento em uma determinada área", explica ao atentar que, como o número de publicações tem aumentado muito, nas últimas décadas, consequentemente, aquelas que causam impacto são raras.
Na opinião do Dr. Roitman, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a declaração do nobelista para deixar de publicar nas revistas Science, Nature e Cell, é uma provocação para que a comunidade cientÃfica possa refletir sobre a métrica e o real valor da atividade cientÃfica. "A publicação de um trabalho em uma revista de prestÃgio como as citadas, não deve ser um indicador único da avaliação de um cientista. Nem todos os trabalhos publicados nessas revistas de grande prestÃgio são trabalhos que contribuem para a ampliação do saber", assinala ao salientar que é importante reverter a tendência em transformar revistas cientÃficas em empreendimentos comerciais, como aponta Schekman, em detrimento da verdadeira missão de divulgação do desenvolvimento cientÃfico.
Publicações alternativas
Como alternativa, Schekman defende a publicação em revistas de livre acesso na internet, sem fins lucrativos. A sugestão para Dr. Roitman é válida. "Creio que estamos em um momento de transição e que no futuro todos os avanços da ciência serão feitos via meios eletrônicos de livre acesso. É importante também destacar que muitos trabalhos que causam grande impacto em uma determinada área, são publicados em revistas que não são glamorosas como Science, Nature ou Cell", lembra.
Estimulo à reflexão
"O impacto das declarações de Schekman certamente fará com que a comunidade cientÃfica nacional e internacional reflita melhor sobre a real missão da ciência, que não deve estar voltada para a obtenção de galardões para os cientistas, mas sim contribuir para o saber e melhorar a qualidade de vida de toda espécie humana, ajudando a construir um clima de verdadeira justiça social entre os homens", aponta Dr. Roitman ao realçar que no Brasil esse tipo de reflexão é oportuno. Para ele, é importante a formação de uma nova geração de cientistas que possa colaborar para que a sociedade possa ser beneficiada pelos avanços cientÃficos e tecnológicos.
Na análise do doutor em Ciências, os debates induzidos pela declaração revisitam os critérios de avaliação das agências de fomento e das instituições acadêmicas brasileiras. "É importante considerar que antes das declarações de Schekman a temática da avaliação da produção cientÃfica tem sido questionada no Brasil e no exterior. Um exemplo é a manifestação lançada em dezembro de 2012, pela American Society for Cell Biology (ASCB) intitulada The San Franscisco Declaration on Research Assessment (Dora), que sugere a eliminação do fator de impacto nas revistas cientÃficas e a necessidade de avaliar a pesquisa pelo mérito e não pelo veÃculo onde os resultados foram divulgados" revela Dr. Roitman ao destacar que o documento também sugere o estÃmulo à divulgação onlineonde não haveria necessidade de limitação de palavras, figuras e referências bibliográficas.
Métrica compromete resultados
Uma das consequências da métrica instituÃda para avaliar da produção cientÃfica, isto é, a produção quantitativa de publicações, pressiona o pesquisador a obter respostas de curto prazo, conforme assegura Dr. Isaac Roitman. Ele observa que essa cultura induz ao aumento de plágios e consórcios para o aumento de publicações.
O membro titular da ABC não crê que existam perguntas sem respostas. "O que há são perguntas cujas respostas demandam muito esforço e tempo. O pesquisador realmente criativo deve trabalhar sem a pressão do publish or perich", ressalta ao defender que o tempo é uma dimensão que deve ser livre para o verdadeiro pesquisador criativo como ocorre nas artes.
"O verdadeiro cientista é aquele que formula perguntas pertinentes dentro de sua área de conhecimento e persegue as respostas para essas perguntas", conclui Dr. Roitman.
Fonte: Ascom SBMT
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