05/02/2015
Érico e a Química que garante a qualidade dos produtos e processos
Professor da UFSM fará conferência na 38ª. RASBQ sobre os avanços da Química Analítica no Brasil
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"Não é possível o desenvolvimento de qualquer nação sem uma indústria forte e competitiva. Para isto são necessários profissionais, tanto para atuarem na área de formação de recursos humanos em todos os níveis, assim como nas atividades industriais de operação e de desenvolvimento e inovação. Isto somente pode ser atingido com um número expressivo de jovens com boa formação científica e com incentivo à pesquisa e inovação."
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Da próxima vez que você degustar uma boa macarronada, acompanhada de um vinho ou mesmo de um saudável copo de água mineral, que tal fazer um brinde à química analítica? Afinal ela é responsável direta pela boa qualidade de tudo que consumimos.
"Este controle é vital para que produtos, industrializados ou não, estejam adequados para o uso e consumo humano. Em vista de suas peculiaridades, o controle de qualidade de alguns produtos precisa ser mais rigoroso, como é o caso de alimentos, produtos farmacêuticos ou, mesmo, análises clínicas e toxicológicas. A Química Analítica desempenha um papel importantíssimo para o controle de qualidade de alimentos, e o desenvolvimento de métodos analíticos ainda é um dos desafios atuais considerando-se os requisitos de qualidade cada vez mais restritivos", explica o professor Érico Marlon de Moraes Flores, da Universidade Federal de Santa Maria, conferencista da 38ª. Reunião Anual da SBQ, a ser realizada em maio, em Águas de Lindóia.
Sua conferência irá muito além do controle de qualidade de produtos, e abordará recentes avanços da Química Analítica no Brasil para o desenvolvimento de métodos adequados aos requisitos modernos, bem como as principais tendências na área de preparo de amostras, como o uso de métodos que envolvam menor consumo de reagentes e a consequente diminuição de efluentes gerados. O uso de energias não convencionais, como ultrassom e micro-ondas, será abordado, assim como sua aplicação em química analítica e para a intensificação de processos industriais.
Érico é graduado e mestre pela UFSM, doutor em Engenharia de Minas, Metalúrgica e dos Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997). É professor da Universidade Federal de Santa Maria (desde 1991), membro Titular da Farmacopéia Brasileira (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, Brasília, desde 2002). É também editor do Journal of Analytical Atomic Spectrometry (RSC), possuindo mais de 200 artigos publicados em periódicos internacionais e editor de livro da Elsevier sobre Preparo de Amostras com o Uso de Radiação Micro-ondas. É o atual Diretor Científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e membro do Comitê Assessor de Química do CNPq.
O professor Érico conversou com o Boletim da SBQ:
Quais avanços têm sido obtidos na Química Analítica e como eles refletem na atividade industrial?
Há muitos avanços e de grande diversidade em todas as áreas da Química Analítica. Atualmente, são desenvolvidos novos métodos com diversas vantagens em termos de melhor detectabilidade e seletividade. Isto tem sido observado nas áreas de espectroanalítica, cromatografia, eletroanalítica, instrumentação e sensores, que tem sido mais e mais requisitadas. Este desenvolvimento possui um impacto direto e positivo na atividade industrial, pois permite a obtenção de dados de maneira mais rápida e confiável, resultando em grande economia dos processos industriais. Outro aspecto relevante se refere ao uso de métodos adequados aos princípios da Química Verde que pressupõe, entre outros aspectos, a utilização de menor volume e concentração de reagentes e, consequentemente, menor geração de resíduos laboratoriais (e menor necessidade de seu tratamento antes de sua disposição final).
Como avalia as condições para pesquisa científica no Brasil?
A pesquisa e o desenvolvimento científico no Brasil nunca se depararam com condições tão boas quanto as atuais. Obviamente, ainda não estamos na condição em que alguns países mais desenvolvidos se encontram, mas ao se considerar as mudanças na última década, é impossível não reconhecer os avanços alcançados. Isto é devido ao grande volume de investimentos em ciência e tecnologia no Brasil, como a duplicação das unidades universitárias existentes (o que, em si,não é pouco), o incentivo à formação de recursos humanos em nível de graduação e de pós-graduação e o programa Ciência sem Fronteiras que investiu fortemente na formação e internacionalização de alunos universitários em todos os níveis, apenas para citar alguns poucos exemplos.
Isto resultou em um ambiente fértil para a pesquisa científica no Brasil, especialmente nas regiões menos desenvolvidas e com histórico fraco de pesquisa científica de qualidade. Atualmente, podem-se encontrar grupos de pesquisa qualificados em todas as regiões de nosso país e não mais restritos a poucas regiões mais industrializadas, o que facilita e induz a interdisciplinaridade e o intercâmbio científico, aspectos essenciais para uma pesquisa de qualidade em nosso país.
O setor industrial e a universidade estão próximos ou distantes no Brasil?
Este é um aspecto que precisa de uma mudança de paradigma pois, embora avanços possam ser observados no tocante à interação universidade e indústria, estes ainda são muito pequenos e nada comparáveis aos de países desenvolvidos.
Uma das grandes dificuldades é o convencimento dos pesquisadores da necessidade de pesquisas mais aplicadas (evidentemente, nunca em detrimento da pesquisa básica), que atendam às demandas da indústria e que incentivem empresários a procurar as universidades para desenvolver ou aprimorar seus produtos ou processos. Para isso, é necessário maior incentivo de programas de apoio a projetos de pesquisa apoiados por empresas e que tentem minimizar as limitações existentes.
Por outro lado, a indústria brasileira, com poucas exceções, ainda é, basicamente, uma indústria de transformação e não de inovação. Certamente, isso decorre da baixa inserção de doutores nos quadros profissionais da indústria brasileira. Este panorama vem sendo alterado com a incorporação desses profissionais e com a mudança para uma maior aceitação das atividades de pesquisa nas empresas brasileiras, principalmente naquelas de maior aporte tecnológico.
Como surgiu seu interesse pela Química?
Minha curiosidade pela química surgiu, ainda criança, quando tive contato com um mini-laboratório químico que era muito comum na década de 70 nas lojas de brinquedos infantis. A execução de reações químicas, mesmo básicas, despertou meu interesse pela química que se tornou mais consolidada durante o ensino médio. Durante minha graduação em Química Industrial na Universidade Federal de Santa Maria eu me sentia fascinado pela química e sua importância para o mundo em que vivemos, de modo que nunca tive dúvidas de que havia feito a escolha profissional correta.
Por que os jovens devem ser estimulados a ingressar em carreiras científicas?
Minha opinião é que não é possível o desenvolvimento de qualquer nação sem uma indústria forte e competitiva. Para isto são necessários profissionais, tanto para atuarem na área de formação de recursos humanos em todos os níveis, assim como nas atividades industriais de operação e de desenvolvimento e inovação. Isto somente pode ser atingido com um número expressivo de jovens com boa formação científica e com incentivo à pesquisa e inovação. Do contrário, nosso país terá muitas dificuldades para ultrapassar o nível de mero exportador de "commodities" em detrimento de produtos industrializados.
Quase tão importante para atingir este objetivo é uma maior conscientização dos jovens da situação geopolítica atual e maior conhecimento dos interesses, nacionais e internacionais, envolvendo as reservas de petróleo, gás natural, carvão, minérios (muitos deles imprescindíveis para produtos de alta tecnologia), assim como de nosso patrimônio da biodiversidade e dos sistemas hídricos existentes no Brasil.
Artigos sugeridos
“Determination of halogens in coal after digestion using microwave-induced combustion technique”, E. M. M. Flores, M. F. Mesko, D. P. Moraes, J. S. F. Pereira, P. A. Mello, J. S. Barin, G. Knapp, Analytical Chemistry 2008, 80, 1865.
“Determination of Trace Elements in Fluoropolymers after Microwave-Induced Combustion”, E. M. M. Flores, E. I. Muller, F. A. Duarte, P. Grinberg, R. E. Sturgeon, Analytical Chemistry 2013, 85, 374.
“Focused microwave-induced combustion for digestion of botanical samples and metals determination by ICP OES and ICP-MS”, J. S. Barin, J. S. F. Pereira, P. A. Mello, C. L. Knorr, D. P. Moraes, M. F. Mesko, J. A. Nóbrega, M. G. A. Korn, E. M. M. Flores, Talanta 2012, 94, 308.
“Microwave-induced combustion of crude oil for further rare earthelements determination by USN-ICP-MS”, J. S. F. Pereira, L. S. F. Pereira, P. A. Mello, R. C. L. Guimarães, R. A. Guarnieri, T. C. O. Fonseca, E. M. M. Flores, Analytica Chimica Acta 2014, 844, 8.
“Determination of metal impurities in carbon nanotubes by direct solid sampling electrothermal atomic absorption spectrometry”, P. A. Mello, L. F. Rodrigues, M. A. G. Nunes, J. C. P. Mattos, V. L. Dressler, E. M. M. Flores, Journal of the Brazilian Chemical Society 2011,22, 1040.
Livro sugerido
Flores, Érico M. M. Microwave-Assisted Sample Preparation for Trace Element Determination.1. ed. Amsterdam, The Netherlands: Elsevier, 2014. v. 1. 400p.
A 38ª Reunião Anual da SBQ será no Hotel Monte Real, Águas de Lindóia, SP de segunda, 25/maio/2015 a quinta, 28/maio/2015. Para detalhes do evento, visite: http://www.sbq.org.br/38ra/
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Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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