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30/04/2015



Simpósio reúne cientistas para debater aplicação da ciência na educação


Pesquisadores nacionais e internacionais apresentarão resultados de pesquisa e debates com objetivo de fomentar novas práticas e políticas educacionais

Como a ciência pode ajudar na educação? Diferentes repostas a esta pergunta serão oferecidas no Simpósio Internacional sobre Ciência para Educação (International Symposium on Science for Education), que ocorre nos dias 5 e 6 de julho no Rio de Janeiro, como evento satélite do Congresso Mundial do Cérebro (IBRO 2015). Na ocasião, pesquisadores nacionais e internacionais de diferentes áreas da ciência vão se reunir para apresentar resultados de pesquisa que podem ter impacto na compreensão do aprendizado humano e refletir como esse conhecimento pode ser aplicado na melhoria da educação.

O evento é uma iniciativa da Rede Nacional de Ciência para a Educação (Rede CpE) com apoio do Instituto Ayrton Senna e da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos (NSF). Criada em novembro do ano passado, a Rede CpE tem por objetivo justamente estimular e realizar pesquisas científicas que possam dar lastro a novas práticas e políticas educacionais.

Na programação do simpósio estão previstas palestras sobre variados temas ligados ao aprendizado sob uma ótica científica. Serão discutidos assuntos como o desenvolvimento cerebral na infância, o impacto do meio social nas habilidades cognitivas, a capacidade do cérebro de se remodelar, os mecanismos biológicos da memória, o impacto da música e da arte no ensino e o papel das novas tecnologias na educação.

Entre os grandes nomes do evento está a neurocientista Patricia Kuhl (Washington University, EUA), internacionalmente reconhecida por sua pesquisa sobre aprendizado e aquisição de linguagem em bebês. Outro pesquisador de peso é o neurocientista Sidarta Ribeiro (Instituto do Cérebro, Universidade Federal do Rio Grande do Norte) que vai falar sobre a relação entre biologia e psicologia na educação. Na área de tecnologias na educação, um dos destaques é a bióloga Daphne Bavelier (Rochester University, EUA) que vai apresentar uma palestra sobre os videogames como ferramentas de aprendizado.

Segundo um dos organizadores do evento e fundador da Rede CpE, o neurocientista Roberto Lent da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), um dos principais objetivos do simpósio é estabelecer o diálogo entre os pesquisadores que estudam temas relacionados à educação, os educadores e os tomadores de decisão. "Embora sejam realizadas pesquisas de ponta em várias áreas do conhecimento, existe uma desarticulação entre o que se produz na academia e as políticas de educação", diz Lent. "A nossa intenção é superar essa barreira através da Rede CpE e de encontros como este."

O pesquisador acredita que o simpósio é um passo importante para elevar o patamar das discussões sobre educação no Brasil. "Os países mais desenvolvidos estão avançados nas aplicações da ciência sobre as práticas educacionais", diz. "Não basta resolvermos as questões mais básicas da educação brasileira, como salários dos professores e tempo integral para os alunos, temos que estar na vanguarda da criação de práticas educacionais que otimizem a educação em todas as suas formas."

Confira em detalhes as áreas abordadas no simpósio:

Desenvolvimento cerebral e aprendizado na infância

Humanos aprendem mais até os cinco anos de idade do que em qualquer outra fase da vida. Nesse período inicial, se estabelece uma base crítica para o aprendizado na escola e na vida como um todo. Os avanços na ciência nos permitem hoje usar uma série de tecnologias para desvendar como estes processos ocorrem no cérebro. Ressonâncias e eletroencefalogramas podem ser usadas em crianças para evidenciar o desenvolvimento da estrutura e das funções cerebrais. Essas ferramentas dão aos cientistas uma oportunidade única de analisar as relações entre cérebro e comportamento em estudos longitudinais em humanos. Os palestrantes do simpósio vão abordar os mais recentes estudos nesta área e as possibilidades de aplicação dos resultados na educação.

Neuroplasticidade: como o cérebro é modificado pelo ambiente

Muitos estudos mostram que a interface entre o ambiente interno e externo durante o desenvolvimento cerebral pode resultar em grandes mudanças no conectoma, o conjunto de conexões neurais do nosso cérebro. As mudanças mais significativas ocorrem logo após o nascimento, causando grandes alterações na forma das células cerebrais, o surgimento de novas conexões e a expansão do mapa sensorial cerebral. Ao longo da vida, as conexões cerebrais também sofrem mudanças morfológicas e funcionais como expressão do aprendizado e da memória. Durante o evento, as apresentações vão focar nesses diferentes fenômenos da neuroplasticidade cerebral.

Arte e educação

A ciência tem mostrado cada vez mais que a prática de música, dança e atividades que envolvem ritmo e ações em grupos têm efeito na cognição e no comportamento emocional. Resultados de pesquisa apontam que as habilidades artísticas e cognitivas estão intimamente ligadas no cérebro humano. As apresentações sobre este tema vão expor trabalhos que analisam os efeitos da experiência musical e artística no cérebro e na aprendizagem.

Tecnologia para educação

Fora e dentro da escola, a tecnologia está mudando o modo como aprendemos em todas as idades. Com a expansão do uso de ferramentas digitais para comunicação, aprendizado e criação, existe a necessidade de entender como essas tecnologias podem ser aproveitadas para a melhoria da educação, especialmente em crianças. Os palestrantes vão focar no uso das novas tecnologias e no seu impacto no aprendizado, trazendo resultados de estudos sobre o tema e exemplos de aplicações práticas.

Cérebro, estresse e aprendizado

O ambiente social tem um grande impacto no aprendizado, podendo aumentar ou diminuir o desenvolvimento de habilidades cognitivas. Crianças que vivem em famílias com reduzidas oportunidades de aprendizado mostram maior dificuldade de atingir um nível de aprendizado satisfatório em linguagem e outras habilidades, bem como impactos emocionais que vão muito além da cognição. As apresentações sobre esse assunto vão focar nos efeitos positivos e negativos do meio social no aprendizado e nas relações entre status socioeconômico e sucesso no aprendizado.


Fonte: Jornal da Ciência
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