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14/05/2015



O fascinante mundo da Química encontra o maravilhoso mundo da Arte


Simpósio na 38ª. RASBQ traz químicos para debate sobre a função da ciência na compreensão, preservação e restauro

O que têm em comum todas as obras de arte existentes, como a Última Ceia, de Da Vinci, as esculturas de Aleijadinho, e mesmo a pré-histórica escultura de uma mulher encontrada no sítio arqueológico de Vestonice, na República Checa? Acertou quem pensou na Química. Ela sempre fez parte da arte. Talvez tenha sido o conhecimento primordial – ainda que intuitivo há 20 mil anos ou mais – que possibilitou o surgimento das tintas e materiais moldáveis, como a terracota, o bronze e tantos outros mais modernos. E é responsável por ainda hoje termos a oportunidade de ver as obras antigas exatamente como foram criadas.

 

Professora Maria Conceição Soares Meneses Lage: "A importância que damos para entender a vida é antiga e o homem sempre procurou um meio de se comunicar com o sobrenatural a fim de encontrar tais explicações. Para isso se preparava, pintava o corpo e depois passou a pintar os ossos de seus mortos em rituais e também as paredes dos abrigos e grutas. Tal fato os levou a buscar as fontes de matéria-prima que forneciam as melhores tintas, pelas cores, e aos poucos foram descobrindo a melhor maneira de prepará-las."

A relação entre Química e Arte será tema de simpósio na 38ª. Reunião Anual da SBQ, que será realizada neste mês, em Águas de Lindóia-SP. Participam do debate, coordenado pelo Prof. Aldo Zarbin (UFPR, presidente sucessor da SBQ), químicos que exercem diferentes funções ligadas à arte: João Cura D'Ars de Figueiredo Junior, da Escola de Belas Artes da UFMG, Dalva Lúcia Araujo de Faria, do Instituto de Química da USP e Maria Conceição Soares Meneses Lage, do Centro de Ciências da Natureza da UFPI.

 

Professor João Cura D'Ars de Figueiredo Junior: "O químico no Brasil pode atuar em três campos ligados à conservação-restauração: ensino, restauro e pesquisa."

"O mote da 38ª. RASBQ é o Ano Internacional da Luz, e a ideia deste simpósio é trazer diferentes visões sobre a importância na Química no mundo das artes, como um todo", conta o professor Zarbin. "Procuramos trazer visões distintas e complementares de químicos que atuam em pesquisas ligadas à compreensão e à conservação de obras de arte", explica.

O professor Cura D'Ars é especialista em conservação e restauro de quadros e esculturas. A professora Dalva Lucia também atua na conservação, com foco em espectrometria e na compreensão da interação dos vários pigmentos entre si e com o meio-ambiente. E a professora Maria Conceição pesquisa as pinturas rupestres, especificamente nos sítios da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato-PI.

 

Professora Dalva Lúcia Araujo de Faria: "A Química ligada à arte é uma linha de pesquisa fascinante, de alto caráter transdisciplinar, que evidencia o protagonismo da Química em um vasto número de campos do conhecimento."

No IQ-USP, a professora Dalva Lúcia e seu grupo de pesquisadores procuram verificar como os materiais pictóricos presentes em uma obra artística ou um bem cultural interagem entre si e com o ambiente no qual se encontram. E entender como ocorrem determinados processos de degradação desses bens e quais os fatores que os afetam. "É uma linha de pesquisa fascinante, de alto caráter transdisciplinar, que evidencia o protagonismo da Química em um vasto número de campos do conhecimento", observa.

Em Belo Horizonte, o professor Cura D'Ars, por sua vez, atua em processos de limpeza de obras de arte em metal. "Com o auxílio de meus estudantes de pesquisa, já trabalhamos com ditiocarbamatos e aminoácidos de modo a removerem seletivamente produtos de corrosão em obras de arte em bronze e prata assim como no uso destes compostos como inibidores de corrosão", descreve. "Além desses estudos, também trabalhamos com nanopartículas de hidróxido de cálcio em processos de desacidificação de obras em papel e solventes nanoemulsionados para a remoção e limpeza de pinturas acrílicas."

Já no Piauí, a professora Maria Conceição tem décadas de dedicação à pesquisa envolvendo Química e Arte Rupestre. "Nos anos 1980, na época de minha tese, fiz análises utilizando técnicas não-destrutivas, que foram principalmente a espectroscopia de fluorescência de raios X e a microscopia eletrônica de varredura. Hoje, em um projeto de pós-doutorado, faço análises utilizando as mesmas amostras, por outras técnicas analíticas (fluorescência de raios X portátil, espectroscopia Raman e espectroscopia Mössbauer - MIMOS II)", conta. "O principal avanço nestes últimos anos é o aparecimento dos equipamentos portáteis para análises in situ, que dispensam amostragens, ou seja, intervenções na arte rupestre, evitando-se acelerar os processos de degradação da pintura rupestre. Os resultados obtidos com esses equipamentos são muito alentadores."

Uma pergunta para os Químicos da Arte

Como foi o processo histórico de desenvolvimento de substâncias para pigmentos?
Profa. Dalva Lúcia: Essa é uma longa história e remonta aos homens primitivos que usavam minerais mais comuns como óxidos de ferro e manganês, além de carvão vegetal ou animal para se expressar, disso surgindo a arte rupestre; no Brasil temos sítios arqueológicos magníficos em termos dessa e de outras expressões artísticas.

Depois disso, outros minerais foram sendo incorporados, como sais de cobre (azurita e malaquita, por exemplo), sulfeto de mercúrio, sais de arsênio e assim por diante. Data de cerca de 3000 anos AC a síntese de um pigmento inorgânico sintético preparado pelos egípcios (azul do Egito) feito aquecendo areia, carbonato de cálcio e cal; esse foi provavelmente o primeiro pigmento sintético produzido pelo homem e, curiosamente, na mesma época era feito também na China com a diferença que para a produção do azul da China (ou azul de Han) usava-se carbonato de bário e não o de cálcio.

A extração de corantes (solúveis em água, ao contrário dos pigmentos) de plantas e insetos também já era conhecida há bastante tempo e o melhor exemplo no primeiro caso talvez seja o índigo, ao passo que no segundo o púrpura tíria – extraído de alguns tipos de moluscos – e o cochonilha, corante vermelho extraído do inseto que tem o mesmo nome.

A necessidade de substituir alguns pigmentos muito caros, como o lapis lazuli (utramar) fez com que se buscassem substitutos sintéticos e o azul da Prússia (hexacianoferrato férrico) foi o primeiro pigmento sintético moderno (início do século XVIII). A partir daí, o outro marco importante foi a síntese da malveína por Perkin, na Inglaterra, na metade do século XIX; esse corante foi produzido por acaso em uma tentativa de sintetizar quinina, uma substância antimalárica. A partir daí houve uma explosão na quantidade de corantes orgânicos sintéticos, alguns presentes também em alimentos.

Como acredita que o homem descobriu o manejo dos pigmentos?
Profa. Maria Conceição:
Acredito que a ação de pintar tenha ligação com o sagrado. A importância que damos para entender a vida é antiga e o homem sempre procurou um meio de se comunicar com o sobrenatural a fim de encontrar tais explicações. Para isso se preparava, pintava o corpo e depois passou a pintar os ossos de seus mortos em rituais e também as paredes dos abrigos e grutas. Tal fato os levou a buscar as fontes de matéria-prima que forneciam as melhores tintas, pelas cores, e aos poucos foram descobrindo a melhor maneira de prepará-las. Parece terem observado, por exemplo, que a tinta expressava colorações mais intensas e a camada do pigmento era mais resistente quando se retirava a porção arenosa (cristais de quartzo) das argilas. Pudemos encontrar, em escavações arqueológicas, material preparado para se obter o pigmento colorido, sem cristais de quartzo. É possível que, por hipótese, tenha-se misturado o pigmento a uma substância orgânica para servir de ligante ou aglutinante, que fornecesse melhor plasticidade na aplicação sobre o suporte rochoso. Surpreendentemente, não encontramos, em nossas pesquisas, até o momento, nada que confirmasse esse modelo. Talvez ainda possamos descobrir, por análises químicas com técnicas mais adequadas, quimicamente mais precisas, a tais análises.

A profissão de restaurador é um bom campo de trabalho para químicos no Brasil?
Prof. Cura D'Ars: Sim. Sinceramente há mais oportunidades fora do Brasil já que o reconhecimento da profissão de Conservador-Restaurador é comum em outros países e infelizmente ainda não é no Brasil. Mas é aqui onde nós químicos somos mais necessários. Além dessa profissão ser relativamente nova, quando comparada a outras profissões, no Brasil, há um grande esforço de diversos profissionais pela correta salvaguarda do nosso patrimônio cultural. O químico no Brasil pode atuar em três campos ligados à conservação-restauração: ensino, restauro e pesquisa.

No ensino, temos vários cursos técnicos e superiores em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo etc. Os restauradores precisam ter um conhecimento adequado dos materiais com que trabalham e o químico é responsável por lhes passar este ensino de forma acessível.

No restauro, os museus e galerias são os bons locais de trabalho, mas há também vários grupos profissionais de restauradores que desenvolvem a restauração em obras públicas e particulares. Nesta área os químicos podem atuar através da análise de materiais em obras de arte para auxiliar na escolha de um solvente adequado para limpeza ou remoção de vernizes; conhecer o estado de deterioração de uma obra e entender porque ele aconteceu; no trabalho em museus e galerias ajudando no acondicionamento de obras de arte e na aplicação de materiais de restauro que sejam compatíveis e adequados para a obra.

Na pesquisa, principalmente em universidades, temos o químico atuando como faria em qualquer área aplicada como engenharia, saúde etc: desenvolvendo novos materiais adaptados às necessidades das obras de arte. É uma área em expansão e carente do auxílio de químicos já que muitos restauradores possuem dificuldades com esta ciência. A interdisciplinaridade na conservação e restauração não é uma formalidade: é algo que faz parte da sua própria natureza devido à sua complexidade.


A 38ª Reunião Anual da SBQ será no Hotel Monte Real, Águas de Lindóia, SP de segunda, 25/maio/2015 a quinta, 28/maio/2015. Para detalhes do evento, visite: http://www.sbq.org.br/38ra/

Curta a página da 38ª RA e acompanhe as novidades do evento! Convide também seus amigos. Juntos, faremos uma grande reunião anual!


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)








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