Antonio Claudio Tedesco é um dos pioneiros da terapia fotodinâmica no Brasil. Professor da USP em Ribeirão Preto, ele coordena o Centro de Nanotecnologia, Engenharia Tecidual e Fotoprocessos Voltados à Saúde onde desenvolveu, entre outras novidades um creme para tratamento do câncer de pele não-melanoma, que é ativado pela luz. Ele será um dos conferencistas da 39ª. Reunião Anual da SBQ, que será realizada em Goiânia de 30 de maio a 2 de junho de 2016. Abordará “Nanotecnologia e fotoprocessos no tratamento de patologias e medicina regenerativa”.
“Acredito que a nanotecnologia aplicada à saúde seja uma das áreas que mais têm se beneficiado dos avanços das nanociências”, declarou ao Boletim da SBQ. “Hoje não só conseguimos acompanhar e mapear processos celulares e diagnósticos precoces como, também desenhar e desenvolver sistemas de veiculação altamente inteligentes e direcionados, alvos específicos, que permitem abordar e tratar doenças como câncer, doenças neurodegenerativas e programar regeneração tecidual. Uma combinação perfeita entre o uso de alvos e sua veiculação ou ativação especifica.”
Tedesco é Químico e fez doutorado em Fotoquímica Orgânica, pela USP. Depois foi estudar Fotobiologia e Fotomedicina em Harvard. Algum tempo depois mudou-se para Paris onde estudou Engenharia Tecidual. Publicou mais de 170 artigos em periódicos especializados e apresentou mais de 85 conferências, simpósios em seminários nacionais e internacionais. Tem quatro capítulos de livros publicados e possui 18 produtos tecnológicos.
O professor Antonio Claudio Tedesco concedeu a seguinte entrevista ao Boletim da SBQ:
Suas pesquisas mais recentes abordam nanossistemas terapêuticos para o Sistema Nervoso Central, pulmão e câncer de útero. Como a nanotecnologia está revolucionando a medicina?
Bem, acredito que a nanotecnologia aplicada à saúde seja uma das áreas que mais têm se beneficiado dos avanços das nanociências. Hoje não só conseguimos acompanhar e mapear processos celulares e diagnósticos precoces como, também desenhar e desenvolver sistemas de veiculação altamente inteligentes e direcionados, alvos específicos, que permitem abordar e tratar doenças como câncer, doenças neurodegenerativas e programar regeneração tecidual. Uma combinação perfeita entre o uso de alvos e sua veiculação ou ativação especifica. Há muito se fazia nanociência, porem faltavam ferramentas como os microscópios de alta resolução para poder acompanhar e mapear melhor o problema
Qual a distância entre conquistas realizadas em laboratório e o dia-a-dia das pessoas?
Não fossem os problemas com a transferência de tecnologia e as agências reguladoras, muita coisa já poderia estar disponível à sociedade. As descobertas mais recentes estão próximas disto. Porém nos vemos rodeados de sistemas e processos altamente complicados, um total desinteresse em políticas públicas de saúde que permitam que os novos medicamentos e sistemas de tratamento e diagnóstico cheguem a quem precisa, uma corrida contra o tempo. Para atrasar ainda mais este processo, muitas doenças são negligenciadas pela margem de lucro pequena entre o custo de desenvolvimento e o retorno, o que dificulta ainda mais a parceria. Trabalho arduamente há mais de 10 anos buscando parceiros, secretarias estaduais de saúde, órgãos governamentais de saúde pública, sem sucesso. Infelizmente, esta a realidade: um conjunto de patentes em um banco a procura de interessados, enquanto nos outros países ocorre o contrário.
Quais os fatores que mais impulsionam a pesquisa científica no Brasil e quais os fatores que atravancam o setor?
Até meados do ano passado, vivíamos um mar de glórias. Bons projetos e novas tecnologias tiveram anos dourados desde 2000. Muito investimento, grandes projetos em rede, apoio das agencias de fomento. Mas desde meados de 2014, o corte começou a afetar os projetos, que também sofreram com o menor interesse por parte dos investidores, e a burocracia para tramitação dos processos e convênios dentro das próprias instituições onde são desenvolvidos. O pesquisador precisa hoje agir com muito cuidado para que o dinheiro que ele conseguiu com tanto esforço seja usado dentro do prazo e atenda a uma burocracia infindável e que possa finalmente permitir que o mesmo adquira as coisas que julga necessário para o desenvolvimento do projeto. Embora as universidades e os departamentos responsáveis digam que o processo está se desburocratizando, na prática a realidade é outra. Enfim quem tem a oportunidade de receber recursos e fazer uma pesquisa de ponta deve nadar contra a correnteza e progredir sempre. Tive a oportunidade de participar de um congresso em Junho passado em Boston, MA que foi altamente motivador. Vislumbrei o futuro da pesquisa para o século 22. Engenharia Tecidual e Organ-on-Chip, são temas que vão fazer a diferença e revolucionar as pesquisa na área da saúde. O que devemos fazer e navegar nestas águas...
É preciso trazer mais jovens para as carreiras científicas? Como fazer isso?
Sim sempre. Os jovens são os motores do futuro que se aproxima. Nosso ciclo se fecha, e cabe aos jovens pesquisadores vislumbrarem o que vimos há muito tempo atrás num passado não muito distante, numa realidade diferente da que vivemos atualmente. Não falo agora, neste momento de crise, quando todos têm mais a reclamar do que agradecer, mas em tempos normais, quando tudo caminha bem. Nestes tempos se temos uma ideia nova e arrojada e a desenvolvemos certamente ira produzir algo inovador e que irá trazer um benefício a todos. A melhor maneira de tê-los por perto é estimulá-los a desenvolver pesquisa de ponta, temas novos e de importância para todos e para o País. Biodiversidade, saúde, novos ativos, ou fotoativos, engenharia tecidual, etc, são temas que certamente farão a diferença.
Como foi a sua trajetória rumo ao mundo da Ciência (e da Química em particular)?
Me graduei em Química e fiz meu mestrado em Fotoquímica Orgânica. No doutorado, fiz Físico-Química Orgânica e, no fim deste trabalho, decidi que deveria mudar, criar algo novo.
Fui em busca da Fotobiologia e da Fotomedicina no pós-doutoramento. Havia muita coisa para aprender em pouco tempo e trazer ao final deste tempo, algo de novo para casa depois de dois anos em Boston. Voltei, e na FFCLRP criei um grupo e uma linha de pesquisa nova. Tive o privilégio de ser acolhido logo que entrei na USP pelo meu antigo orientador de mestrado, Prof. João B S Bonilha. Sempre busquei a multidisciplinaridade, na Química, na Física, na Medicina,e na Farmácia. Em 2004 tive a oportunidade de dar outro grande salto: fui aprender sobre engenharia de tecidos e medicina regenerativa na França, na Universidade de Paris V, hoje um tema mais comum a todos. Voltei da França e obtive auxílio financeiro para montar a estrutura de trabalho, que resultou no Centro de Nanotecnologia e Engenharia de Tecidos da FFCLRP. Mais recentemente fui buscar apoio para desenvolver uma estrutura de produção de fármacos e ativos em uma plataforma escalonada, buscando facilidade na transferência de tecnologia da bancada para possíveis parceiros e para a sociedade.
O que há de mais fascinante na fotoquímica?
Luz é vida, é literalmente um estímulo. A possibilidade de poder usá-la para modular respostas biológicas, ativar compostos, induzir processos oxidativos e muito mais é fascinante. Encontra aplicação no campo da medicina, do meio ambiente, de vários setores acadêmicos e industriais. Acho que os Fotoprocessos podem ser aplicados a diferentes áreas das ciências, com excelentes resultados.
O que espera de sua participação na 39ª RASBQ?
Espero uma troca de experiência muito boa entre a minha história de pesquisa e os jovens que lá estarão. Que todos possam ser entusiastas como eu sempre fui e sou, e que possam perceber que mesmo em tempos difíceis (isto acontece em ondas) sempre é possível ter boas ideias ter uma boa formação e fazer diferença.
Artigos sugeridos
“Combination of hyperthermia and photodynamic therapy on mesenchymal stem cell line treated with chloroaluminum phthalocyanine magnetic-nanoemulsion”, L.B. de Paula, F.L. Primo, M.R. Pinto, P.C. Morais, A.C. Tedesco, J Magn Magn Mater 2015, 380, 372-376.
“Gelled oil particles: A new approach to encapsulate a hydrophobic metallophthalocyanine”, M.P. Siqueira-Moura, S. Franceschi-Messant, M. Blanzat, M.I. Re, E. Perez, I. Rico-Lattes, et al, J Colloid Interf Sci 2013, 401, 155-160.
“Combining photobiology and nanobiotechnology: a step towards improving medical protocols based on advanced biological modelsare”, F.L. Primo, A.C. Tedesco, Nanomedicine-UK 2013, 8, 513-515.
“Magnetic nanoemulsions as drug delivery system for Foscan (R): Skin permeation and retention in vitro assays for topical application in photodynamic therapy (PDT) of skin cancer”, F.L. Primo, L. Michieleto, M.A.M. Rodrigues, P.P. Macaroff, P.C. Morais, Z.G.M. Lacava, et al, J Magn Magn Mater 2007, 311, 354-357.
“Synergic photosensitizers: A new trend in photodynamic therapy”, C.N. Lunardi, A.C. Tedesco, Curr Org Chem 2005, 9, 813-821.
Para saber mais:
Vídeo sobre o Centro de Nanotecnologia
http://sites.ffclrp.usp.br/nanotecnologiafomed/gallery/2015-CNET-O-que-e-o-Centro-de-Pesquisa.mp4
Homepage do Centro de Nanotecnologia
http://sites.ffclrp.usp.br/nanotecnologiafomed/
A 39ª Reunião Anual da SBQ será no Centro de Convenções de Goiânia, de 30 de maio a 2 de junho de 2016.
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Texto: Mario Henrique Viana (Assessor de imprensa da SBQ)