03/03/2016

Os dilemas da luz visível na 39ª Reunião Anual da SBQ

Professor Maurício da Silva Baptista fará conferência sobre suas descobertas nos impactos da luz visível à saúde humana

A maioria dos estudos sobre os efeitos dos raios solares sobre a pele preocupa-se apenas com os raios ultra-violeta. O professor Maurício da Silva Baptista , do IQ-USP, pesquisador CEPID Redoxoma em Biomedicina e do NAP-Phototec, ao contrário, tem dedicado seus quase 20 anos de pesquisa a entender os efeitos da luz visível.

Professor Baptista, do IQ-USP: "Nós procuramos entender como a luz visível afeta a pele: em que condições e com quais consequências. Agora é preciso descobrir estratégias de proteção, porque os filtros solares existentes só protegem contra os efeitos do UV."

Ao mesmo tempo em que ela é fundamental à vida e possibilita uma série de processos como a fotossíntese ou mesmo a visão, ela apresenta um risco à saúde humana.

É este o tema de sua conferência "O lado escuro e o lado claro da luz visível", que será realizada dia 1 de junho, em Goiânia, durante a 39ª. Reunião Anual da SBQ.

Com sua equipe no Laboratório de Fotobioquímica, o professor Baptista demonstrou que a luz visível, ao interagir com a melanina, pode causar danos no material genético (DNA), proteínas e membranas das células. Ela pode até iniciar um processo cancerígeno.

"Nós procuramos entender como a luz visível afeta a pele: em que condições e com quais consequências. Agora é preciso descobrir estratégias de proteção, porque os filtros solares existentes só protegem contra os efeitos do UV. Buscamos cromóforos que possam ser sintetizados para funções terapêuticas específicas", afirmou o professor Baptista ao Boletim da SBQ.

Leia a íntegra da entrevista do professor Maurício da Silva Baptista :

Quais as principais conquistas do seu grupo de pesquisa nos últimos anos?
Gostaria de citar as três principais conquistas:
Em primeiro lugar, demonstramos que a melanina (polímero natural sintetizado para proteger a pele contra os efeitos da luz UVB), sob exposição a luz visível, gera oxigênio singlete e causa danos em membranas e DNA nuclear. A consequência disso é que as pessoas devem evitar exposições prolongadasao sol, mesmo se estiverem usando filtros solares que protegem contra UV.
Também desenvolvemos novos fotossensibilizadores (funcionam como fármacos ativados por luz) com performance melhorada baseados em moléculas orgânicas, inorgânicas e nanomateriais.
E por fim desenvolvemos novos protocolos clínicos para o tratamento de enfermidades diversas, dando ênfase para o tratamento do pé diabético nos últimos anos.

Qual a distância que separa suas conquistas da produção industrial das novas terapias?
Temos mantido contato constante com especialistas trabalhando em indústrias e hospitais. Mantemos parceria com a empresa do ramo cosmético Farma-Service Bioextract. Desenvolvemos também trabalho em parceria com hospitais, valendo ressaltar o trabalho com o médico Dr. João Paulo Tardivo no tratamento do pé diabético no Hospital Anchieta vinculado à FM-ABC.

Como é possível estimular mais jovens a seguir carreiras científicas?
Estimular desde cedo o prazer por aprender e ensinar, que no meu entender são as atividades básicas de um pesquisador professor.

Quais os desafios que um cientista enfrenta diariamente no seu trabalho, no Brasil?
Para um grupo de pesquisa consolidado no Brasil, o principal desafio continua sendo a falta de agilidade no uso de recursos para pesquisa. As dificuldades vão desde as regras de importação até a impossibilidade de ter pesquisadores associados. Para os pesquisadores que estão começando, as restrições orçamentárias impostas pela crise atual devem dificultar o desenvolvimento de grupos competitivos internacionalmente.

Artigos sugeridos

“Influence of Negatively Charged Interfaces on the Ground and Excited State Properties of Methylene Blue”, D. Severino, H. C. Junqueira, D. S. Gabrielli, M. Gugliotti, M. S. Baptista, Photochem.Photobiol. 2003, 77, 459.

“Binding, aggregation and photochemical properties of methylene blue in mitochondrial suspensions”, D. Gabrieli, E. Belisle, D. Severino, A. J. Kowaltowski, M. S. Baptista, Photochem.Photobiol. 2004, 79, 227.

“Methylene Blue in Photodynamic Therapy: From Basic Mechanisms to Clinical Applications, Photodyagnosis and Photodynamic Therapy”, J.P. Tardivo, A. Del Giglio, C. S. Oliveira, D. S. Gabrielli, H. C. Junqueira, D. B. Tada, D. Severino, R. Turchiello, M. S. Baptista, Photodyagnosis and Photodynamic Therapy 2005, 2, 175-191.

“Melanin Photosensitization and the Effect of Visible Light on Epithelial Cells”, O. Chiarelli­Neto, A. S. Ferreira, W. K. Martins, C. Pavani, D. Severino, F. Faiaoflores, S. S. Engler, E. Aliprandini, G. R. Martine, P. Mascio, M. H. Medeiros, M.S. Baptista,  Plos One 2014, 9, e113266­.

“Marked Improvement in Photoinduced Cell Death by a New Tris­Heteroleptic Complex with Dual Action: Singlet Oxygen Sensitization and Ligand Dissociation”, B. A. Albani, B. Peña, N. Leed, N. A. B. G. de Paula, C. Pavani, M. S. Baptista, K. R. Dunbar, C. Turro, Journal of the American Chemical Society  2014, 136,  17095-­17101.

Para saber mais:

Matéria publicada pela Agência Fapesp

Vídeo sobre as pesquisas do Laboratório de Fotobioquímica

A 39ª Reunião Anual da SBQ será no Centro de Convenções de Goiânia, de 30 de maio a 2 de junho de 2016.

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Texto: Mario Henrique Viana, assessor de imprensa da SBQ