.: Notícias :.
Boletim Eletrônico Nº 1433

DESTAQUES:


Siga o

da SBQ



Logotipo
Visite a QNInt





capaJBCS



capaQN



capaQnesc



capaRVQ


   Notícias | Eventos | Oportunidades | Receba o Boletim | Faça a sua divulgação | Twitter | Home | SBQ



08/10/2020



O papel do pós-doc na Ciência


JP-SBQ mobiliza-se para sensibilizar a comunidade e autoridades quanto à importância destes pesquisadores para a ciência

A política de crescimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil vem sendo ameaçada por conta de reajustes fiscais e redirecionamento de financiamentos. Desde 2014, elos distintos da cadeia de ensino e pesquisa vem sendo diretamente afetados por cortes. No primeiro semestre deste ano, os pós-doutorandos entraram na lista de vítimas, com o anúncio pela CAPES da suspensão da prorrogação das bolsas do PNPD (Programa Nacional de Pós-Doutoramento).

Coreia é o País que mais investe em P&D em relação ao PIB (clique na imagem para ampliá-la)

O núcleo de Jovens Pesquisadores da SBQ, juntamente com uma iniciativa da SBPMat, está engajado na defesa das bolsas de pós-doc e promoverá até o final do ano um esforço de comunicação e sensibilização da opinião pública para este tema. "É um assunto que nos preocupa e estaremos firmes nessa luta", afirma Alan Pilon (FCFRP-USP), membro ativo do JP-SBQ.

Políticas de investimentos em P&D estão diretamente ligadas a formação de recursos humanos e o financiamento público, através de recursos federais, é a sua principal fonte. Para se ter uma ideia, o país teve um crescimento de aproximadamente 600% na formação de doutores entre 1999 (3915 doutores) e 2016 (22894 doutores). Embora sejam números importantes, o mercado nacional e universidades não acompanharam tal crescimento e a grande maioria destes profissionais altamente especializados continuam sem emprego. Neste sentido, as agências de fomento como CAPES, CNPq e as FAPs, que são as principais agências que fomentam a formação de mestres e doutores, possuem programas para também se investir em pós-doutores afim de promover o desenvolvimento científico do país, bem como estabelecer uma ponte entre o doutoramento e o trabalho permanente.

Para se ter uma ideia, no ano de 2000 havia apenas 20 bolsas de pós-doc da CAPES. Com os investimentos realizados na primeira década do Século 21, esse número saltou para 2.734 em 2010 e chegou ao pico de 7.486 em 2015. No entanto, no ano passado, havia 6.237 bolsas e a expectativa de queda se torna mais forte com a suspensão do PNPD.

O Instituto de Química da UNESP, em Araraquara, teve uma média de 70 pós-docs por ano nos últimos dez anos, mas esse número despencou para 42 este ano. "Dos nossos pós-docs, seis têm bolsas CAPES e vamos perder três deles no final do ano", alerta o professor Arnaldo Cardoso, coordenador do PPGQ local que tem nota máxima na avaliação da CAPES. "Estamos vivendo uma situação trágica. Este ano, pela primeira vez na nossa história, não temos novas bolsas de mestrado e doutorado no meio do ano", lamenta o professor.

No modelo brasileiro – e de vários países – o pós-doutorando funciona como uma espécie de polinizador da ciência. Isso porque ele vem de um grupo onde fez seu doutorado, e preferencialmente passa a integrar um novo grupo, possivelmente em outra região, onde promoverá um intercâmbio de conhecimento que beneficia todas as partes envolvidas. "Essa atividade de nucleação dos pós-docs é muito importante", avalia o professor Cardoso. "E se você cortar essa possibilidade, você vai inutilizar todo o investimento feito nos últimos anos em lugares do Brasil em que não havia produção científica, e hoje há. E de qualidade."

Adriano dos Santos (IQ-UNESP): "Sinto que essa possibilidade de participar de grupos diversos, tanto na ciência fundamental como na aplicação, foram muito importantes na minha trajetória e percebo que acabaram beneficiando os grupos por onde passei."

Adriano dos Santos é um polinizador. O químico formado pela UNESP tem o objetivo pessoal de fixar-se em uma universidade, montar seu grupo de pesquisa na área de biosenssores, lecionar e fazer ciência. Depois de fazer parte seu doutorado em Oxford, venceu o Prêmio CAPES de Teses 2018. Voltou à Inglaterra como pós-doutorando (PNPD) research and development scientist da empresa Osler Diagnostics, no desenvolvimento de novas plataformas portáteis e de baixo custo para a quantificação de biomarcadores de interesse clínico. Retornou à UNESP via a bolsa ganha no Prêmio CAPES para trabalhar no desenvolvimento de glycoarrays eletroquímicos, bem como no estudo das propriedades eletroquímicas de interfaces eletroativas com potenciais aplicações em biossensores.

"Sinto que essa possibilidade de participar de grupos diversos, tanto na ciência fundamental como na aplicação, foram muito importantes na minha trajetória e percebo que acabaram beneficiando os grupos por onde passei", reflete o jovem pesquisador. "Agora estou em vias de entregar meu relatório e solicitei uma nova bolsa... alguns amigos conseguiram colocação na indústria, mas sabemos que são poucas vagas perto do grande número de doutores que temos. Outros mudaram-se para o exterior, o que acho ruim para o Brasil. Eu vou mesmo resistir até conseguir entrar em uma universidade."

Alan Pilon (FCFRP-USP e JP-SBQ): "Eu gostaria que todos os pós-doutorandos, especialmente aqueles em fase final da bolsa, entrem em contato com o JP-SBQ e façam parte dessa rede. Precisamos mobilizar a sociedade, a comunidade científica e as autoridades e mostrar a importância dessas bolsas para a vida de todos os brasileiros."

Arnaldo Cardoso aponta a necessidade basilar de fortalecer a universidade para tirar o País de um ciclo vicioso. "Temos pouco apoio à ciência, uma indústria baseada em commodities (baixo valor agregado), pobreza, necessidades de ajustes econômicos que arrocham ainda mais as universidades.... fica até difícil falar em futuro", critica.

Os dados do MCTI mostram que o Brasil já investiu 1,34% do seu PIB em 2015, comparados aos 1,27% em 2017. Embora os investimentos em P&D, nas últimas duas décadas, mostrem uma perspectiva de crescimento (0,94% do PIB em 2004) estamos longe dos investimentos em P&D por potencias econômicas e tecnológicas como a China (2,15% do PIB) e a Coréia do Sul (4,55% do PIB).

"Nós precisamos mudar esse paradigma e valorizar a ciência, para termos enfim um país desenvolvido. Mas enquanto isso, os meus pares nas pós-graduações em química estão todos observando queda na procura de alunos, porque há uma percepção de que não haverá vagas", assinala o coordenador da PPGQ UNESP. "A esperança é que as coisas ruins costumam passar logo. Precisamos nos manter vivos para um novo momento."

Na avaliação de Pilon, o mercado brasileiro ainda não tem tantas empresas de base tecnológica para absorver nossos doutores e os programas que resistem como os das fundações de Amparo à Pesquisa que ainda têm verba, são igualmente insuficientes. "A perspectiva não é boa. Eu gostaria que todos os pós-doutorandos, especialmente aqueles em fase final da bolsa, entrem em contato com o JP-SBQ e façam parte dessa rede. Precisamos mobilizar a sociedade, a comunidade científica e as autoridades e mostrar a importância dessas bolsas para a vida de todos os brasileiros."

Dados MCTI:
Comparações Internacionais - Recursos Aplicados, acessado em 07/10/2020.

Bolsas de formação, acessado em 07/10/2020.

Tese de Adriano dos Santos, vencedora do Prêmio CAPES 2018:
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/150274


Publicações de Adriano dos Santos:

1. B. L. Garrote, A. Santos, P. R. Bueno. Label-free capacitive assaying of biomarkers for molecular diagnostics. Nature protocols, 2020. Manuscrito aceito para publicação.

2. Bueno, P. R.; Hein, R.; Santos, A.; Davis, J. J., The nanoscopic principles of capacitive ion sensing interfaces. Physical Chemistry Chemical Physics 2020, 22 (7), 3770-3774.

3. Cecchetto, J.; Santos, A.; Mondini, A.; Cilli, E. M.; Bueno, P. R., Serological point-of-care and label-free capacitive diagnosis of dengue virus infection. Biosensors and Bioelectronics 2020, 151, 111972.

4. Santos, A.; Tefashe, U. M.; McCreery, R. L.; Bueno, P. R., Introducing mesoscopic charge transfer rates into molecular electronics. Physical Chemistry Chemical Physics 2020, 22 (19), 10828-10832.

5. Garrote, B. L.; Santos, A.; Bueno, P. R., Perspectives on and Precautions for the Uses of Electric Spectroscopic Methods in Label-free Biosensing Applications. ACS Sensors 2019, 4 (9), 2216-2227.

6. Santos, A.; Bueno, P. R.; Davis, J. J., A dual marker label free electrochemical assay for Flavivirus dengue diagnosis. Biosensors and Bioelectronics 2018, 100, 519-525.

7. Lehr, J.; Weeks, J. R.; Santos, A.; Feliciano, G. T.; Nicholson, M. I. G.; Davis, J. J.; Bueno, P. R., Mapping the ionic fingerprints of molecular monolayers. Physical Chemistry Chemical Physics 2017, 19 (23), 15098-15109.

8. Piccoli, J. P.; Santos, A.; Santos-Filho, N. A.; Lorenzón, E. N.; Cilli, E. M.; Bueno, P. R., The self-assembly of redox active peptides: Synthesis and electrochemical capacitive behavior. Peptide Science 2016, 106 (3), 357-367.

9. Santos, A.; Bueno, P. R., Glycoprotein assay based on the optimized immittance signal of a redox tagged and lectin-based receptive interface. Biosensors and Bioelectronics 2016, 83, 368-378.

10. Cecchetto, J.; Carvalho, F. C.; Santos, A.; Fernandes, F. C. B.; Bueno, P. R., An impedimetric biosensor to test neat serum for dengue diagnosis. Sensors and Actuators B: Chemical 2015, 213, 150-154.

11. Marques, S. M.; Santos, A.; Gonçalves, L. M.; Sousa, J. C.; Bueno, P. R., Sensitive label-free electron chemical capacitive signal transduction for D-dimer electroanalysis. Electrochimica Acta 2015, 182, 946-952.

12. Santos, A.; Carvalho, F. C.; Roque-Barreira, M.-C.; Zorzetto-Fernandes, A. L.; Gimenez-Romero, D.; Monzó, I.; Bueno, P. R., Evidence for Conformational Mechanism on the Binding of TgMIC4 with β-Galactose-Containing Carbohydrate Ligand. Langmuir 2015, 31 (44), 12111-12119.

13. Santos, A.; Piccoli, J. P.; Santos-Filho, N. A.; Cilli, E. M.; Bueno, P. R., Redox-tagged peptide for capacitive diagnostic assays. Biosensors and Bioelectronics 2015, 68, 281-287.

14. Carvalho, F.; Martins, D.; Santos, A.; Roque-Barreira, M.-C.; Bueno, P., Evaluating the Equilibrium Association Constant between ArtinM Lectin and Myeloid Leukemia Cells by Impedimetric and Piezoelectric Label Free Approaches. Biosensors 2014, 4 (4), 358.

15. Fernandes, F. C. B.; Santos, A.; Martins, D. C.; Góes, M. S.; Bueno, P. R., Comparing label free electrochemical impedimetric and capacitive biosensing architectures. Biosensors and Bioelectronics 2014, 57, 96-102.

16. Santos, A.; Carvalho, F. C.; Roque-Barreira, M.-C.; Bueno, P. R., Impedance-derived electrochemical capacitance spectroscopy for the evaluation of lectin–glycoprotein binding affinity. Biosensors and Bioelectronics 2014, 62, 102-105.

17. Santos, A.; Davis, J. J.; Bueno, P. R., Fundamentals and Applications of Impedimetric and Redox Capacitive Biosensors. J Anal Bioanal Tech S7:016.doi: 10.4172/2155-9872.S7-016.

Link para a íntegra da conversa com o professor Arnaldo Cardoso, o pesquisador Adriano Souza e Alan Pilon, do JP-SBQ: https://anchor.fm/sbqast/episodes/JP-SBQ-Especial---O-papel-do-ps-doc-na-Cincia-ekp790


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)








Contador de visitas
Visitas

SBQ: Av. Prof. Lineu Prestes, 748 - Bloco 3 superior, sala 371 - CEP 05508-000 - Cidade Universitária - São Paulo, Brasil | Fone: +55 (11) 3032-2299