29/07/2021
Testemunho Falecimento Prof. Eduardo Motta Alves Peixoto
Etelvino J. H. Bechara (USP)
Eduardo Peixoto, Pivô da SBQ
Oito de julho de 1977, PUC-SP. Reunião Anual da SBPC. Repressão da Universidade Brasileira pela Ditadura Militar. Este era o ambiente em que cerca de 70 professores e estudantes de QuÃmica de todo o paÃs se reuniam para, sob liderança dos professores Simão Mathias (USP, São Paulo), Jacques Danon (CBPF, Rio de Janeiro) e Ricardo Ferreira (UFPE, Recife), criar um espaço livre, estimulante e contÃnuo para pensar e trocar ideias e experiências sobre a QuÃmica contemporânea e do futuro no Brasil e no mundo: a Sociedade Brasileira de QuÃmica (SBQ). Não era uma tarefa fácil. A comunidade acadêmica de QuÃmica carecia de uma nova sociedade cientÃfica que rompesse a paralisia de mais de vinte anos sem reuniões anuais e revista de QuÃmica regulares. Estávamos praticamente circunscritos à s nossas universidades e pouco contacto com sociedades de QuÃmica do exterior. Inquestionavelmente, a criação da SBQ é um marco divisor da história da QuÃmica no Brasil.
A primeira diretoria eleita – Simão Mathias (Presidente), Eduardo Peixoto (Secretário) e Etelvino Bechara (Tesoureiro) – foi acolhida pelo laboratório de pesquisa do Prof. Peixoto, com a assistência da Sra. Dirce Campos. A generosidade, inteligência, ousadia, teimosia e dedicação do Peixoto alicerçaram a implantação, expansão nacional e internacionalização da SBQ. Como Secretário Geral e Conselheiro da SBQ, ele lançou e sustentou com suas aulas os primeiros artigos da almejada QuÃmica Nova, em lÃngua portuguesa; submeteu à FAPESP e CNPq projetos de apoio para realização de nossas ininterruptas reuniões anuais, não só para os convidados mas auxÃlios de viagem e estadia para sócios da SBQ; consultou e comprometeu pesquisadores seniores do porte de Giuseppe Cilento e Otto Gottlieb para o lançamento do Journal of the Brazilian Chemical Society; incentivou o lançamento de um boletim informativo; questionou e insistiu na representação da SBQ nas eleições do CRQ-IV. Sempre atento à s sugestões dos sócios e sua representação nacional, catalisou a criação das Secretarias Regionais. Peixoto também agiu para estimular a participação de estudantes, professores do Ensino Médio e quÃmicos da indústria em nossas reuniões anuais. Em pouco tempo, crescemos para mais de mil sócios. No plano internacional, foi motivo de estupefação sua conversa com diretores da Royal Society of Chemistry quando lhes apresentou a SBQ como uma "sociedade que brevemente teria mais sócios que a própria RSC". Também contactou a ACS e a SPQ e inseriu a SBQ nas reuniões posteriores de Presidentes de QuÃmica, a primeira em Miami e a outra em Lund. Dois outros alvos importantes do Peixoto eram a representação na Federação Latino-Americana de QuÃmica (FLAQ) e a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC). Como a representação brasileira nos órgãos internacionais ainda era exclusiva da Associação Brasileira de QuÃmica (ABQ), foi-nos apenas permitida participação como observadores em Porto Rico e co-organização da Reunião da FLAQ no Rio. A visita do Dr. G. Ourisson, Secretário Geral da IUPAC, acelerou nossa aceitação como co-representantes do Brasil junto à ABQ.
Neste momento de tristeza pelo passamento do Peixoto, expressamos nosso pesar aos seus familiares e lamentamos profundamente a preciosa perda de um combatente incansável pela QuÃmica no Brasil. Finalizo este depoimento conclamando os colegas da SBQ para exaltar, celebrar e agradecer a vida prolÃfera, entusiasta e determinante do Eduardo na construção da SBQ.
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