DESTAQUE
ERSBQ-Rio: Comunidade busca resgatar a força da química no estado
Ainda sob os auspícios da 48a RASBQ – a maior dos últimos 10 anos – , e com lotação esgotada, a comunidade química do Rio de Janeiro fará seu encontro regional na semana que vem (de 13 a 15 de agosto), na UFF, em Niterói. O tema "Desafios para o Rio de Janeiro: passado, presente e futuro", convida a comunidade a refletir sobre as complexidades e as singularidades que moldam o desenvolvimento da Química no estado. Ou de outra forma, busca promover o resgate da força da química do Rio.
"Como organizadores do evento, entendemos que a Química do Rio precisa de maior união. Embora existam muitos eventos, eles estão dispersos e os cientistas precisam de um fórum de discussão mais amplo para estabelecer políticas que beneficiem o estado. Enfrentamos desafios prementes, como a baixa entrada de alunos na pós-graduação (um reflexo da graduação), o aumento de bolsas em outros estados, a escassez de editais da FAPERJ para pesquisa básica e a inteligência artificial no ensino e pesquisa", afirma a professora Camilla Buarque, secretária-regional da SBQ-Rio e organizadora do Encontro.
|
Profa. Luana Forezi (UFF), Profa. Vanessa Nascimento (UFF) e a Profa. Camilla Buarque (PUC-Rio), respectivamente vice-secretária, tesoureira e secretária da SBQ-Rio. Evento com lotação esgotada discutirá temas cruciais para a Química no estado
|
Os desafios serão abordados em uma mesa-redonda no dia 13, durante a tarde, com a presença de especialistas de destaque: a bióloga Helena Nader, presidenta da Academia Brasileira de Ciências (ABC), e os químicos Sérgio de Paula Machado (UFRJ) e Vitor Francisco Ferreira (UFF), ex-presidente da SBQ entre 2012 e 2014. O professor Fernando de Carvalho da Silva (UFF), presidente-sucessor da SBQ, será o mediador. "Esperamos que esta mesa redonda seja apenas um ponto de partida para reflexões contínuas sobre os desafios da Química no estado", declara a Profa. Camilla.
Um tema que será bastante discutido no Encontro Regional da SBQ-Rio é a carreira universitária. "A carreira universitária tem sido marcada por uma 'régua que sobe sem parar', uma vez que as exigências se tornam cada vez maiores. A atuação do profissional se divide em múltiplas frentes: pesquisa, ensino, extensão e administração", observa a secretária da SBQ-RJ. Em sua visão, a carga administrativa, em particular, consome um tempo significativo, afastando o professor de seu papel central como educador. Este acúmulo de funções se dá, em grande parte, porque essas esferas não são valorizadas e pontuadas de forma equivalente. Se houvesse uma distribuição de méritos mais justa, os esforços poderiam ser melhor divididos entre os membros da equipe. Como resultado, os profissionais têm cada vez menos oportunidade de tirar férias, devido à demanda constante e à imprevisibilidade de eventos como a abertura de novos editais.
A baixa procura de alunos para os cursos de química e a dificuldade de as empresas contratarem químicos também é tema de preocupação da SBQ-Rio. "A era digital faz os alunos acreditarem que é melhor ganhar dinheiro sem esforço. A química é sem dúvidas um curso difícil e que precisa de bastante esforço. Se continuar assim, em cinco anos ou menos, não teremos alunos para executar as pesquisas e nem mão de obra para o mercado de trabalho e alguma medida deverá ser tomada", observa a Profa. Camilla.
Os programas de pós-graduação em química estão espalhados pelo estado. Além dos que estão localizados na capital e Niterói, há ensino e pesquisa no interior do estado, em Seropédica, Macaé e Campos. São muitas as linhas de pesquisa oferecidas em diferentes áreas.
"Em termos de financiamento, as pesquisas ligadas ao setor petroquímico são as que mais se beneficiam de parcerias com empresas locais, mas o mesmo não acontece por exemplo com a área de fármacos", assinala a Profa. Camilla. Segundo ela, a falta de recursos e parcerias nesse setor é uma consequência da perda substancial do parque industrial do estado. "Isso acaba limitando a transferência de conhecimento da universidade para o mercado, impedindo que a pesquisa se transforme em inovação real e impacte diretamente a sociedade, dificulta a formação de um polo de inovação em fármacos no Rio de Janeiro, comprometendo o desenvolvimento econômico e a criação de novas oportunidades para pesquisadores e estudantes e também força os pesquisadores a buscarem alternativas (como startups), o que, embora válido, pode desviar o foco da pesquisa básica, que é a base fundamental para o avanço da ciência a longo prazo, até porque não são todos os pesquisadores que têm perfil de empreendedor."
Em que pese a queda na procura pelos cursos de química, o ERSBQ-Rio está com lotação esgotada. São 550 inscritos, número limitado pela capacidade do auditório onde serão realizadas as conferências. Tradicionalmente este evento tem de 400 a 500 inscritos.
Para trazer o público, a regional do Rio deu desconto para estudantes que irão ao evento pela primeira vez, e incentivou que professores formassem grupos com alunos. "Queremos replicar o espírito de pertencimento à SBQ tão bem trabalhado na 48ª RASBQ. Então, teremos sessões do Mulheres na Ciência e uma mesa redonda dos Jovens Pesquisadores, além de uma sessão de prêmios enriquecida pela criação do Prêmio Vitor Francisco Ferreira, para pesquisadores em meia-carreira", conta a Profa. Camilla.
Este prêmio se soma aos já existentes prêmios Walter Baptista Mors, para pesquisadores consolidados (25 anos ou mais de doutorado) e Jovem Pesquisador (até 12 anos de doutorado).
Saiba mais: https://www.even3.com.br/sbqrio/
Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)
|