15/8/2013
A ciência brasileira não é feita por cientistas, afirma professora da UFRJ
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Para Suzana Herculano-Houzel, o fato de não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados |
Nos últimos anos, o Brasil vem acumulando bons resultados em rankings de produção cientÃfica. No último levantamento feito pela consultoria Thomson Reuter, entre 2007 e 2001, o PaÃs correspondeu a 2,6% da produção cientÃfica global. No entanto, esses artigos, que ultrapassam a barreira das 25 mil publicações por ano, não são feitos por cientista e sim por professores.
A avaliação foi feita pela neurocientista e professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Suzana Herculano-Houzel. Para ela, o fato de não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil.
“Não posso dizer que neurocientista é minha profissão, porque a minha profissão de cientista não existe no Brasil. Não está na tabela das profissões regulamentadas pelo Ministério do Trabalho (MTE). Para poder atuar como cientista, eu atuo como professora de nÃvel superior, eu literalmente faço ciência nas horas vagas”, expôs.
A professora explicou que a maior parte da ciência no Brasil por professores universitários ou por pessoas que não tem emprego nenhum, jovens cientistas chamados estudantes de pós-graduação. “A produção cientÃfica cresce ao longo dos anos por causa do número de mestres e doutores que são formados no Brasil. São esses jovens que produzem o conhecimento cientifico”, disse.
Para ela, o trabalho que os jovens exercem não é chamado de trabalho e sim estudo. “É como se eles investissem na educação deles. Outros paÃses já não cometem mais esse erro.  O erro é não reconhecer esse trabalho como qualquer outro”, lamentou. “É um esforço laboral que gera um produto cientÃfico. Por que o jovem cientista recém graduado precisa passar pela humilhação de continuar sendo estudante?”.
Baixa remuneração
Suzana Herculano-Houzel contou que durante uma graduação o jovem já faz ciência como aprendiz, ou seja, um estagiário durante a iniciação cientifica, ganhando uma bolsa que tem o valor menor que o salário mÃnimo muitas vezes. Para trabalhar com ciência, quando ele se forma tem que entrar para pós-graduação.  “Isso significa se sujeitar a uma bolsa de mestrado  de R$ 1,5 mil reais mensais fixos pelos próximos dois anos sem qualquer direito trabalhista ou qualquer outro trabalho para complementar a renda”, observou .
A professora criticou ainda a obrigatoriedade em assinar uma declaração de que não vÃnculo empregatÃcio do pesquisador com o Conselho Nacional de Desenvolvimento CientÃfico e Tecnológico (CNPq) e/ou com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NÃvel Superior (Capes). “É preciso passar por mais uma humilhação: o atestado de pobreza. Enquanto isso seus colegas recém formados em engenharia e direito, por exemplo, já têm trabalho de verdade, ganhando de verdade”.
Para o jovem continuar trabalhando como cientista, ele precisa ingressar num programa de doutorado. “É a única atividade de emprego se ele quiser atuar como cientista. A bolsa também tem valor mensal de R$ 2,2 mil, sem nenhum vÃnculo empregatÃcio e benefÃcios trabalhistas”, comentou.
Sugestões
De acordo com Suzana, é possÃvel fazer contratações por fundações e institutos  de ciências ligados as universidades,  que poderiam receber dos governos os valores que hoje são pagos como bolsa, com contrato de trabalho e todos os direitos empregatÃcios. “Com a obrigatoriedade de contratação virá a possibilidade de salários com valores competitivos”, decsreveu.
Para ela, dessa forma, a ciência caminha e a sociedade cresce. “É fundamental para a soberania de uma população que ela valorize  a produção de conhecimento cientifico. Isso começa por valorizar seus cientista. Fazer ciência no Brasil hoje,  infelizmente, é uma péssima decisão profissional com pouquÃssimas perspectivas”, finalizou.
Fonte: Ascom do MCTI
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