24/10/2013
UMA NOVA ERA DAS PUBLICAÇÕES DA SBQ
A discussão sobre o impacto da internet na vida do ser humano
tornou-se um clichê no final do século passado. Ela transformou o
cotidiano das pessoas, seu modo de vida, seu trabalho e sua interação
com o mundo. A atividade científica adotou essa revolução antes
mesmo de sua popularização. A adoção da internet e suas ferramentas
pela comunidade científica foi intuitiva e ao mesmo tempo avassala-
dora, sem tempo para considerações ou opções. Não há possibilidade
de qualquer comparação do momento atual com tempos, nem tão
remotos, nos quais as teses eram impressas em mimeógrafos, com-
putadores stand-by eram do tamanho de uma geladeira, o Chemical
Abstracts pesava dois quilos por volume e as publicações, recentes
ou antigas, eram acessadas, quando disponíveis, na seção "periódi-
cos" da biblioteca. O cientista do século XXI gera uma cópia pdf de
sua tese que é disponibilizada, via web, em celulares que cabem no
bolso, sua pesquisa bibliográfica cobrindo praticamente 100% do
acervo de artigos já publicados é produzida em frações de segundo
a partir de diversos bancos de dados de acesso público, e o acesso
aos artigos originais... ora, temos o portal Periódicos CAPES, o que
mais queremos?
O sistema editorial foi o que mais participou – talvez de forma
compulsória – desta reforma/revolução. O acesso de informações a
partir de publicações de diversos tipos é agora feito em tempo real
diretamente de seu tablet ou celular, de qualquer lugar, sujeito a
ferramentas instantâneas de busca que facilitam o acesso orientado.
Jornais e revistas tradicionais estão na web e suas versões impressas
estão deixando de existir. Em notícia recente (27/09/2013) o "Lloyd's
List", considerado o jornal em circulação mais antigo do mundo,
anunciou que deixará de enviar aos seus meros 25 últimos assinantes
sua versão impressa. O jornal, de 279 anos de edições impressas,
continuará sua trajetória através de acesso on-line. Outras publicações
de grande porte anunciaram também o fim de suas versões impressas,
como a revista Newsweek.
A editoração científica não ficou atrás. O acesso on-line é obri-
gatório a toda e qualquer publicação de respeito, e o open access,
acesso gratuito, é a grande discussão do momento. Quanto a isso, a
SBQ é pioneira: suas publicações passaram a ser open access desde
a implementação de suas versões on-line. Mais do que isso, tem man-
tido uma rígida política de manutenção do open access, a despeito de
persistentes investidas de grandes editoras internacionais para assumir
as operações de editoração tanto do JBCS quanto da Química Nova.
Durante quase toda a sua existência a QN impressa foi enviada
"gratuitamente" aos associados em dia com a anuidade da SBQ, a
um alto custo. Esse custo sempre foi dividido entre a tesouraria da
SBQ e as agências de fomento (essencialmente, CNPq e FAPESP).
Com a popularização de sua versão on-line, o interesse pela versão
impressa foi nitidamente caindo. Em 2009, a Diretoria e Conselho
decidiu por separar da anuidade um valor – bastante simbólico – re-
ferente à assinatura da versão impressa. O valor da assinatura cobria,
com alguma dificuldade, o valor de despesas de frete, enquanto as
despesas com impressão ficavam por conta de projetos
pagos pelas agências de fomento citadas. No primeiro
ano, o número de assinantes – agora voluntários – caiu
de 3400 a 2200, quando passamos a imprimir 65% do
volume do ano anterior. Nos anos seguintes esse número
continuou caindo para 1900 em 2010, 600 em 2012 e 330
assinantes atuais.
No JBCS a história não foi diferente. O número de assinaturas caiu
de cerca de 200 em 2009 para menos de 80 em 2013. Outro número
importante é que os custos de impressão de 150-200 exemplares da
revista são superiores a R$ 120 mil por ano, correspondendo a mais da
metade do custo total de produção da revista e superior à manutenção
do escritório e funcionários da SBQ dedicados ao JBCS.
Já em 2012, os editores de JBCS e QN estavam convictos que
ambos periódicos estavam destinados a reduzir bastante o número
de revistas de suas edições impressas. Um minucioso estudo foi feito
e submetido à Diretoria e Conselho para análise, com a proposta
de suspensão imediata de qualquer subsídio às versões impressas
para assinantes, mantendo-se apenas as assinaturas institucionais
(bibliotecas, institutos, etc.). A proposta inclui ainda a substituição
da impressão em larga escala (em máquinas offset) por impressão
sob demanda. Na prática, isso deverá trazer o preço das assinaturas
a valores praticados por editorias comerciais. Acreditamos que a
implementação desta política deverá resultar em uma diminuição
drástica do número de assinaturas, mantendo a opção de sua aquisi-
ção aos leitores renitentes de papel. Junto com isso haverá, também,
uma importante diminuição dos gastos, em consonância com os
anseios das agências que, já preveem, não poderão continuar neste
nível de financiamento do crescente mercado editorial científico
brasileiro. Certamente estes recursos economizados poderão ser
utilizados em outras necessidades prementes das publicações e da
própria SBQ.
A reunião da Diretoria e Conselho da SBQ de agosto de 2013
aprovou, por unanimidade, a aplicação deste plano, que será imple-
mentado a partir de janeiro de 2014. A qualidade de sua diagramação,
assim como de sua impressão, será mantida. Também será garantida
a manutenção do ISBN de sua versão impressa. O assinante que
assim o desejar poderá adquirir sua versão impressa, com base em
assinaturas anuais, porém sem o subsídio, que em parte era coberto
por todos os associados da SBQ.
Em tempos de Web 2.0, as mudanças de paradigmas estão voltadas
para a geração de uma "inteligência coletiva", libertária e democrática,
de acesso irrestrito a todos, sendo processada em uma "nuvem" que
já não possui um sentido de hardware stricto-sensu. Nas editorias do
JBCS e QN, a busca por essa "inteligência coletiva" continuará por
meio da busca incessante da excelência e da comunicação aberta e
franca com a comunidade química nacional.
Fonte: Editores do JBCS e Química Nova
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