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12/12/2013


Parceria entre universidade e empresa viabiliza guia de estabilidade para produtos químicos


Luciana Oriqui durante palestra de lançamento do livro, que apresenta parâmetros e metodologias para padronizar a determinação dos prazos de validade no setor industrial (Divulgação/Abiquim)

A falta de critérios para determinar de forma precisa o prazo de validade de um produto químico é um problema recorrente da indústria química.

Com a proposta de colaborar com a solução para esta questão e para a consequente ausência de análises periódicas que estabeleçam prazos de validade adicionais aos de vencimento, permitindo estender o uso de produtos que ainda apresentem condições íntegras, foi lançado na terça-feira (10/12) o livro Shelf Life para a Indústria Química.

A obra enumera quais testes devem ser realizados em estudos de estabilidade, que, por sua vez, indicarão até quando determinada substância química atende os requisitos mínimos de qualidade e aplicabilidade.

Os testes incluem fatores relacionados a condições de temperatura, umidade, luz e embalagem, por exemplo, e podem ser aplicados em linhas de produção de diversos segmentos de atuação da indústria química.

Os estudos que deram origem ao livro foram realizados durante o doutorado de Luciana Rodrigues Oriqui, orientada por Milton Mori, professor da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (FEQ/Unicamp), e co-orientada por Pedro Wongtschowski, engenheiro químico e membro do Conselho de Administração da Ultrapar – empresa financiadora do projeto, que atua, entre outros, no segmento de especialidades químicas.

“Dialogamos para encontrar um tema relevante do ponto de vista acadêmico que, ao mesmo tempo, apresentasse soluções para um problema efetivo da indústria química brasileira. Surgiu, então, a questão da determinação do shelf life [prazo de validade, em inglês] que, até o momento, é muito mais arte do que ciência – e queremos transformar em mais ciência e menos arte”, disse Wongtschowski durante o lançamento do livro.

A frase remete à ausência de estudos de estabilidade específicos para o setor de produtos químicos, que contava até então apenas com parâmetros da indústria farmacêutica na atribuição dos prazos de validade.

Entre as consequências dessa carência está o descarte de produtos que comportariam uma validade adicional, causando prejuízos à indústria, elevando o preço do produto final que chega ao consumidor e, por vezes, provocando danos ambientais.

Importação e exportação

De acordo com os autores, Shelf Life para a Indústria Química deve favorecer também importadores e exportadores de produtos químicos. Para quem importa, não é incomum o recebimento de mercadorias sem prazo de validade preestabelecido, uma vez que em muitos países a indicação não é obrigatória. Por outro lado, o Código de Defesa do Consumidor estabelece que todo produto comercializado no Brasil tenha o prazo de validade expresso em seu rótulo, tornando necessários os estudos de estabilidade.

Já entre os exportadores, o entrave está na falta de parâmetros claros para atender exigências do regulamento europeu Registration, Authorization and Restriction of Chemicals (Reach) e, assim, assegurar certos mercados. “Sem padronização, tanto produtores como importadores e exportadores ficam perdidos”, disse Mori à Agência FAPESP.

No livro, Oriqui, Wongtschowski e Mori afirmam que, em 2012, o setor de produtos químicos foi responsável por 19% das importações e 6% das exportações totais do Brasil. E que, no primeiro quadrimestre de 2013, houve crescimento de 7,1% no consumo nacional de produtos químicos de uso industrial, elevando as importações em 29,4%.

Etapas de pesquisa

Os estudos de campo conduzidos por Oriqui – que envolveram visitas a indústrias químicas, farmacêuticas, cosméticas e alimentícias – confirmaram a demanda por estudos de estabilidade específicos para produtos químicos.

“Percebi que, em matéria de estudos de estabilidade, a indústria farmacêutica está entre as mais rigorosas e bem reguladas do mercado. É mais bem estabelecida e com os métodos mais bem definidos sobre como a qualidade dos produtos se altera sob a influência de fatores como temperatura, umidade e luz”, disse ela à Agência FAPESP. “Por esses motivos, os parâmetros que usamos no nosso guia são inspirados na prática adotada pela indústria farmacêutica.”

Oriqui conta que, nessa etapa, passou a ser procurada por indústrias químicas interessadas em metodologias para a definição dos prazos de validade e de validade adicional. “Testes feitos no prazo em que os produtos estariam vencidos – aromatizantes, por exemplo – muitas vezes mostram que suas propriedades ainda estão íntegras. Nesse caso, o descarte ou medidas como a incineração causam prejuízos econômicos e ambientais que precisam ser evitados”, afirmou.

Nesse sentido, o capítulo 5 de Shelf Life para a Indústria Química apresenta uma adequação dos padrões adotados pela indústria farmacêutica por órgãos internacionais como o International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for Registration of Pharmaceuticals for Human Use (ICH).

O resultado é um guia adaptado à realidade da indústria química, que enumera o passo a passo de testes como os de temperatura, umidade, acondicionamento, armazenamento, análises estatísticas e rotulagem.

“Ao realizar os passos de um reteste conhecendo o caminho de degradação de um produto, verifica-se suas características e, seguindo os parâmetros estipulados, chega-se a um prazo extra de validade – 30% ou 50% do prazo original, por exemplo”, explicou Oriqui. “Adotaremos esses parâmetros enquanto desenvolvemos testes em laboratório, a próxima etapa da pesquisa, com no mínimo mais 30 meses de trabalho.”

A Oxiteno, do grupo Ultra, e a empresa Nanotimize Tecnologia Ltda. apoiam o projeto, agora realizado no âmbito do pós-doutorado de Oriqui, novamente sob a orientação de Mori e Wongtschowski. Quatro produtos químicos – cada um representando os segmentos farmacêutico, cosmético, alimentício e outros (incluindo o petrolífero, o de couro, o de tintas e o de pesticidas) – estão sendo testados a fim de que as conclusões possam ser extrapoladas para outras substâncias com as quais tenham semelhanças.

Segundo Oriqui, “a ideia é garantir mais robustez e agilidade na revalidação dos produtos. Para tanto, lançamos mão da quimiometria, ciência que alia estudos estatísticos e análise química, e da miniaturização dos instrumentos de análise, em particular os de radiação infravermelha”.

A metodologia deve permitir, de acordo com os autores, a confecção de uma espécie de mapa, correlacionando os dados analíticos coletados em laboratório aos resultados obtidos quando se submete um produto ao infravermelho. “Seguindo as faixas desse mapa, será possível revalidar produtos químicos in loco, na própria indústria e até mesmo dentro das embalagens”, disse Oriqui.

Temperatura cinética média

Outro parceiro durante as investigações de Oriqui foi o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe), que ajudou a validar os parâmetros definidos para os estudos de estabilidade na zona climática em que se encontra o Brasil.

“Nosso país está em uma região denominada IVB, onde órgãos como o ICH e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecem 30 graus Celsius como a temperatura padrão para esse tipo de estudo”, afirmou a pesquisadora.

Trata-se da temperatura cinética média, ou seja, aquela que, adotada de forma constante durante uma investigação, simula o mesmo efeito das diversas temperaturas que ocorrem em um local durante o ano. “Usando uma base de dados de 20 anos do CPTEC/Inpe, validamos os 30 graus Celsius e 75% de umidade do ar como o pior cenário possível que um produto enfrentará no Brasil. É sob essas condições que os testes de estabilidade devem ser feitos, e não em temperatura ambiente, como é comum ocorrer”, disse Oriqui.

Shelf Life para a Indústria Química 
Autores: Luciana Rodrigues Oriqui, Milton Mori e Pedro Wongtschowski 
Lançamento: 2013 
Preço: R$ 41,90 
Páginas: 152 
Mais informações: www.elsevier.com.br/site/produtos/shelflife 


Fonte: Agência FAPESP






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