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12/12/2013


Brasil não tem tecnologia para despoluir aquíferos


Os constantes debates acerca da exploração de gás xisto no Brasil trouxeram à tona uma questão crucial na visão dos especialistas: a falta de tecnologia para despoluir aqüíferos. O País tem uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo no Aquífero Guarani.

Brasil tem uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo. Crédito: Wikipédia

Ele tem a capacidade de abastecer, de forma sustentável, muitos milhões de habitantes, com trilhões de metros cúbicos de água doce por ano. No Brasil, o Aquífero está no subsolo dos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Na visão de parlamentares, estudiosos e pesquisadores, esta riqueza pode estar ameaçada por uma enorme pressão econômica, a exemplo do que já ocorre nos Estados Unidos. Existem companhias ansiosas por entrarem em processos licitatórios de exploração do gás de xisto no Brasil, e outras vislumbrando lucros para despoluir a água e as áreas afetadas pela sua extração.

De acordo com o pesquisador Jailson de Andrade, ainda faltam estudos criteriosos sobre o assunto, inclusive para identificar como as jazidas de gás natural estão localizadas e se estão perto de aqüíferos importantes. "Os estudos realizados até agora são contestados. Não se sabe para onde vai a água contaminada de produtos químicos utilizados na exploração do gás. Ainda não há uma experiência no Brasil que possa se tomar como base. Falta informação", diz.

O pesquisador observa que não há tecnologia para despoluir os aqüíferos, caso eles sejam atingidos. O que, na visão dele, é um dos pontos cruciais para não se avançar no assunto. "A exploração do gás de xisto sem critério afetará a água sob nosso solo, já que a rocha a ser fraturada (o Folhelho Irati) se encontra a algumas centenas de metros abaixo do Aquífero Guarani, na Bacia Geológica do Paraná", detalhou Andrade.

Caso EUA

Correu o mundo a famosa foto da água saindo da torneira e pegando fogo. O fato ocorreu na pequena cidade de Dimock, na Pensilvânia, nos EUA. A explicação desse estranho fenômeno é simples. Trata-se da presença de metano, liberado pela exploração de gás de xisto nas redondezas da cidade. O metano é um gás tóxico que, supondo proporções iguais, contribui 25 vezes mais do que o dióxido de carbono para o efeito estufa e aquecimento global.

Além de água contaminada com metano, as áreas vizinhas aos poços de exploração de gás de xisto já tiveram de suportar explosões, contaminação do lençol freático e da terra agricultável, inviabilizando a produção agropecuária, além de pequenos abalos sísmicos, em regiões onde as construções não estão preparadas para tremores de terra.

Fracking

A exploração de xisto utiliza o método de fraturação hidráulica, chamado em inglês de "fracking". Trata-se de injeção de toneladas de água, sob altíssima pressão, misturada com areia e produtos químicos, com o objetivo de quebrar a rocha e liberar o gás nela aprisionado. Nos EUA, 90% dos poços de gás de xisto são perfurados com a utilização dessa técnica.

Esse tipo de extração utiliza vinte vezes mais recursos hídricos do que as técnicas convencionais. Com isso, as pequenas cidades norte-americanas nos arredores dos poços de gás de xisto enfrentaram problemas de falta d'água para consumo e agricultura, além da contaminação dos aquíferos subterrâneos e das reservas de água potável. Mas a falta de água não é o único problema.

Destaca-se ainda a excessiva circulação de caminhões, a injeção de fluidos que provocam pequenos abalos sísmicos, a ausência de regulamentação, a presença na água de pequenas quantidades de produtos químicos e metais pesados cancerígenos bem como a acumulação de metano que pode provocar explosões.

Carta

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) enviaram uma carta à presidente Dilma Rousseff, solicitando a suspensão da licitação para a exploração do gás de xisto, até que estudos mais conclusivos sobre a questão sejam realizados.

No documento, a presidente da SBPC, Helena Nader, e o presidente da ABC, Jacob Palis, justificam sua preocupação pelo fato de que a exploração econômica do gás de xisto vir sendo muito questionada pelos danos ambientais irreversíveis que pode causar.

Por isso, eles pedem que antes da realização da licitação sejam realizados novos estudos por universidades e institutos de pesquisa públicos, sobre a real potencialidade da utilização do método da fratura hidráulica para a retirada do produto das rochas e os possíveis prejuízos ambientais causados por isso.


Fonte: Agência Getão CT&I







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