26/4/2012
35ª REUNIÃO ANUAL
Responsabilidade, Ética e Progresso Social
Pesquisa sobre Ensino de QuÃmica alcança novo patamar cientÃfico
Vista durante muito tempo como uma atividade de importância secundária na escala de valores da universidade, a pesquisa sobre ensino das ciências exatas atravessou as últimas décadas procurando consolidar seu caminho cientÃfico. Passou por fases, inclusive a que procurava mimetizar os métodos das ciências naturais, com o auxÃlio de modelos quantitativos, para medir resultados. Hoje essa área de conhecimento, que dialoga com as ciências humanas e sociais, desenha um novo perfil no qual ganham peso as avaliações de componentes subjetivos do processo de ensino e aprendizagem. Ao mesmo tempo, vale-se de instrumental de aferição cada vez mais sofisticado, apoiado na computação. Os caminhos propostos por esse enfoque serão apresentados, durante a 35ª Reunião Anual da SBQ, na conferência "Análise quantitativa de dados na pesquisa em Educação QuÃmica", que será proferida por Francislê Neri de Souza, pesquisador brasileiro trabalhando atualmente na Universidade de Aveiro, Portugal.
Um das dificuldades dos pesquisadores detentores dessa visão é criar ferramentas para avaliar processos de aprendizado de maneira efetiva, que possam ser sistematizados com rigor cientÃfico. Os métodos de pesquisa e análise de dados predominantes por muito tempo não conseguem dar conta da complexa realidade das interações entre professor e aluno, observa Neri de Souza. E exemplifica com o caso de quem aplica questionários em grupos de alunos para medir, através dos acertos de respostas, os resultados de algum tipo de intervenção pedagógica em sala de aula.
Os resultados, positivos ou negativos, podem depender de uma ampla gama de fatores situados além do que o questionário consegue medir, diz. Daà a necessidade de utilizar outros tipos de indicadores. Entre eles análises de conteúdo de dados não numéricos e não estruturados, para as quais é possÃvel empregar softwares desenvolvidos para essa finalidade. "Por exemplo, posso gravar as interações em sala de aula ou no laboratório e fazer análise de conteúdo usando a informática como apoio, mesmo nestes contextos altamente subjetivos, multidimensionais e complexos", afirma.
O empenho para chegar a esse novo patamar apoia-se também no questionamento ao modo de ensino tradicional. Embora assinalada há décadas pela filosofia da ciência aplicada à educação, essa preocupação é acentuada mais fortemente no momento atual. Modo de ensino onde o discurso em sala de aula é dominado, durante mais de 70% do tempo, pelo professor. A busca de outros caminhos, que hoje se tornam mais urgentes, diz Neri de Souza, passa pela figura do aluno construindo o próprio conhecimento, aprendendo a pesquisar e a resolver problemas e não a memorizar conteúdo. "Dado o contexto tecnológico que nós vivemos, existe uma pressão muito maior para isso", ressalta.
O pesquisador identifica uma mudança significativa na forma como a universidade passou a ver, nos últimos anos, a pesquisa em ensino de quÃmica. "Começaram a perceber que essa é uma área que tem sua metodologia própria, seu jargão e suas especificidades de rigor e credibilidade em fazer ciência", constata.
Fonte: Carlos Martins (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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