10/11/2011
Marie Curie: Ciclo de Conferências destaca trajetória feminina em busca do reconhecimento
O reduzido número de mulheres que obtiveram o prêmio Nobel de Química, desde que ele foi instituído, em 1901, esconde um rico panorama histórico onde se entrelaçam o domínio masculino nas relações de gênero, a política, e a luta feminina pela conquista de espaço na produção de ciência. Faces dessa trajetória foram apresentadas na 9ª sessão do Ciclo de Conferências promovido pela Fapesp e SBQ como parte das atividades do Ano Internacional da Química.
"A Contribuição de Marie Curie para a Ciência e um Olhar sobre o Papel das Mulheres Cientistas", conferência realizada dia 9, na sede da Fapesp, ampliou o foco para mostrar que as condições objetivas da vida social e o papel determinado à mulher tolheram por muito tempo as possibilidades de realização de pessoas que constituem metade da espécie humana.
Coordenado por Marília Goulart, da Universidade Federal de Alagoas, o encontro teve as contribuições de Maria Vargas, da Universidade Federal Fluminense, de Ana Maria Alfonso-Godfarb, da PUC (SP) e Paulo e Gabriel Pugliese, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Ao redor da figura de Marie Curie, a história das mulheres que ganharam o Prêmio Nobel, e de muitas outras que se destacaram como cientistas, apresenta pontos comuns. Com frequência, é muito forte a influência do entorno familiar e a qualidade do relacionamento com seus companheiros no casamento. Estímulos paternos ou a interlocução com um marido liberal eram importantes para vencer as barreiras impostas pela sociedade patriarcal. À medida que o século XX avança, outro fator parece marcar esse percurso. Enquanto as três primeiras mulheres que receberam o Prêmio, Marie Curie (1911), sua filha Juliot-Curie (1935) e Dorothy Crowfoot Hodgkin (1964) tiveram acesso ao mundo da pesquisa através de uma posição social privilegiada, isso parece já não ter sido tão determinante na carreira de Ada Yonath (2009).
A história das cientistas que alcançaram reconhecimento, esconde, entretanto, muitas outras onde o conflito com os padrões estabelecidos resultou em sofrimento. A palestra de Maria Vargas, da UFF (foto), destacou essa face ao homenagear Clara Immerwahr (1870-1915), talentosa química alemã que precedeu Marie Curie e primeira mulher a obter o doutorado no país. Casada com Fritz Haber, cujas pesquisas contribuíram para o desenvolvimento de armas químicas utilizadas na I Guerra Mundial, a antimilitarista Clara não resiste à intensidade do conflito familiar e se suicida.
No contraponto a esse drama, Vargas falou sobre carreiras bem sucedidas nas quais o lado positivo da família, e do casamento é um impulso para o trabalho acadêmico. Exemplo expressivo nesse caso é a vida de Dorothy Crowfoot Hodgkin (Nobel de 1964) que, entre outros feitos científicos determinou as estruturas da penicilina, da vitamina B12 e da insulina. Dorothy obteve não apenas o reconhecimento acadêmico – aos 37 anos foi eleita Fellow da Royal Society – como foi a primeira mulher no país a usufruir do "privilégio" da licença maternidade remunerada, na Universidade de Oxford, para seus três filhos.
A relação das pesquisadoras que puderam se beneficiar dessa saudável conjugação entre família e trabalho inclui a brasileira Yvone Mascarenhas, professora do Instituto de Física de São Carlos da USP, a quem Vargas homenageou pela criatividade científica. A ela, o país deve a formação de uma geração pesquisadores na área de cristalografia e a construção de um exemplo para as jovens futuras cientistas.
Fonte: Carlos Martins (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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