4/10/2012
Brasileiro à frente do combate mundial de doenças tropicais
Cláudio Ribeiro, novo presidente da Federação Internacional de Medicina Tropical, promete avançar nos estudos para uma vacina contra a malária.
O homem se livrou da varíola. Encurralou a pólio. Mas fraqueja perante aquela que já foi chamada de rainha das doenças, a malária. Mal que matava um milhão de pessoas por ano no mundo - hoje são cerca de 650 mil - ela foi colocada em segundo plano não pelo ser humano, mas pela Aids. Desenvolver uma vacina contra a malária tem sido meta e a paixão do imunologista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, nas últimas três décadas.
Ao se tornar esta semana o primeiro brasileiro a presidir a Federação Internacional de Medicina Tropical, entidade que reúne os maiores especialistas da área, Ribeiro celebra os avanços do Brasil na pesquisa, mas diz que a ciência ainda precisa aprender a desenvolver vacinas melhores do que a natureza.
Ribeiro preside também o comitê científico do maior evento do mundo da área, o 18º Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, que acontece esta semana no Rio. O congresso atraiu mais de 2.500 participantes, de 59 países. São desenvolvedores de vacinas e medicamentos, caçadores de vírus, especialistas em políticas de saúde pública, dentre outros. Vieram discutir estratégias de combate das chamadas doenças negligenciadas, em especial malária, dengue, mal de Chagas, esquistossomose, tuberculose, leishmaniose e hanseníase.
Todas são mazelas da pobreza. Existem em 149 países, ameaçam metade da população global e acometem a cada ano mais de um bilhão de pessoas. Essas doenças atingem principalmente os países menos desenvolvidos. Todavia, castigam populações pobres de países como Brasil e China, e chegaram aos EUA e à Espanha.
"O Brasil tem três milhões de pessoas com esquistossomose e quase o mesmo número com doença de Chagas. Temos 70 mil casos por ano de tuberculose e, uma vergonha, 40 mil de hanseníase, essa é uma doença de fácil tratamento e prevenção, que só se espalha onde há miséria, abandono", afirma.
A malária, especialidade de Ribeiro, é uma das áreas em que se progrediu muito. Mas a guerra não foi vencida. "Ela não é apenas um problema científico, é social e sanitário. Essa doença mata uma criança a cada 30 segundos na África. Uma crise de malária custa dez dias de trabalho perdido e déficit cognitivo para crianças em idade escolar. Temos no Brasil 330 mil crises de malária por ano, a sua maioria na Amazônia", diz.
Segundo ele, a droga artemisinina funciona bem contra a malária, apesar do fantasma da resistência. Redes impregnadas de inseticidas também ajudam. Mas falta uma vacina. "A malária tem nos ensinado muito. O parasita da doença, o plasmódio, é um inimigo formidável; tem estratégias que não compreendemos totalmente", afirmou. "Criamos muitas vacinas que funcionam, veja os casos da varíola, da pólio, do sarampo. Porém, talvez só tenhamos conseguido essas vacinas porque são para doenças mais fáceis de combater, doenças que a própria natureza eliminaria. Hoje sabemos que a vacina precisa ser melhor do que a natureza. Tem que fazer aquilo que não acabaria por acontecer".
Além da ciência, diz, a política é fundamental. "A ciência não fará todo o trabalho sozinha. É preciso vontade política. A vacina da varíola foi inventada muito antes de ser empregada numa campanha mundial de erradicação. A pólio só não foi erradicada porque alguns países controlados por extremistas impedem a vacinação".
Apesar disso, ele é otimista sobre o futuro das pesquisas. "O Brasil avançou muito. Em particular, na medicina tropical. Geramos 3% da produção científica mundial, 55% da latino-americana. Mas respondemos por 20% do conhecimento científico em medicina tropical, passamos o Reino Unido, estamos atrás só dos EUA", comparou. "Mas temos muito ainda o que avançar. Somos o 13º no ranking da produção científica internacional, temos que fazer com que o ranking reflita nossa sexta posição entre as economias do planeta".
Fonte: O Globo
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