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25/10/2012



Relatório sobre integridade na ciência do IAP e do IAC é lançado globalmente



Para encorajar os pesquisadores ao redor do mundo a aderirem aos valores universais e comportamentos éticos na Ciência, o Conselho InterAcademias (IAC) e a IAP - a rede global de academias de ciências - elaboraram um novo relatório sobre ciência responsável. O documento - intitulado "Conduta Responsável no Empreendimento de Pesquisa Global: Um Relatório de Políticas Públicas", é o primeiro resultado do projeto de integridade cientifica do IAC e IAP, que surgiu como resposta às diversas tendências de remodelagem do empreendedorismo na pesquisa, incluindo aspectos da natureza da ciência voltados para o seu crescimento global e para a interdisciplinaridade, a importância do papel da ciência nos debates políticos e o constante surgimento de casos de comportamentos irresponsáveis em pesquisa em diversos países.

"A humanidade tem depositado sua confiança na ciência como forma de resolver muitas das questões mais difíceis do mundo e os pesquisadores devem preservar essa confiança, trabalhando com ética e responsabilidade" disse Indira Nath, co-diretora do Comitê Fundador e professora emérita do Instituto Nacional de Patologia, em Nova Déli, na Índia. "Todos os pesquisadores têm a obrigação de agir de acordo com os valores e princípios da integridade na pesquisa."

O Comitê destacou que a conduta responsável permite a natureza de auto-correção da pesquisa para operar de forma eficaz e acelerar o avanço do conhecimento. Enfatizou ainda que, embora sejam necessários procedimentos e instituições para efetivamente investigar e punir pesquisas irresponsáveis, são mais importantes os esforços para orientar e educar, destinados a prevenir conduta irresponsável.

"Países definem e lidam com práticas irresponsáveis de pesquisa de formas diferentes e alguns aspectos de como a pesquisa é conduzida também variam muito entre as disciplinas, países e culturas," disse Ernst-Ludwig Winnacker, co-diretor do Comitê e secretário-geral do Human Frontier Science Program, em Estrasburgo, na França. "No entanto, padrões globais de comportamento que reflitam os valores universais de pesquisa não são apenas possíveis, mas necessários."

O Comitê informou que não é possível, no momento, estimar arbitrariamente a frequência com que as práticas de pesquisa irresponsáveis ocorrem, mas observou que a incidência de conduta irresponsável aumenta com o crescimento da quantidade de pesquisa. Mais pesquisadores estão trabalhando em todo o mundo e gastos globais com P&D quase dobraram para $ 1,3 trilhão (de dólares) entre 1996 e 2009, reforçando a necessidade de novas orientações. "Com o crescimento da iniciativa de pesquisa no mundo e o aumento da quantidade de equipes multi-nacionais de investigação, este importante relatório pode servir como um catalisador para o desenvolvimento de um consenso internacional sobre a conduta científica responsável", disse o co-diretor do IAC Robbert Dijkgraaf, diretor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, nos EUA, e ex-presidente da Academia Real Holandesa de Ciências.

O novo relatório identifica os valores e os princípios fundamentais que os pesquisadores devem incorporar em cada parte do processo, desde o desenvolvimento de um plano de pesquisa até o relato dos resultados e comunicação com os políticos e o público. Os princípios identificados foram construídos através da realização de várias organizações e conferências que se concentraram na conduta de pesquisa de forma responsável. "Como as iniciativas de pesquisa em todo o mundo terão um impacto econômico e social enorme, compartilhar valores científicos importantes é essencial para a confiança pública na ciência", acrescentou o co-diretor do IAC Lu Yongxiang, vice-presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, na China, e ex- presidente da Academia Chinesa de Ciências.

As recomendações do relatório abordam várias tendências nas pesquisas que estão levantando questões sobre a conduta adequada. Por exemplo, as novas tecnologias que permitem a seleção de dados para pesquisa têm conduzido a discussões sobre como alocar créditos ou compartilhar dados corretamente. E a crescente globalização da pesquisa levanta preocupações sobre a garantia de que todos os estudantes e pesquisadores em um projeto colaborativo têm valores compartilhados e treinamentos correspondentes. Todos os campos de pesquisa precisam de mecanismos universalmente comuns e atualizados regularmente para examinar essas questões e tomar decisões coletivas sobre a melhor forma de lidar com eles. Em particular, os problemas potenciais que surgem a partir de parcerias de pesquisa internacionais, como as questões de propriedade intelectual, precisam ser abordados com antecedência.

Muitos tipos de práticas irresponsáveis e indesejáveis estão associados com a publicação dos resultados da investigação, como a concessão ou reivindicação de autoria não merecida ou a publicação duplicada de material que os leitores esperam ser original, uma prática muitas vezes referida como auto-plágio. Tanto as revistas quanto os autores devem se proteger contra isso e abster-se de citações concebidas apenas para impulsionar o fator de impacto da revista, diz o relatório. As revistas têm uma responsabilidade especial de proteger a integridade da pesquisa e não só devem emitir correções ou retratações quando publicam documentos fraudulentos, mas também devem tomar medidas para assegurar que os trabalhos não continuem sendo citados. Além disso, as revistas devem usar os meios tecnológicos, como softwares que detectam plágio, para manter a integridade.

A revisão pelos pares - avaliação por peritos antes de financiar uma proposta de concessão de recursos ou antes de publicar os resultados da investigação - é um passo importante para garantir o apoio às reivindicações básicas, aumentando a qualidade da correção de erros. Os pesquisadores têm a responsabilidade de participar da revisão de propostas e não abusar da confiança em que o processo de revisão é baseado, diz o relatório. Os revisores da pré-publicação precisam avaliar honestamente as publicações e evitar conflitos de interesse.

Como a ciência vem sendo cada vez mais utilizada para ajudar a formular políticas públicas, os cientistas precisam divulgar informações sobre o seu trabalho de forma clara e compreensível - incluindo a avaliação objetiva das incertezas associadas com os seus resultados, diz o relatório. Ao mesmo tempo, eles precisam evitar a defesa com base na sua autoridade como pesquisadores, tendo o cuidado de distinguir entre seus papéis como cientistas e como defensores.

O relatório também inclui recomendações para agências de financiamento público e privado, alertando que devem evitar políticas que possam colocar mais peso na quantidade do que na qualidade da pesquisa. As instituições de pesquisa, com o apoio de agências de financiamento, devem estabelecer regras claras que definam pesquisa responsável, fornecer treinamento em conduta responsável e estabelecer mecanismos para lidar com alegações de má conduta e para a proteção dos denunciantes. "Muitas vezes há uma ênfase exagerada na questão da quantidade versus qualidade, no que diz respeito aos sistemas de recompensa para os pesquisadores. Devemos procurar evitar enviar a mensagem errada aos jovens pesquisadores", disse o co-diretor do IAP Howard Alper, diretor do Conselho Canadense de Ciência, Tecnologia e Inovação, e ex- presidente da Royal Society do Canadá. "As agências de financiamento e instituições de pesquisa devem promover e premiar a excelência."

As academias nacionais devem assumir forte liderança em questões relacionadas à conduta responsável em pesquisa, incluindo a criação e disseminação de padrões, disse o Comitê, que está sendo expandido para agora desenvolver materiais educativos internacionais, com base no relatório. O Comitê informou ainda que o objetivo final de seu projeto é ajudar o empreendedorismo global de pesquisa, de forma a desenvolver um quadro ético que se aplique a todos os indivíduos e instituições envolvidas em investigação científica. "As Academias nacionais de ciências de todo o mundo podem desempenhar um papel fundamental na promoção do estabelecimento e manutenção de padrões de integridade científica, e estamos ansiosos por novas iniciativas globais e regionais a favor das Academias", afirmou o co-diretor do IAP, Mohamed Hassan, diretor do Conselho da Universidade das Nações Unidas e ex-presidente da Academia de Ciências da África.

O IAP
O IAP é uma rede global de Academias de ciências do mundo, criada em 1993. Seu objetivo principal é ajudar as academias participantes a trabalharem em conjunto para aconselhar os cidadãos e funcionários públicos sobre os aspectos científicos de importantes questões globais. A Secretaria do IAP é hospedada pela Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS) e as atividades do IAP são apoiadas pelo Governo da Itália e por contribuições voluntárias das Academias de ciências em todo o mundo O IAC
O Conselho InterAcademias (IAC), fundado no ano 2000, mobiliza os melhores cientistas e engenheiros em todo o mundo para aconselhar organismos internacionais, com base em evidências; seu secretariado é hospedado pela Academia Real de Artes e Ciências da Holanda, em Amsterdã.

Fonte: Academia Brasileira de Ciências







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