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8/11/2012


NOTA DE FALECIMENTO



Adilson José Curtius

É com imenso pesar que comunicamos o falecimento do Prof. Adilson José Curtius.

Um dos mais queridos cientistas brasileiros da área de espectrometria atômica, o Professor Adilson José Curtius deixa, inesperadamente, nossa academia. Neste momento não é possível deixar de sentir um grande vazio, uma enorme tristeza, e uma saudade que ficará para sempre, deste que é o pai da espectrometria de absorção atômica em forno de grafite (GF AAS) no Brasil e o criador do Encontro Nacional de Química Analítica (ENQA). Foi graças ao seu espírito idealizador e perseverança, que foram possíveis os desenvolvimentos dos primeiros métodos de determinação de elementos em baixas concentrações, da ordem de µg L-1 (manipulação de massas da ordem de pg a ng) na década de 70. Num momento em que a GF AAS estava desacreditada por causa da dificuldade de se controlar as várias fontes de erros sistemáticos durante o preparo das amostras (contaminações e/ou perdas de analitos) e as limitações dos tubos de grafite não pirolíticos e da instrumentação existente, o Adilson, como gostava de ser chamado, nos ensinava quais eram os melhores caminhos para conseguirmos bons resultados. Ele demonstrava, com seus sempre bons mestrandos e doutorandos do PPG em Química do Departamento de Química da PUC-RJ, que era possível, inclusive, conseguir repetibilidade das medidas bastante apropriada para inúmeras aplicações, com injeção manual de volumes da ordem de 10-20 µL.

Em 1982, o Adilson organizou o 1° ENQA no Rio de Janeiro com a colaboração de alunas e alunos do PPGQ da PUC que o ajudavam em tudo com dedicação exemplar. Apesar de seus quase 110 participantes, o evento foi tão elogiado, que, 1 ano depois, o Adilson repetiu a dose organizando o 2° ENQA com o mesmo sucesso. Desde então o ENQA acontece a cada 2 anos, organizado por Instituições com Programas de Pós-Graduação em Química, e se constitui no mais importante evento de Química Analítica da América Latina. Em sua 16a Edição, realizada em Campos do Jordão em 2011, o evento reuniu cerca de 1200 participantes.

O caráter empreendedor do Adilson sempre foi tão marcante, que em setembro de 1988 ele organizou com Bernhard Welz o 1st Rio Symposium on Graphite Furnace Atomic Absorption Spectrometry, também na PUC-RJ, repetindo a mesma iniciativa em 1992, mas numa versão mais arrojada. Hoje, o Rio Symposium on Atomic Spectrometry é o principal evento internacional na área de espectrometria atômica na América Latina e congrega participantes dos países latinos e do hemisfério norte. Desde então, o Rio Symposium é realizado bienalmente em países da América Latina, com marcante participação dos mais destacados pesquisadores com reconhecimento internacional em ICP-MS, ICP OES, AAS. Em 2002, já como Professor Titular do Departamento de Química da UFSC, ele também organizou a sétima edição com Bernhard Welz, e em setembro deste ano, em Foz do Iguaçu, coube a nós a tarefa de organizarmos o 12th Rio Symposium. Esta foi a primeira vez em que o Adilson não pode participar, por conta do tratamento médico, que ele cuidadosamente seguia à risca na luta para permanecer trabalhando naquilo que mais gostava. Uma semana antes do 12th Rio Symposium, conversamos por telefone, e ele, animado, contava que estava muito melhor e que passava o tempo revisando artigos e as teses que ainda orientava. Nós tínhamos certeza de que iríamos abraçá-lo oportunamente, mas ele sabe, onde estiver agora, que nossa admiração e nossa gratidão ficarão para sempre.

O Prof. Adilson nasceu em Trombudo Central, uma pequena cidade do interior de Santa Catarina. Era um dos quatro filhos de Vili e Helena Curtius, descendentes de alemães que vieram para Trombudo Central, por ocasião da Primeira Guerra Mundial. Em Trombudo Central, foi alfabetizado pela empregada da família, um grande incentivo para a vida de estudos e muito trabalho que viria a seguir.

O Prof. Adilson graduou-se em engenharia química pela UFRGS, fez seu mestrado na Lehigh University, nos EUA, doutorado em química analítica pela PUC-Rio e pós-doutorado na Universitat Konstanz, Alemanha. Dedicou boa parte de sua vida acadêmica a estudos utilizando espectrometria de absorção atômica, especialmente com atomização em forno de grafite. Foi professor da PUC-Rio e da UFRRJ nas décadas de 1970 a 1990. Em 1994, como forma de permanecer mais próximo à família, o Prof. Adilson assumiu o cargo de Professor Titular no Departamento de Química da UFSC, local onde encontrou o difícil desafio de construir e organizar um novo laboratório, assumir a orientação de novos alunos e iniciar novas linhas de pesquisa, missões estas concluídas com brilhantismo. Alguns anos depois, chegava ao seu laboratório na UFSC um ICP-MS, um dos primeiros do país, o que o tornaria um pioneiro também no desenvolvimento metodológico com esta então inovadora técnica. Em toda a sua carreira acadêmica, o professor orientou ou co-orientou 32 mestres e 28 doutores, e publicou 182 artigos em periódicos nacionais e internacionais. Organizou diversos eventos nacionais e internacionais. O professor era "fellow" da IUPAC, membro da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador 1A do CNPq. Para seus alunos, o Prof. Adilson foi sempre um profissional exemplar: um professor dedicado e de excelente didática, orientador comprometido com sua pesquisa e com seus alunos, preocupado com o bem-estar e com o bom aproveitamento de todos. Sempre muito ético, prestativo e generoso, cativava a todos os que o conheciam. O Prof. Adilson parte, mas nos deixa grandes lições advindas de um profissional e de um ser humano ímpar, extremamente dedicado, de grande caráter e grande coração, que perdurará em nossas memórias.


Fonte: Francisco José Krug (CENA-USP) e Daniel Lázaro Gallindo Borges (DQ-UFSC)






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