14/3/2013
Brasil deve atingir a autossuficiência em radiofármacos em 2018
Em 2009, uma crise global na produção de radioisótopos atingiu o mercado de medicamentos marcados com material radioativo. Desde então, o Brasil se movimenta para construir seu próprio reator nuclear de pesquisa multipropósito. O projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) já está em andamento. A expectativa é a de que os equipamentos estejam em operação em 2018, um ano a mais do que era previsto inicialmente.
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Crédito: Marcos Sacramento/USP Imagens |
Atualmente, o Brasil importa cerca de 4% de todo o molibdênio-99 produzido no mundo, a um custo de cerca de US$ 12 milhões por ano. Esse insumo é o principal radioisótopo usado na medicina nuclear brasileira. Somente em 2012, foram realizados cerca 1,5 milhão de procedimentos com radiofármacos à base desse insumo. O número corresponde a 75% de todos os atendimentos feitos no Brasil com medicamentos marcados com material radioativo.
"Acreditamos que seremos auto-suficientes na produção de radioisótopos já no primeiro ano de funcionamento. A produção proposta de molibdênio-99 no reator que estamos projetando é mais do que o dobro que consumimos hoje. Com mais oferta queremos também aumentar o atendimento per capita da população", afirma o coordenador técnico do projeto RMB, José Augusto Perrotta
A iniciativa está sendo tocada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e seus institutos como o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), ambos associados à ABIPTI e subordinados ao MCTI. Esse não será o primeiro reator de pesquisas nucleares do Brasil. Outros quatro já operam no paÃs. No entanto, os equipamentos são antigos e tem pouca potência.
O mais antigo deles é também o mais potente. Instalado no Ipen em 1957, o reator IEA-R1 opera hoje com cinco megawatts (Mw). "O RMB terá 30 Mw. Quanto mais potência, maior é o fluxo de nêutrons dentro dele, maior será a utilização tecnológica e seremos, com isso, muito mais produtivos", detalha o coordenador técnico.
O RMB está incluso no Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 do governo federal. O documento traça as principais metas e programas do poder Executivo. O orçamento previsto inicialmente da construção do projeto RMB é de US$ 500 milhões. "Esse valor é baseado nos últimos reatores desse padrão construÃdos no mundo. O investimento será melhor conhecido ao final da fase de projeto básico", alerta Perrotta.
Para a primeira fase de estudos, o MCTI, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento CientÃfico e Tecnológico (FNDCT), investiu R$ 50 milhões. A fonte de financiamento do restante do projeto ainda não foi definida segundo explicou Perrotta, que é também assessor da presidência da CNEN.
Local e estrutura
O projeto do Reator Multipropósito Brasileiro inclui, além do reator de pesquisas nucleares, uma série de laboratórios associados. De acordo com o coordenador técnico do projeto, o RMB vai produzir os insumos (radioisótopos) e processá-los para a radiofarmácia, que hoje está instalada no Ipen em São Paulo. Nesse local é que são produzidos os radiofármacos distribuÃdos em mais de 300 clÃnicas semanalmente no Brasil
"O projeto inclui um reator e uma infra-estrutura que o Brasil não tem hoje. Os laboratórios vão processar o alvo de urânio, que será irradiado no reator, para extrairmos quimicamente o radioisótopo que será utilizado na medicina nuclear por exemplo.", afirmou Perrotta em entrevista ao Informe ABIPTI.
O local onde será instalado o complexo de pesquisas nucleares do RMB já foi definido. A infraestrutura será levantada num terreno de 2 milhões de metros quadrados, em Iperó (SP), ao lado do complexo de Aramar, onde a Marinha do Brasil tem instalada a Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa) e está construindo os prédios do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (Labgene), responsável pelos testes do reator do futuro submarino nuclear.
A área foi doada pela Marinha e pelo governo de São Paulo. Iperó, segundo o coordenador, terá o maior parque nuclear do Brasil em termos de desenvolvimento tecnológico. Dentro de dois anos as obras devem começar efetivamente.
A CNEN contratou uma empresa para fazer o projeto básico de infra-estrutura geral e de prédios. Já o projeto básico do reator será realizado em cooperação com a Comission de Energia Atomica da Argentina (CNEA), por meio da Empresa INVAP.
Um escritório de consultoria ambiental foi contratado para realizar os estudos obrigatórios para o licenciamento prévio ambiental junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
"Já estamos terminando também o relatório do local para pedir a primeira licença nuclear à Diretoria de Radioproteção e Segurança da CNEN, órgão responsável pelo licenciamento nuclear no Brasil. Com esses licenciamentos e o projeto básico concluÃdo poderemos caminhar com a execução do projeto. A velocidade [das obras] depende da liberação dos recursos", diz.
Aplicações
Além do aumento da produção de insumos base para a medicina nuclear, o projeto do Reator Multipropósito Brasileiro trará outras aplicações tecnológicas ao Brasil. Os radioisótopos são usados na indústria, agricultura e meio ambiente.
Na área de pesquisas nucleares, o RMB irá auxiliar no testes de irradiação de materiais e combustÃveis nucleares, além de proporcionar aos pesquisadores brasileiros a chance de fazer estudos cientÃficos e tecnológicos com feixes de nêutrons em solo nacional.
"O empreendimento RMB é considerado um projeto estruturante e de arraste para o PNB [Programa Nuclear Brasileiro]. O reator terá uma disponibilidade mÃnima de 80% do tempo durante o ano para atender toda a demanda da medicina", lembra Perrotta. "Isso vai exigir a ativação de toda a cadeia do ciclo do combustÃvel de forma contÃnua e com eficiência, conhecimento técnico e cientÃfico", afirma.
Os radiofármarcos são usados em diversos procedimentos na medicina nuclear, como diagnóstico de cânceres e do funcionamento de órgãos. Vários têm aplicação também em terapias no tratamento de câncer de colo de útero, de mama, de próstata e de pele.
Fonte: Agência Gestão CT&I de NotÃcias
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