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28/3/2013



Instituto de Química da UFBA: quatro anos depois, quem responde por tanta incúria?


Artigo de Caio Mário Castro de Castilho para o Jornal da Ciência

Quatro anos são decorridos de um incêndio que consumiu (21 de março de 2009) laboratórios situados em parte de um dos cinco andares do Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Passado este período, de quase um lustro, a situação só piorou, tendo o incêndio, ao longo dos anos, se "propagado" para o prédio vizinho, o do Instituto de Física (IF), onde sequer uma única fagulha caiu à época do incêndio real. E, pelo que se pode concretamente antever, pouca ou nenhuma melhora pode ser de fato prevista num prazo confiável!

Só após 6 (seis) meses do incêndio foi liberado o acesso de professores, funcionários e estudantes ao prédio do IQ. Durante este período, somente em caráter excepcional, eram permitidas visitas curtas para coleta de documentos pessoais ou de pequenos equipamentos (lap-tops e coisas assim). Alardeava-se uma grave contaminação que, em razão disto, justificaria a interdição. Interessante é que, neste período, os vigilantes (trabalhadores de empresa terceirizada) tinham acesso ao prédio e lá, livremente, por não terem muito o que fazer, simplesmente jogavam dominó. Apesar da interdição, furtos a laboratórios foram constatados.

Os conflitos, aparentemente então existentes entre a administração da unidade e Reitoria (um grande número de ofícios eram enviados e divulgados pela direção da unidade), foram "superados" pela proposta de construção/reforma de um novo conjunto: O Complexo Química e Física! Previa-se a reforma em todos os pavimentos dos então existentes edifícios (os prédios originais do IQ e do IF guardam grande semelhança arquitetônica) e a adicional construção de um Anexo, bem como a interligação do conjunto. A contratação de duas obras de caráter distinto, reforma e construção, foi feita sob a responsabilidade de uma única construtora; uma decisão que, desde então, foi por muitos considerada como temerária.

Com uma previsão de reforma, a ser iniciada no primeiro trimestre de 2011, no que se refere às edificações já existentes, era divulgado um prazo de dois meses para conclusão de cada andar reformado, o que corresponderia, portanto, a 10 meses (ou 12, se considerarmos o telhado como um andar em si). Passaram-se já 24 meses.

Divulgada a contratação da empresa, uma "febre" se seguiu. Instruções alinhavadas sobre como relocar pessoas e equipamentos, transferência de laboratórios, etc. Tudo isto sem um cronograma detalhado e realista sobre o como e o quando de cada etapa.

No IF, o quinto andar, que abrigava essencialmente salas de aula e gabinetes de docentes, foi esvaziado, com transferência de significativo número de docentes para uma grande sala (onde anteriormente havia uma biblioteca), hoje, distribuídos em mais de 35 mesas, estão boa parte dos professores. A biblioteca, por sua vez, transferida para a Biblioteca Central da UFBA.

No IQ a improvisação e os equívocos foram ainda maiores. Bancadas de laboratórios de graduação, localizados em andares do quarto ao primeiro, foram desmontados. Bancadas, equipamentos, reagentes e vidraria transferidos para um outro prédio ainda em reforma. Com isto, inviabilizado o funcionamento de laboratórios neste outro edifício, todos os materiais retornaram ao IQ. Com a ida e a vinda, muito se perdeu... por dano. Aulas práticas foram transformadas em aulas de demonstração!

Hoje temos o prédio novo (o chamado anexo) com cerca de 40% concluído (segundo o que se consegue saber) e, até o momento, nenhum dos cinco andares dos dois edifícios em reforma foram liberados. Promete-se o quinto andar de cada um dos prédios para abril. Difícil encontrar alguém que, face a tudo o que ocorreu, possa acreditar neste prazo. Sobre os demais andares nada de concreto há.

De concreto há, de fato, as dificuldades de continuar a trabalhar sob estas condições. Notadamente no IQ é possível detectar uma queda na produção científica. No IF (como é uma unidade onde a maioria dos docentes trabalha na área teórica) os danos na produção científica foram menores. Mas os poucos laboratórios existentes, notadamente no primeiro andar, em algum momento deixarão de funcionar. Por quanto tempo? Ninguém sabe.

Mas, uma coisa é certa... Os danos à instituição talvez, aos olhos de muitos, constituam apenas um mero detalhe, de importância, pelo visto, menor. Mas, por coincidência ou não, os cursos de graduação de Física e Química receberam, recentemente, uma avaliação bastante negativa.

Transcrevo a seguir, entre aspas, parte de texto que amplamente divulguei quase que quatro anos atrás, antevendo que "política" e burocracia constituíam ameaças reais à vida acadêmica do IQ:

"É preciso compreender que a condição de emergência não se encerrou com os trabalhos dos bombeiros. A ação de dano, causada pela demora em se encarar a totalidade dos problemas pode ser muito grave. Corre-se, assim, o risco de que a pesquisa sucumba à burocracia, esta mais atenta a minudências meramente formais".

Quisera não ter sido tão profético! A burocracia, aliada à sua usual parceira - a incompetência - é vitoriosa!

Caio Castilho é professor no Instituto de Física da UFBA


Fonte: Jornal da Ciência






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