No início de julho, desembarcou no Brasil, trazido por um navio, o computador mais potente da América Latina. Nas semanas seguintes, o aparato de alta performance foi instalado no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, e, a partir deste mês, a comunidade científica brasileira, que comemorou a chegada do supercomputador e deu-lhe o apelido de Santos Dumont, deverá poder utilizá-lo.
A máquina atua em escala petaflópica – no termo, FLOP é um acrônimo em inglês para Floating-point Operations Per Second (operações de ponto flutuante por segundo), uma medida do desempenho de um computador baseado na quantidade de operações por segundo que ele é capaz de realizar. Estamos falando, aqui, de um computador capaz de processar mais de um quatrilhão de operações por segundo.
Inicialmente pensados para aplicação militar, os supercomputadores são utilizados maciçamente por meteorologistas, economistas e físicos, entre outros cientistas, para processar dados de suas pesquisas. O surgimento dos supercomputadores data da década de 1960, e o precursor dos ‘supercérebros-eletrônicos’ foi Seymour Cray, engenheiro, arquiteto e empresário estadunidense que dominou o mercado da supercomputação em seus primeiros anos de existência.
A definição do que é um supercomputador varia de acordo com as capacidades da computação corrente – há 50 anos, os computadores comuns que temos hoje em casa ou no trabalho poderiam ter sido classificados como supercomputadores. Em resumo, um supercomputador possui uma imensa capacidade de processamento e armazenamento, muito acima da maioria das máquinas disponíveis para os usuários comuns em sua época.
“O processo de aquisição do supercomputador teve início por volta de cinco anos atrás, quando o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) decidiu fazer a modernização do Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Sinapad)”, conta Pedro Leite da Silva Dias, matemático, meteorologista e diretor do LNCC. “Uma das condições do MCTI para a empresa fornecedora do supercomputador era que fosse instalado um centro de pesquisas em computação de alto desempenho e um centro de aplicações industriais no país, além do compromisso de transferência de tecnologia”.
A empresa escolhida foi a Bull Atos Technologies, gigante francesa do ramo da informática que já está construindo seu centro de pesquisas no Brasil. “Estamos muito atrasados em termos de tecnologia de supercomputadores, mas com essa iniciativa deveremos ter brasileiros envolvidos na construção dos computadores hexaflop [a próxima geração de supercomputadores]”, diz Dias.
Para fazer bom uso
Um dos principais usos da máquina será seu emprego em um processo chamado de mineração de dados, no qual informações são extraídas e processadas a partir de grandes quantidades de dados. “São quantidades de até quatrilhões de dados”, explica o diretor do LNCC. “O Santos Dumont permite que os brasileiros façam ciência de ponta”, garante. O supercomputador é, aproximadamente, um bilhão de vezes mais ágil que o computador que você tem em casa, e sua capacidade ainda pode dobrar: de acordo com Dias, a máquina – que já ocupa uma área de mais de 80 m² – foi planejada para passar por uma expansão no futuro.
Diretora do Centro Nacional de Supercomputação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a cientista da computação Denise Grune Ewald avalia positivamente a chegada do novo supercomputador. Para ela, no entanto, é necessário que haja treinamento e suporte para os cientistas que farão uso da máquina de forma a extrair o melhor de seu desempenho. “Tão importante quanto receber a máquina é preparar os usuários para o uso adequado”, diz.
Integrado à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), instituição responsável por prover sistemas de rede e conectividade aos espaços acadêmicos do país, o Santos Dumont passará a auxiliar pesquisadores de todas as regiões brasileiras. Para ter acesso ao supercomputador, os pesquisadores devem fazer solicitação ao Sinapad.
Um detalhe simpático: está em fase de construção uma estrutura que ficará sobre o supercomputador como homenagem ao aviador brasileiro que empresta o nome à máquina – uma lembrança do chapéu icônico usado pelo pai da aviação. Em um dos painéis ao redor do aparelho, o visitante pode ler “o homem há de voar”, frase atribuída a Santos Dumont.
Fonte: Everton Lopes - Instituto Ciência Hoje/ RJ
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