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10/03/2016



Chamada do CNPq incentiva jovens pesquisadoras nas áreas de exatas, computação e engenharias


Dois anos depois do Edital, algumas dessas jovens relatam que não somente lugar de mulher é onde ela quiser estar, mas que cada uma delas pode ser uma peça na engrenagem do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil

"Meninas raramente são motivadas em suas escolas ou casas a participar de ações que envolvam ciências exatas e tecnologia, pois mulheres não são vistas como protagonistas nestas áreas".
Márcia Barbosa

A Organização das Nações Unidas (ONU) comemorou, recentemente pela primeira vez, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, mas revelou um dado não passível de celebração: no mundo, as mulheres representam apenas 28% do conjunto de pesquisadores.

Em outro estudo, a ONU identificou, em 14 países, que as probabilidades de uma estudante obter um diploma de graduação, mestre e doutora em áreas relacionadas à ciência seriam de, respectivamente, 18%, 8% e 2%. Já para os estudantes homens, os números chegam a 37%, 18% e 6%.

Pesquisadora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Marcia C. Barbosa, reflete que, no Brasil, somente em 1879 foi permitido que mulheres ingressassem nas universidades inicialmente na área de humanas e saúde. "A presença de mulheres nas áreas de Exatas ocorre com mais de duas décadas de atraso se comparado com as áreas da saúde. A primeira mulher a se formar em Engenharia foi Edwiges Maria Becker, em 1919, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro", afirma a pesquisadora.

Para Márcia, a desproporção entre a participação de mulheres nas áreas de humanas e de saúde e de ciências exatas persiste até hoje. "Só para dar um exemplo, apesar de hoje as mulheres serem um pouco mais da metade das bolsistas do Programa de Iniciação Científica do CNPq, na área de Física não chegam a 30%. Meninas raramente são motivadas em suas escolas ou casas a participar de ações que envolvam ciências exatas e tecnologia, pois mulheres não são vistas como protagonistas nestas áreas", revela.

Os números de pesquisadores envolvidos nos grupos de pesquisa, segundo o último censo do CNPq, em 2014, corroboram essa realidade. Em números totais, as mulheres representam 49% dos pesquisadores vinculados aos grupos. No entanto, em recortes específicos, essa porcentagem é bem diferente. Nas Ciências da Computação, por exemplo, 24% são mulheres. Na Física, 22% e nas Engenharias, 28%.

No intuito de mudar essa realidade, uma parceira do CNPq, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República (SPM/PR) e Petrobrás, iniciada em 2013, pretende estimular a formação de mulheres para as carreiras de ciências exatas, engenharias e computação no Brasil.

Foi lançada, já nesta época, dentro do Programa Mulher e Ciência, a chamada pública "Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação" (18/2013) para selecionar propostas de projetos com iniciativas de combate à evasão que ocorre principalmente nos primeiros anos destes cursos e despertar o interesse vocacional nas estudantes do ensino médio e da graduação por estas profissões e para a pesquisa cientifica e tecnológica.

A chamada teve o aporte inicial de R$ 11 milhões, sendo R$ 5 milhões do orçamento da SPM-PR, R$ 5 milhões do orçamento da Petrobrás e R$ 1 milhão do MCTI.

Foram aprovados 325 projetos, sendo que as áreas com o maior número de propostas foram a engenharia química, química, ciência da computação, engenharia da computação, engenharia mecânica, engenharia elétrica e física, envolvendo aproximadamente 1.500 bolsistas em todo país de 107 instituições.

"Dois anos depois do Edital, algumas dessas jovens relatam que não somente lugar de mulher é onde ela quiser estar, mas que cada uma delas pode ser uma peça na engrenagem do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. O edital fornecia, entre outras coisas, bolsas para as estudantes do ensino médio de escolas públicas. Apesar do número de bolsas concedidas não ter sido expressivo, o projeto teve dois efeitos notáveis. Ele afetou não somente as meninas diretamente envolvidas, mas toda a escola, pois a quebra do estereótipo tem um efeito multiplicador. Além disso, percebendo o potencial de inclusão desta idéia, outras organizações tem se inspirado no edital do CNPq para lançar projetos que motivem meninas do ensino médio a seguirem a área de exatas", disse Márcia Barbosa, que integrou o comitê de julgamento da chamada.

Resultados animadores

Mesmo tendo iniciado recentemente, a iniciativa já alcança seus primeiros resultados identificados pelo CNPq. O primeiro é a influência na escolha das meninas do ensino médio de continuar sua formação educacional. O ingresso na universidade tornou-se um objetivo mais próximo e as escolhas do curso foram influenciadas pela vivência no projeto. A maioria das meninas ouvidas afirmou que optaria por áreas afins da chamada como engenharias e ciências exatas. No caso das jovens da graduação, elas se sentiram mais motivadas a permanecer no curso.

Estes resultados são semelhantes aos que estão sendo reportados por bolsistas, orientadores, coordenadores na Iniciação Científica tanto na graduação quanto no Ensino Médio. A experiência de envolvimento com a pesquisa orientada por um ou uma pesquisadora ou pesquisadora qualificada tem orientado escolhas no ensino médio. No superior, tem gerado maior envolvimento com as atividades do curso e tem aprofundado os conhecimentos apresentados na graduação.

Outro impacto relatado foi as bolsistas passarem a ter mais visibilidade na escola e outras alunas se interessaram pelo projeto. O professor tutor de ensino médio, em alguns casos, demonstrou o interesse de dar continuidade à sua formação continuada e ingressar na pós-graduação. Em alguns casos, a comunidade também foi envolvida e houve a desmistificação do espaço da universidade e de cursos tradicionalmente masculinos como a física.

É o que demonstra casos como o da pesquisadora Josilene Aires, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), contemplada com o projeto "Mulheres na Ciência da Computação: Despertando vocações através da difusão do conhecimento atuar na educação de jovens do ensino médio, apresentando um novo olhar sobre as carreiras de Ciência da Computação e Engenharia da Computação".

Josilene conta que, por meio de oficinas, palestras, minicurso e rodas de conversa, foram alcançados resultados em duas dimensões distintas. "Do ponto de vista das alunas e professores do Ensino Médio envolvidos, o projeto desvendou o mundo da Universidade para as meninas, pois muitas nem sequer cogitavam a possibilidade de ingressar neste universo que para elas era tão distante, com barreiras intrasponíveis". A outra dimensão, segundo Josilene, foi o impacto sobre as próprias alunas do curso de Computação, que voluntariamente aderiram ao projeto, pois se sentiram apoiadas por ele, influenciando nas suas perspectivas de permanência no curso, inclusive diminuindo a evasão.

Outra experiência positiva foi vivida por Daniela Borges Pavani, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o projeto "Mulheres cientistas: Promovendo o interesse de meninas na ciência por meio da Física", pelo qual foram produzidos vídeos para promover a divulgação das ciências exatas, engenharia e computação e das mulheres nessas carreiras científicas, por meio da mídia. O resultado foi a criação do programa audiovisual Lugar de Mulher e do Programa de Extensão Meninas na Ciência. "Acredito que o principal resultado do projeto foi sua continuidade como programa de extensão da universidade, entrando neste ano em sua terceira edição. Além disso, o programa Lugar de Mulher tornou-se um programa fixo na grade da UFRGS TV. O projeto foi acolhido como uma ação de todo o Instituto de Física", conta Daniela.


Fonte: Coordenação de Comunicação do CNPq








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