21/07/2016
Membro da SBQ, Vitor Ferreira fala sobre os desafios da quÃmica
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O que lhe vem à cabeça quando você pensa em quÃmica? Segundo o Acadêmico Vitor Francisco Ferreira, professor do Instituto de QuÃmica da Universidade Federal Fluminense e membro do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de QuÃmica (SBQ), a sociedade em geral associa esse ramo da ciência a "chaminés fumegando gases poluentes e rios envenenados", ou à disciplina burocrática ensinada nas salas de aula, esquecendo-se do valor e da presença dos processos quÃmicos em nosso cotidiano.
Desenvolvendo essa análise, professor Ferreira apresentou a palestra "Como a quÃmica melhora nossa qualidade de vida" durante a 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Porto Seguro (BA).
Medicamentos, pigmentos de roupas, tintas de parede, motores de automóveis e inúmeros outros elementos com os quais lidamos habitualmente existem por conta de processos quÃmicos conhecidos. Mesmo nossos sentimentos e sensações são fruto das interações de moléculas em nosso organismo, como a dopamina, responsável pela sensação de bem-estar de quando estamos apaixonados ou a adrenalina, que nos aumenta os batimentos cardÃacos.
Nova face
De maneira geral, o que a quÃmica pretende é entender as formas, funções e interações de moléculas entre si e com os organismos e isso envolve outros ramos cientÃficos. "Há uma amplitude imensa de possibilidades", afirma Ferreira. "A quÃmica não está mais restrita a orgânica, inorgânica, biológica e fÃsica. Os últimos prêmios Nobel de quÃmica trabalham nessa interface."
Isso pode ser verificado. Em 2015, foram laureados com o prêmio Nobel de quÃmica Paul Modrich e Aziz Sancar, ambos geneticistas, e Tomas Lindahl, médico, por pesquisas sobre DNA, campo habitualmente associado à biologia.
Desafios
Uma das atividades econômicas mais importantes no Brasil atualmente é a fabricação de produtos e geração de energia a partir do petróleo. Por causa disso, a petroquÃmica é um dos ramos da quÃmica mais valorizados pelo retorno financeiro - mas, segundo Ferreira, esse cenário precisa mudar. "O petróleo um dia vai acabar e nós precisaremos produzir tudo sem ele. A alternativa para isso é a biomassa".
Embora o petróleo seja aproveitado quase integralmente - a taxa de resÃduos é em torno de 100g para cada Kg de material produzido - o problema é a persistência dos materiais no meio ambiente. "A popularidade da quÃmica é uma coisa que a gente pode solucionar com divulgação cientÃfica. O grande desafio, realmente, é o da quÃmica industrial, que precisa começar a fazer produtos com um ciclo de vida pensado, que se não forem biodegradáveis, possam ser reutilizados", disse o pesquisador.
Alguns exemplos de reaproveitamento de materiais apresentados pelo professor são o uso da fibra do coco para fabricação de copos e outros utensÃlios e do bagaço da laranja para óleo para combustÃvel e fabricação de medicamentos.
O planejamento da vida útil de um material e a sua reutilização caracterizam a chamada "quÃmica verde". "A expectativa do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do governo brasileiro é que até 2020 o Brasil produza R$ 20 bilhões em quÃmica verde", afirma Ferreira. "O custo é menor, o consumo de energia também e as fontes são renováveis. Com o tempo, a produção não-renovável vai acabar. Esse é o futuro da quÃmica", garante.
Entretanto, para que isso se concretize, o professor afirma que a quÃmica precisa superar a resistências dentro do setor empresarial. "O modelo econômico em que vivemos visa o lucro e acumulação de riqueza a curto prazo e isso é uma das barreiras da quÃmica sustentável."
Fonte:
Samil Chalupe para NABC
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