13/10/2016
No PPG-Q/UFPE, a QuÃmica dialoga intimamente com a fÃsica e outras ciências
Programa tem a diretriz: Formação de recursos humanos com um sólido embasamento quÃmico para a solução de desafios cientÃficos em áreas de fronteira entre a QuÃmica e FÃsica, Biomedicina e Engenharias
O Programa de Pós-Graduação em QuÃmica da Universidade Federal de Pernambuco é marcado por uma forte interação da quÃmica teórica com as demais áreas e tem conseguido produzir forte impacto social desde sua fundação em 1989. Como todos os demais programas do PaÃs, sofre com o pesado corte de financiamento público e tem buscado formas criativas para manter o volume e o ritmo das pesquisas.
A sÃntese é feita pela coordenadora do programa, Professora Thereza Soares, ela mesma dependente de recursos externos para conduzir seu trabalho em quÃmica computacional.
Professora Thereza conversou com o Boletim da SBQ por "Skype", diretamente da Universidade de Umea, no nordeste da Suécia, onde está em licença capacitação de três meses desenvolvendo seu trabalho em um regime financiado pelo governo sueco. "No governo anterior houve um grande investimento no envio de estudantes para o exterior e o inÃcio de uma série de cooperações de intercâmbio e pesquisa cientÃfica. Eu me inscrevi em uma chamada do governo sueco, fui aprovada e iniciamos esta colaboração em 2011", conta a professora.
Os recursos cobrem viagens de intercâmbio dos vários integrantes do grupo e uma conferência anual com quÃmicos de diversos paÃses e áreas diferentes envolvidos na mesma pesquisa. "Existem várias chamadas de vários paÃses, algumas especÃficas para brasileiros, outros não. É preciso correr atrás dessas oportunidades porque a situação do ensino no Brasil nunca esteve tão ruim. Estudei em escola pública e posso dizer que nunca vi nada igual em termos de falta de recursos", lamenta Thereza.
Em sua opinião a situação é um choque porque o Brasil saiu de um perÃodo recente em que houve investimento maciço em ciência. "Tenho três pós-doutores que submeteram projetos, todos avaliados com méritos, mas não há recursos." Thereza supervisiona o trabalho de três pós-doutorandos e coordena o Grupo de Modelagem de Biomateriais, com três doutorandos, um mestrando e quatro alunos de iniciação cientÃfica.
"O orçamento do nosso Programa para custeio em 2015 foi de aproximadamente 31 mil reais", conta a Professora Thereza. "Na gestão anterior criamos uma tradição de alocarmos 30% do orçamento para os orientadores recém-contratados. Mas na atual crise, não temos tido recursos nem mesmo para atividades básicas, como pagar participação de discentes em conferências, etc...", descreve.
Um dos poucos programas de pós-graduação no PaÃs a nascer com os cursos de mestrado e doutorado, o PPGQ/UFPE foi criado dentro de um departamento recentemente desmembrado do grupo de fÃsica atômica e molecular, coordenador pelos professores Ricardo Ferreira (fundador e segundo presidente da SBQ, precedido por Simão Mathias e sucedido por Fernando Galembeck) e Gilberto Sá. O Programa avaliado com conceito 6 pela Capes desde a criação deste Ãndice, caiu para 5 em 2010 e um triênio depois voltou para 6.
"O Programa surgiu com uma base muito forte na quÃmica teórica e na espectroscopia", conta a Professora Thereza. "Desde o inÃcio foi muito aberto à interdisciplinaridade, caracterÃstica presente até hoje, com grupos teóricos e experimentais trabalhando em conjunto", explica a coordenadora.
Este ano estão matriculados 76 doutorandos e 24 mestrandos, que realizam pesquisa em áreas clássicas da quÃmica (orgânica, inorgânica, fÃsico-quÃmica e analÃtica) assim como nas áreas de materiais, bioquÃmica computacional, farmacêutica, ecologia quÃmica. "Temos publicado, não só em revistas de quÃmica, mas também de áreas correlatas", observa Thereza.
O PPGQ/UFPE tem uma estrutura enxuta. São apenas 32 docentes permanentes e cinco colaboradores. "A Capes espera que os PPGQs tenham um número maior de professores. O nosso sempre foi pequeno. Ainda assim sempre tivemos um número de publicações bastante alto. Mas não estávamos publicando tanto quanto a Capes desejava com discentes. Parte do problema é que estávamos aceitando alunos sem muita seleção. Mudamos nosso processo de seleção. Temos prova de conhecimento em quÃmica geral, e prova de conhecimentos da lÃngua inglesa. Este foi nosso primeiro passo para retornar ao conceito 6", relata a coordenadora. "Mas no momento, sem recursos, será difÃcil uma transição para o conceito 7. No entanto, temos uma longa tradição de engajamento dos discentes no Programa, e iremos continuar produzindo da melhora forma possÃvel."
O professor Roberto Lins é outro orientador do Programa que conduz suas pesquisas graças a recursos externos. Com um doutorando e um pós-doutorando, ele trabalha no desenvolvimento de moléculas para diagnósticos e vacinas contra o vÃrus da zika, na FIOCRUZ, com recursos do Cura Zika Foundation, dos EUA, e da FACEPE. Em uma descrição básica, seu grupo concebe proteÃnas que não existem na natureza para uma cumprir uma função, e testa em modelos computacionais como essas proteÃnas interagem com proteÃnas virais e/ou anticorpos. Essas proteÃnas são posteriormente validadas experimentalmente. Para isso utiliza os serviços do supercomputador do Laboratório Nacional de Computação CientÃfica, em Petrópolis. "É um trabalho robusto, mas de alta demanda de recursos computacionais, onde o computador analisa todas as possibilidades para nossos modelos", descreve.
Lins é biólogo por formação, doutor em quÃmica teórica e tem uma experiência de 14 anos nos EUA e na SuÃça. Em 2010 voltou a Pernambuco e passou a orientar no PPGQ. Simultaneamente à pesquisa, mantém a orientação de três alunos ligados a outros projetos na mesma área.
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| Professor Roberto Lins (3º a partir da esquerda) com integrantes do seu grupo de pesquisa: desenvolvimento de moléculas para diagnósticos e vacinas contra o vÃrus da zika
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A Professora Joanna Kulesza é a mais jovem orientadora do Programa. Nascida na Polônia, ela chegou ao Brasil em 2011 para fazer pós-doutorado conjunto na UFPE e na UFRN. Em 2014 tornou-se professora adjunta na UFPE, e no ano seguinte entrou do PPG-Q como membro permanente. Ela coordena o Laboratório de QuÃmica Supramolecular e Materiais Avançados, do qual fazem parte um doutorando, um mestrando e dois alunos de iniciação cientÃfica, além mais dois de IC voluntários. "Estudamos MOFs para diversas aplicações, por exemplo como plataformas para carregamento de fármacos. É uma área nova da QuÃmica, com muita gente envolvida no mundo inteiro. Há três meses conseguimos um espaço fÃsico para o laboratório, e a pesquisa agora vai acelerar", explica Joanna.
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| Professora Joanna Kulesza (4ª a partir da direita) com seus alunos de QuÃmica Supramolecular e Materiais Avançados
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A UFPE foi a sede do encontro regional da SBQ-NE neste ano, um encontro que reuniu mais gente do que no ano anterior. "Tivemos 416 participantes, com 266 trabalhos inscritos", afirma a Professora Ana Paula Paim, secretária regional de Pernambuco da SBQ. Segundo ela, a regional tem se esforçado para atrair mais associados, e engajar mais os pós-graduandos na Sociedade. "Atualmente somos cerca de 30 associados em Pernambuco, e temos a expectativa de aumentar este número, sobretudo levando em conta o Congresso da IUPAC 2017, que será no Brasil."
Cinco publicações recentes que ilustram linhas de pesquisa em cada uma das áreas da QuÃmica:
O PPG-Q/UFPE conta com um número médio de 35 pesquisadores integrando seu corpo docente. O Programa possui um Ãndice h = 50 e "h2" = 15 (conforme definido pela CAPES e incluindo apenas os Ãndices H dos membros permanentes). Por esta razão, a escolha de 5 publicações que representem o PPG-QuÃmica é infactÃvel. Como alternativa, foram selecionadas publicações recentes i. de autoria de discentes do Programa, ii. cujo autor correspondente é docente permanente do Programa, e iii. sendo cada uma das publicações listadas representativa de uma das quatro áreas da QuÃmica, em adição à QuÃmica de Materiais.
QuÃmica Teórica
"Selectivity and Mechanisms Driven by Reaction Dynamics: The Case of the Gas-Phase OH– + CH3ONO2 Reaction", M.A.F. Souza, T. Correra, J.M. Riveros, R.L. Longo, J. Am. Chem. Soc. 2012, 134, 19004-19010.
QuÃmica Inorgânica
"A Comprehensive Strategy to Boost the Quantum Yield of Luminescence of Europium Complexes", N.B.D. Lima, S.M. Gonçalves, S. Alves Jr., A.M. Simas, Scientific Reports 2013, 3, 2395.
QuÃmica de Materiais
"Inkjet Printing of Lanthanide-Organic Frameworks for Anti-Counterfeiting Applications", L.L. da Luz, R. Milani, J.F. Felix, I.R.B. Ribeiro, M. Talhavini, B.A. Neto, J. Chojnacki, M.O. Oliveira, S. Alves-Jr., ACS Appl. Mater. Interfaces 2015, 49, 27115-27123.
QuÃmica Orgânica
"Electrochemical synthesis of organochalcogenides in aqueous médium", P.B.Ribeiro-Neto, S.O. Santana, G. Levitre, D. Galdino, J.L. Oliveira, R.T. Ribeiro, M.E.S.B. Barros, L.W. Bieber, P.H. Menezes, M. Navarro, Green Chemistry 2016, 18, 657-661.
QuÃmica AnalÃtica
"Determination of detergent and dispensant additives in gasoline by ring-oven and near infrared hypespectral imaging", L.R. Brito, M.P.F. da Silva, J.J.R. Rohwedder, C. Pasquini, F.A. Honorato, M.F. Pimentel, Anal. Chim. Acta 2015, 863, 9-19.
Leia a Ãntegra da entrevista concedida pela Professora Thereza Soares
Quando foi criado o PPG em QuÃmica da UFPE?
O PPG-QuÃmica, modalidades de Mestrado e Doutorado, foi criado em 1989 como parte do esforço do então recém fundado Departamento de QuÃmica Fundamental. Ao emergir do grupo de FÃsica Atômica e Molecular do Departamento de FÃsica da UFPE em 1982, o DQF já apresentava uma vocação interdisciplinar com inúmeros docentes atuando na interface entre a FÃsica e a QuÃmica, em especial nas áreas de QuÃmica Teórica e Espectroscopia. Esta caracterÃstica moldou o PPG-QuÃmica onde são formados pós-graduandos vindos de áreas tão diversas como FÃsica, Engenharias e Biologia.
Quais os cursos disponÃveis? Como é o processo de seleção?
Desde a sua criação, o PPG-QuÃmica é composto por cursos de mestrado acadêmico e de doutorado em QuÃmica nas quatro áreas (FÃsico-QuÃmica, QuÃmica AnalÃtica, QuÃmica Inorgânica e QuÃmica Orgânica).
O processo de seleção acontece semestralmente nos meses de Maio e Novembro. Os candidatos são avaliados em duas etapas. A primeira etapa que é eliminatória consiste de um exame de conhecimento em QuÃmica Geral e de um exame de conhecimento da lÃngua inglesa dentro do contexto de textos cientÃficos. A segunda etapa que é classificatória consiste da avaliação do curriculum vitae dos candidatos aprovados na primeira fase. O processo de seleção é realizado por um Comissão de Seleção constituÃda por um coordenador e professores do PPG-QuÃmica atuando em cada uma das quatro áreas da QuÃmica. A composição da Comissão de Seleção é alternada anualmente. Além disso, O exame de seleção para a PPG-QuÃmica é aplicado em Recife assim como em diferentes locais no paÃs e no exterior (versão em lÃngua inglesa), contando com a colaboração de docentes locais vinculados à instituições de ensino superior reconhecidas.
A atribuição das bolsas de mestrado e doutorado disponÃveis no Programa é feita em função da nota final obtida pelos candidatos no processo seletivo.
Quantas vagas são abertas anualmente?
Não há limite de vagas anuais. Até a seleção de 2016.1, o PPG-QuÃmica conseguiu absorver todos os candidatos aprovados nos processos de seleção para mestrado assim como doutorado. Atualmente existem 76 doutorandos e 24 mestrandos matriculados no Programa. Existem também um número significativo de graduandos envolvidos em atividades de iniciação cientÃfica em grupos de pesquisa associados ao PPG-QuÃmica. Devido ao requerimento de que todos os docentes do Programa ofertem ao menos uma disciplina semestralmente para os cursos de Graduação, graduandos são despertados no primeiro ano de Universidade para a pesquisa cientÃfica e a possibilidade de participarem do programa de iniciação cientÃfica. Adicionalmente, contamos com o Programa PET-QuÃmica, coordenado por docentes ligados ao PPG-QuÃmica.
Quantos discentes foram titulados até hoje?
Um total de 387 pós-graduandos foram titulados pelo PPG-QuÃmica. Desde a primeira defesa de tese em 1996 até setembro de 2016, um total de 185 doutores foram titulados. Ao nÃvel do mestrado, desde a primeira defesa de dissertação em 1991 até o momento, foram titulados 202 mestrandos.
Qual o destino dos egressos?
O PPG-QuÃmica não possui números exatos sobre o destino dos discentes egressos do mesmo. No entanto, a grande maioria dos egressos do PPG-QuÃmica atuam como docentes em instituições de ensino superior no paÃs e como pesquisadores em instituições nacionais e internacionais, um menor número de egressos atuam como professores no ensino médio e na indústria ou serviços de consultoria. Uma parcela significativa dos egressos no último triênio estão em estágio de pós-doutoramento no Brasil ou no exterior. Adicionalmente, o PPG-QuÃmica teve um papel importante na criação de novos Campi no interior dos estados nordestinos, tanto da universidades como de institutos federais e no fortalecimento de Programa de Pós-Graduação em QuÃmica, particularmente da UFS, da UFRPE e da UFPB, neste a maioria do corpo docente foi titulada pelo PPG-QuÃmica da UFPE.
Quantas publicações foram geradas até hoje?
O número de total artigos produzidos pelo PPG-QuÃmica desde a sua criação em 1989 e indexados no Web of Science (ISI) é de 1293 com um total de 18543 citações e um index H de 50. É interessante mencionar que entre as publicações do PPG-QuÃmica consta o artigo de autores brasileiros na área de QuÃmica com o maior número de citações no ISI, notando-se também que à exceção de um dos autores, todos os demais são docentes no Programa.
Gilberto F. de Sá, Oscar L. Malta, Celso M. Donegá, Alfredo M. Simas, Ricardo L. Longo, Petrus A. Santa-Cruz, Eronides F. da Silva Jr. Spectroscopic Properties and Design of Highly Luminescent Lanthanide Coordination Complexes. Coordination Chemistry Reviews 196(1): 165-195 (2000). Citações: 1041.
Nos últimos 12 meses foram publicados aproximadamente 143 trabalhos indexados no Web of Science (ISI).
Quantos e quais laboratórios?
O PPG-QuÃmica conta com uma Central AnalÃtica Multi-Usuário em adição a um total de 21 unidades laboratoriais compartilhada entre diferentes grupos de pesquisa como listado a seguir: Laboratório de Instrumentação e Automação em Análise QuÃmica, Laboratório de Arquitetura Molecular, Laboratório de Cátalise Orgânica, Laboratório de Compostos HÃbridos, Interfaces e Colóides, Laboratório de Ecologia QuÃmica, Laboratório de EletroanalÃtica, Laboratório de EletroquÃmica Edson Mororó Moura, Laboratório de EletrossÃntese Orgânica, Laboratório de Ensino em QuÃmica, Laboratório de Espectroscopia (BSTR), Laboratório de QuÃmica Teórica e Computacional (LQTC), Laboratório de QuÃmica do Estado Sólido, Laboratório de QuÃmica Orgânica Aplicada, Laboratório de Materiais VÃtreos e Dispositivos Fotônicos, Laboratório de Metodologia e SÃntese, Laboratório de Organometálicos, Laboratório de SÃntese de PolÃmeros, Laboratório de SÃntese Orgânica, Laboratório de Produtos Naturais, Laboratório de Terras Raras e Laboratório de RMN.
Quais as principais linhas de pesquisa em andamento?
O PPG-QuÃmica possui linhas de pesquisas em todas as áreas tradicionais da QuÃmica. As áreas de QuÃmica Inorgânica (espectroscopia de terras raras) e QuÃmica Teórica constituÃram a base da pesquisa desenvolvida no Programa durante a sua primeira década de existência. Ao longo dos anos seguintes, linhas de pesquisa associadas à QuÃmica Orgânica e QuÃmica AnalÃtica foram estabelecidas. Atualmente, vários docentes do Programa atuam em linhas de pesquisa na interface entre a QuÃmica e outras áreas como é o caso da ecologia quÃmica, quÃmica biológica, biologia molecular e ciências de materiais. Uma descrição mais detalhada das diferentes linhas de pesquisa desenvolvidas por docentes do PPG-QuÃmica pode ser encontrada em www.ufpe.br/dqf/.
Quais os principais desafios enfrentados atualmente?
O PPG-QuÃmica enfrenta atualmente duas categorias de desafios. O primeiro desafio parece ser comum à todos os Programas de Pós-Graduação no paÃs, e refere-se aos cortes no orçamento federal dedicado à educação, ciência e tecnologia. Por exemplo, em 2016 o PPG-QuÃmica que possui conceito 6 da CAPES manteve-se com um orçamento de aproximadamente R$ 31.000,00. É claro que torna-se impossÃvel manter condições mÃnimas de funcionamento de laboratórios, despesas com participação de membros em bancas de defesa, seminários e participação de discentes em conferências. O corte das bolsas do Programa pela CAPES no inÃcio de 2016 terá um grande impacto no próxima processo de seleção do Programa já que no momento não temos bolsas disponÃveis para novos ingressos.
A segunda categoria de desafios reflete dificuldades inerentes ao contexto institucional-regional do nosso Programa. Por exemplo, a ausência de infraestrutura predial adequada, a instabilidade da rede internet, constantes quedas ou picos de energia, inundações de laboratórios de pesquisa resultam em interrupções de inúmeros projetos de pesquisa e resultam em gastos adicionais com conserto de equipamentos em um momento em que os recursos são extremamente escassos. Um outro desafio é a falta de espaço fÃsico devido ao atraso em vários anos na construção da expansão fÃsica do prédio do Dept. de QuÃmica Fundamental. Como resultado, aproximadamente 5 docentes recém-contratados e participando do Programa não possuem laboratórios, e trabalham em vários laboratórios na UFPE.
Qual a vocação da quÃmica na região?
A tradição de Pernambuco é a cana de açúcar. A indústria mais avançada que daà evoluiu foi a fábrica de borracha sintética. Como uma iniciativa isolada surgiu a bem sucedida fábrica de baterias, a Moura. Nos últimos anos surgiram muitas novas indústrias, em petroquÃmica, alimentos e bebidas. Havia a poucos anos uma expectativa, não concretizada de indústria farmacêutica. Enfim, não se pode identificar uma vocação quÃmica na região, sendo o esforço de formação canalizado para a atividade acadêmica e docência.
Qual o perfil dos discentes?
Os discentes do PPG-QuÃmica devem cumprir pelo menos 16 créditos atribuÃdos à 4 disciplinas em cada uma das áreas de concentração do Programa (FÃsico-QuÃmica, QuÃmica Inorgânica, QuÃmica AnalÃtica e QuÃmica Orgânica) de um total de 48 (Doutorado) e 28 (Mestrado) créditos. Os demais créditos devem ser atribuÃdos à s disciplinas de Colóquios, Seminários e disciplinas eletivas na área de interesse do discente. Estas últimas podem ser cursadas em qualquer outro departamento ou instituições de ensino superior nacional ou internacional reconhecidas.
Este modelo tem resultado na formação de discentes com uma fundamentação sólida em QuÃmica, e com capacidade para expandir e aplicar estes conhecimentos à solução de problemas em áreas de fronteira cientÃfica assim com na interface entre a QuÃmica e outras ciências. Adicionalmente, a forte tradição de interação entre grupos de pesquisa experimentais e teóricos no Programa tem moldado em nossos discentes a habilidade de integrar conhecimentos da QuÃmica experimental e teórica.
Os alunos e orientadores costumam participar de eventos regionais ou nacionais cientÃficos, da SBQ por exemplo?
Sim. No entanto devido aos recursos limitados não tem sido possÃvel ao Programa oferecer auxÃlio aos discentes para a participação em eventos cientÃficos.
Apesar das dificuldades orçamentárias, a coordenação e os docentes do PPG-QuÃmica tem buscado estimular a participação de todos em eventos da SBQ. Adicionalmente, o Departamento de QuÃmica Fundamental da UFPE, com o apoio da PPG-QuÃmica, sediou o VII SBQ Nordeste (para maiores informações visitar www.ufpe.br/sbqrecife/). É importante ressaltar que os docentes do PPG-QuÃmica possuem uma relação histórica com a SBQ a qual teve inÃcio desde a sua criação liderada pelos Profs. Ricardo Ferreira e Gilberto Sá, ambos Sócios Fundadores da SBQ. De fato, o Prof. Ferreira em 1997 foi agraciado pela SBQ com o tÃtulo de Presidente de Honra da sociedade.
Quais os pontos fortes do Programa?
O ponto forte do programa é a sólida base teórica e a cooperação entre teóricos e experimentais em todas as áreas. A área mais tradicional, de compostos de Ãons lantanÃdeos, por exemplo, novos compostos são sintetizados, incluindo a sÃntese dos ligantes atendendo direcionamento para otimização das propriedades com base nos estudos teóricos e medidas espectroscópicas. A área de desenvolvimento mais recente, a quÃmica analÃtica, foi iniciada por pesquisadores reconhecidos nas áreas de espectroscopia e quimiometria em colaboração com especialistas em quÃmica analÃtica.
Reminiscências do Professor Arnóbio Gama, um dos criadores do PPG-Q/UFPE:
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| Professor Arnóbio Gama.
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Participei da criação do programa de pós-graduação em quÃmica na UFPE junto com outros colegas, na verdade participei ainda mais ativamente da criação do Departamento de QuÃmica Fundamental (1982), e no inÃcio priorizamos elevar o padrão da graduação, para só depois começar a pós-graduação. Como na época tÃnhamos boa massa crÃtica e uma produção cientÃfica bem consolidada, além da presença de dois pesquisadores mais experientes, Ricardo de Carvalho Ferreira e Gilberto Fernandes de Sá, pedimos a abertura do programa já nos nÃveis de mestrado e de doutorado e fomos atendidos. Na época também contávamos com financiamentos da FINEP e do PADCT.
Nosso referencial foi sempre Ricardo Ferreira, que permaneceu todo tempo vinculado à UFPE embora, para se manter ativo em pesquisa, tivesse que passar perÃodos em outras instituições, no exterior (CALTECH, Columbia, Indiana, Earlham College) e no paÃs (CBPF, USP e UFSCAR). A biografia cientÃfica de Ricardo é por demais conhecida, mas o que mais nos impressionava era
seu amplo interesse cientÃfico, suas fortes convicções polÃtico-ideológicas, particularmente a respeito do papel da educação e da pesquisa cientÃfica no desenvolvimento do paÃs, e seu conhecimento a respeito de grandes personalidades da ciência do século XX, Pauling, Bohr, Oppenheimer entre muitos outros. Além de formar e influenciar vários membros da equipe que fundou o departamento e em seguida a pós-graduação, atraiu jovens pesquisadores, não somente talentosos, mas também diferenciados em vários aspectos, como, por exemplo, Antônio Carlos Pavão, que havia então concluÃdo o primeiro doutorado com trabalho em quÃmica quântica pela USP.
Na UFPE Ricardo havia migrado em 1970 do antigo Departamento de QuÃmica para o Departamento de FÃsica, onde Sérgio Rezende começava a organizar um grupo de pesquisa em fÃsica o estado sólido e ele trazendo do Ceará Gilberto Fernandes de Sá contribuiria com a formação de um grupo de pesquisa em fÃsica atômica e molecular. O programa de pós-graduação em fÃsica foi logo muito bem sucedido, recebendo conceito máximo na CAPES, e conquistou financiamentos vultosos na época, quando a FINEP concedia forte apoio institucional. Mas, permanecendo na fÃsica o grupo tinha limitada influência na formação de novos quÃmicos, uma vez que tinha que atender o perfil que se esperava de um doutor em fÃsica, inclusive publicando sempre em bons periódicos de fÃsica. O grupo de fÃsica atômica e molecular teve uma contribuição importante no programa de fÃsica formando mestres e doutores que obtiveram grande destaque, alguns permanecendo na fÃsica até o presente, e outros que vieram a fundar um novo departamento, que recebeu esse nome Departamento de QuÃmica Fundamental. Curiosamente foi deste grupo, e particularmente dos que fundaram o novo departamento (Oscar Loureiro Malta e Gilberto F. de Sá), o primeiro trabalho publicado no Physical Review Letters, o periódico de maior impacto da área de fÃsica.
No inÃcio da década de 80 o CNPq cogitou estabelecer no paÃs um centro de pesquisa nacional na área de quÃmica, que poderia se tornar destino de alguns membros do nosso grupo. Mas a necessidade de fortalecer a pesquisa em quÃmica no paÃs terminou sendo direcionada para a criação de um programa nacional para apoiar o fortalecimento de grupos de pesquisa em quÃmica. Em dezembro de 1982 criamos o novo departamento, formado pelo grupo já consolidado no departamento de fÃsica, atuando em quÃmica quântica e espectroscopia de terras raras, e jovens doutores contratados pelo antigo departamento de quÃmica. Além de buscar novos pesquisadores de fora do estado e do paÃs, o novo departamento incorporou dois pesquisadores já experientes em quÃmica orgânica que se encontravam na UFPE, Rajendra Mohan Srivastava e Lothar Bieber.
O Programa Nacional de QuÃmica não chegou a ter o esperado impacto, mas logo em seguida foi criado o PADCT, com um subprograma de quÃmica e engenharia quÃmica, reconhecidamente a ação mais impactante na pesquisa quÃmica brasileira. Apoiados por projetos para cursos de graduação, programas de pós-graduação, bibliotecas, grupos de pesquisa em consolidação e grupos de pesquisa consolidados, obtivemos vários financiamentos em diversas etapas do PADCT. No inÃcio o programa não desenvolvia pesquisas em quÃmica analÃtica, mas um dos membros da equipe, BenÃcio de Barros Neto, já era um dos mais importantes especialistas em quimiometria no paÃs. Então, em parceria com Mário Ugulino de Araújo, quÃmico analÃtico vinculado à UFPB, foram orientados os primeiros mestres e doutores em quÃmica analÃtica. Uma caracterÃstica que marcou o novo departamento e se mantem no programa de pós-graduação é a cooperação entre pesquisadores de diferentes subáreas, particularmente a cooperação entre aqueles que desenvolvem teoria, os que preparam e caracterizam novos compostos ou materiais e os que realizam medidas experimentais, de uma forma tal que torna possÃvel o planejamento de novos compostos ou materiais de maneira a maximizar as propriedades de interesse. Atualmente grande parte dos pesquisadores atua com nanomateriais e vêm recebendo seguidamente financiamentos importantes, como o instituto do milênio de materiais complexos, a rede de nanotecnologia molecular e interfaces (Renami) e o instituto nacional de nanotecnologia para marcadores integrados (Inami). Embora inovação e empreendedorismo não possa ser considerado um esforço maior da equipe, tem havido registros de patentes (32), particularmente por Petrus Santa Cruz e Walter Azevedo. O primeiro criou, em 2000, a Ponto Quântico, considerada a primeira empresa em nanotecnologia no paÃs.
Assim conseguimos contribuir significativamente para a formação de professores e orientadores para outros programas de pós-graduação da região. Temos ex-alunos compondo corpo docente de várias instituições no sul, no sudeste, no centro-oeste, mas, principalmente na região nordeste, destacando-se a UFPB, e a UFRPE, pela elevada quantidade de docentes da pós-graduação formados no programa da UFPE.
Em termos de impacto social o maior destaque pode ser considerado a contribuição do grupo de eletroquÃmica, liderado por Flamarion Diniz, para a indústria de baterias Moura. Foram muitos anos de parceria desde que a indústria, sediada em Belo Jardim, no agreste pernambucano, sofreu com a concorrência das baterias secas importadas do exterior até o momento em que se tornou lÃder no mercado de baterias no paÃs, com presença no mercado externo. No perÃodo entre 1994 e 1996, Flamarion chegou a reduzir o regime de trabalho para atuar como assessor da diretoria técnica da empresa, sem deixar de lecionar na graduação e na pós-graduação e orientar mestres e doutores, inclusive em uma tese diretamente relacionada com o tema. O nosso laboratório de eletroquÃmica passou a ser denominado Edson Mororó Moura em reconhecimento ao fundador da empresa. Em novembro de 2012 o Grupo Moura criou o Instituto de Tecnologia Edson Mororó Moura, entidade sem fins lucrativos dedicada a projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em acumuladores de energia.
Os docentes do programa também tiveram sempre um envolvimento com projetos para melhoria do ensino básico, desde os projetos financiados pelo PADCT, subprograma de educação para a ciência, que apoiaram laboratórios em várias escolas estaduais em todo o estado, na época denominadas de centros de referência, até a criação do Espaço Ciências, dirigido desde então pelo Professor Antonio Carlos Pavão. O Espaço Ciências é um museu de Ciências reconhecido internacionalmente, assim como seu diretor, mas faz muito mais que um museu de ciências, organizando feiras de ciências, exposições e cursos, com participação de diversos docentes do programa de pós-graduação em quÃmica da UFPE.
Vale ainda mencionar o Grupo PET, criado a partir do programa da CAPES em 1988, atualmente vinculado à SESu/MEC, que tem intensa atuação junto às escolas, tanto promovendo visitas de estudantes como realizando atividades nas próprias escolas.
Em 2004 uma colaboração entre Pavão e Paulo Barros levou o laureado com o Nobel de QuÃmica, Roald Hoffmann, a desfilar na SapucaÃ, como uma ação de popularização da ciência e interação ciência cultura, como diz o próprio Hoffmann (http://www.roaldhoffmann.com/sites/all/files/will_we_stop_at_nothing.pdf). Muitas dessas ações foram resultado do engajamento polÃtico-educacional do núcleo docente, certamente influenciados pelo nosso lÃder, Ricardo Ferreira e pelas oportunidades polÃticas ofertadas pela participação do professor Sérgio Rezende nos governos estadual e federal.
Ainda no capÃtulo da popularização da ciência, Petrus Santa Cruz com o Maracatu Várzea do Capibaribe, criou o "Bloco f", que desfila pelo campus da UFPE e faz homenagens a pesquisadores que trabalham com a série de lantanÃdeos, em prévia carnavalesca. Em 2014 homenageou os 70 anos de Gilberto Sá, em 2015 os 60 anos de Oscar Malta, e em 2016 os 60 anos de Walter Azevedo e os 70 anos de Cid Araújo (http://blocofdqf.blogspot.com.br).
Acho relevante citar a contribuição que docentes do programa têm dado na ocupação de cargos e funções de natureza acadêmica, a exemplo de comitê assessor do CNPQ (Ricardo Ferreira, Gilberto Sá, Arnóbio Gama, Oscar Malta, Alfredo Simas e Severino Alves Júnior), coordenação de área e conselho técnico cientÃfico da CAPES (Arnóbio Gama), diretoria cientÃfica da FACEPE (Arnóbio Gama), coordenação do CETENE (André Galembek), reitoria (Mozart Ramos) e pró-reitorias de ensino (Mozart Ramos e Arnóbio Gama) e de extensão da UFPE (BenÃcio de Barros Neto, secretaria estadual de educação, conselho nacional de educação e presidência do movimento todos pela educação (Mozart Ramos), além da direção do espeço ciências, já citada. Particularmente, Mozart Neves Ramos enquanto ainda orientador do programa foi agraciado com três significativos prêmios internacionais pela atuação como educador (Personalidade das Artes, Ciências e Letras da França, Academia de Artes, Ciências e Letras da França - 2006, Educador Internacional do Ano, International Biographical Center - Cambridge – Inglaterra – 2005, Cavaleiro da Ordem do Mérito da República Italiana, Presidência da República da Itália - 2002).
Em Pernambuco foram criados dois instrumentos de reconhecimento aos cientistas que se notabilizam pela contribuição em suas áreas: o memorial dos notáveis cientistas pernambucanos, criado pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, que a cada ano presta homenagem a um cientista já falecido em cada uma das três grandes áreas do conhecimento, e o Prêmio Ricardo Ferreira, concedido pela Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia de Pernambuco a cada dois anos, em uma das três grandes áreas, a um pesquisador que tenha se destacado por sua contribuição à ciência. O primeiro Prêmio Ricardo Ferreira foi concedido em 2015, ao nosso colega Oscar Malta.
O momento para a pesquisa cientÃfica no Brasil é péssimo. No final de 2010 vivÃamos o auge do entusiasmo, havia regularidade de financiamento a projetos, bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado atendendo a demanda qualificada e expansão das universidades e institutos federais oferecendo oportunidade para fixação dos recém-formados. Crescia o incentivo à inovação que se considerava nossa maior carência. Em Pernambuco, particularmente, cresceu o financiamento a projetos de pesquisa e oferta de bolsas de formação e fixação, inclusive com valores diferenciados, a partir de 2007 e foram criados mecanismos institucionais e legais para sua estabilidade. Mas atualmente não estamos tendo a nÃvel federal oferta adequada de financiamentos para a pesquisa nem de bolsas de formação e de fixação de pesquisadores e no estado houve uma queda de investimentos em consequência da queda na arrecadação.
Texto: Mario Henrique Viana (assessor de imprensa da SBQ)
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