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08/12/2016



Erros e acertos


A vantagem de olharmos para situações no passado é que podemos ver se essa estratégia funcionou. Vamos aos fatos. Em 11 de agosto, ainda em 1998, a FSP publicou sob o subtítulo “Bolsas abrem em alta no Japão e na Coréia do Sul” a seguinte informação: Também a Bolsa de Seul, na Coréia do Sul, abriu hoje em alta de 2,27%, impulsionada pela expectativa de que o governo iria anunciar medidas para incentivar o crescimento da economia, incluindo cortes nas taxas de juros. Mais adiante, em 22/09/1998, sob o título “Medidas de austeridade colocam crescimento em risco, diz FMI” a FSP publicou: Os governos dos países da América Latina podem colocar em risco o crescimento da região se elevarem muito os juros e cortarem despesas de forma drástica para defender o valor das moedas. A avaliação é de Charles Adams, diretor-assistente de pesquisa do FMI (Fundo Monetário Internacional). “Todos na América Latina estão reduzindo a demanda interna, o que pode ter impacto muito negativo no crescimento da região.” Ou seja, contrariamente ao que a Coreia do Sul e o Japão fizeram, a nossa ênfase no combate à mesma crise, da qual fomos vítimas indiretas, foi no sentido exclusivo de cortes de despesas, e afetando duramente o setor de C&T no Brasil. Tanto é a assim que em 11/11/1998 a FSP publicou, sob o título “Reitores pedem manutenção de bolsas de pesquisa científica”, a notícia: Durante a audiência que será agendada com o presidente, os reitores vão argumentar que países como a Coréia do Sul e o Japão, que estão passando por crises semelhantes, não fizeram cortes em ciência e tecnologia, considerada uma área estratégica.

Passados quase 19 anos, podemos ver quem agiu mais inteligentemente – nós ou a Coreia? Em 1999, o PIB coreano saltou para impressionantes 11,3% (com crescimento médio de 7% no período subsequente de 5 anos), enquanto nosso PIB se manteve quase inalterado (0,3 para 0,5%). Mais importante do que isso, a Coreia é hoje um dos países mais inovadores tecnologicamente. Quem duvidar, verifique a marca do seu carro, televisor, computador, tablet ou celular. Há uma alta chance de que vários sejam coreanos.

Hoje enfrentamos nossa própria crise, que não é pior do que a enfrentada pela Coreia em 1998. Não se fala em moratória, não há uma crise cambial, e o nosso PIB caiu menos do que o da Coreia então. Qual a nossa receita para enfrentá-la? Exatamente a que foi criticada pelo diretor do FMI e que deu resultados pífios. E desta vez ainda mais grave, porque o Senado está em vias de consolidar esse disparate na Constituição, tolhendo nosso desenvolvimento científico e tecnológico por 20 anos. Acho que deveríamos aprender um pouco com nossos erros e com os acertos de outros países.

Paulo Sérgio Lacerda Beirão é diretor de Ciência Tecnologia e Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)


Fonte: Jornal da Ciência








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