02/02/2017
De um braço fraturado ao Prêmio Nobel
Ada Yonath, israelense laureada em 2009 pela determinação da estrutura do ribossomo, vem para o Congresso Mundial de QuÃmica
A curiosidade da forte menina de cinco anos a fez colocar sobre a mesa onde eram servidas as refeições, outra mesa menor. Sobre a as mesas colocou uma cadeira e em cima de tudo um pequeno banco. Ela queria medir a altura do pé direito do apartamento em que morava com pai, mãe e mais duas famÃlias – para baratear os custos. Ao ver que o banco não alcançava o teto, não teve dúvidas: subiu pela instalação, mas antes de conseguir encostar a mão no teto, forças fÃsicas até então desconhecidas balançaram o banco e ela caiu como a maçã de Newton.
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Ada Yonath: "Os avanços que fizemos em nossa longa jornada para determinar a estrutura e o funcionamento do ribossomo nos mostrou caminhos para melhorar antibióticos existentes e desenvolver novos fármacos." Foto: Frida Westholm
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O braço quebrado foi o resultado do primeiro experimento cientÃfico de Ada Yonath, nascida em 1939 em Jerusalém, laureada com o Prêmio Nobel de QuÃmica em 2009 (junto com Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz) por seus estudos sobre estrutura e função dos ribossomos – seu prêmio recolocou as mulheres no Olimpo da QuÃmica depois de 45 anos. Ada é uma das palestrantes keynote no Congresso Mundial de QuÃmica (IUPAC 2017) a ser realizado de 9 a 14 de julho, em São Paulo.
Aos 11 anos Ada frequentava uma escola primária a custo de extremo esforço dos pais. Era versada em judaÃsmo e prendas domésticas quando seu pai, homem de saúde frágil, faleceu. "A receita da famÃlia era próxima de zero e comecei a trabalhar fazendo limpeza e cuidando de crianças", lembra a cientista. A mãe decidiu mudar-se para Tel Aviv para ficar perto das irmãs e Ada teve ajuda para concluir os estudos.
Durante o perÃodo militar obrigatório, no serviço secreto das forças médicas de Israel, Ada teve contato com a medicina e o ambiente clÃnico. Ao terminar seu perÃodo militar matriculou-se na Hebrew University onde estudou quÃmica, bioquÃmica e biofÃsica. Seu doutorado foi feito no Weizmann Institute, onde estudou a estrutura do colágeno. Depois do pós-doutorado feito nos Estados Unidos retornou ao Weizmann Institute onde criou o primeiro departamento de cristalografia de Israel. "Eu tinha um plano ambicioso de desvendar o processo de biossÃntese de proteÃnas. E para isso precisava determinar a estrutura tridimensional do ribossomo", conta em sua autobiografia no nobelprize.org. "Foi o inÃcio de uma batalha de mais de duas décadas em que enfrentei a descrença da comunidade cientÃfica – cheguei a ser ridicularizada."
Em colaboração com o Max Planck Institute, Ada persistiu e publicou a primeira estrutura completa de um ribossomo bacteriano em 2000. "Os avanços que fizemos em nossa longa jornada para determinar a estrutura e o funcionamento do ribossomo nos mostrou caminhos para melhorar antibióticos existentes e desenvolver novos fármacos." Segundo Ada é factÃvel a ideia de produzir antibióticos com especificidade patogênica, que não criem resistência. "Por entender os ribossomos podemos pensar em antibióticos mais eficientes e seletivos."
Ouça entrevista de Ada Yonath para o nobelprize.org:
https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/2009/yonath-interview.html
Ainda é tempo de inscrever o seu trabalho para o Congresso Mundial de QuÃmica. O prazo encerra-se amanhã, 3 de fevereiro. Acesse: http://www.iupac2017.org/abstract.php
Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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