16/02/2017

Prêmio Kurt Politzer/Empresa – 2016
Abiquim

Premiado em dezembro último com o "Kurt Politzer, categoria Empresa", estudo dos pesquisadores Leandro Soter de Mariz e Miranda e Rodrigo Octávio Mendonça Alves de Souza destacou fato inédito em pesquisa no Brasil: o uso do fluxo contínuo no processamento de ativo - a Capecitabina - para fabricação de fármaco.

Prof. Rodrigo e Prof. Leandro são parceiros da empresa Nortec Química desde 2013. Os dois pesquisadores do IQ somaram, nos seis últimos anos, mais de 50 artigos científicos publicados sobre o emprego do fluxo contínuo em pesquisa. Atualmente, dispõem de cinco moléculas selecionadas, das quais quatro já trabalhadas com a empresa, que é sua parceira em vários projetos. Esta topou o desafio e, em 2016, inscreveu a pesquisa para o Prêmio. Como justificativa, a maior segurança operacional na manipulação da substância ativa através desta técnica, menor impacto ambiental e menor custo fixo.

O projeto "Inovação na fronteira do conhecimento entre a Nortec Química e o Instituto de Química da UFRJ alavancando a tecnologia de fluxo contínuo na produção de fármacos de alta potência" lança mão da troca de solventes clorados em bases orgânicas para água e carbonatos orgânicos. Com isto, são menores os rejeitos ambientais se comparados a outros processos mais convencionais. Segundo os dois pesquisadores, este é um dos princípios da Química Verde. Tanto a Nortec como os dois professores cogitam em patentear a inovação junto ao INPI.

Por compromissos de trabalho, no entanto, Marcus Soalheiro Cruz, engenheiro químico, e Otávio Vianna de Carvalho, farmacêutico industrial, ambos da NORTEC, não participaram da entrevista. Fizeram questão, porém, de ler os comentários de Sergio Falomir, coordenador de Projetos e Parcerias Institucionais da empresa, chegando a opinar em alguns pontos.

INFORMATIVO IQ - Inovação está no título do projeto de vocês, vencedor do Prêmio Kurt Politzer-2016. Qual papel ela ocupa neste estudo, que trata da síntese de um princípio ativo quimioterápico, a Capecitabina, por meio de uma tecnologia de fluxo contínuo?
LEANDRO SOTER e RODRIGO OCTAVIO ALVES DE SOUZA - A abordagem utilizada pelo Laboratório de Biocatálise e Síntese Orgânica do IQ para o desenvolvimento do processo de obtenção da Capecitabina é inovadora em dois aspectos: primeiro, o processo modifica a maneira de se obter a Capecitabina, passando de duas reações independentes para apenas uma reação; segundo, utiliza a tecnologia de fluxo contínuo como uma ferramenta para o aumento da eficiência do processo desenvolvido. Isto consolida o nosso grupo e a Nortec como pioneiros na utilização desta tecnologia para produção de Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFA) no Brasil, equiparando-se às grandes empresas internacionais.

IQ - Vocês buscaram, com esta tecnologia, aumentar a eficiência do processo que leva à síntese de moléculas detentoras de ingredientes farmacêuticos ativos. Qual a vantagem disso em relação às tecnologias convencionais atualmente adotadas? É mais econômico? As quantidades dos reagentes são menores? O grau de pureza do produto final é maior?
LS/ROAS - As vantagens são inúmeras. Em primeiro lugar o processo desenvolvido fez com que deixássemos de utilizar um solvente orgânico altamente tóxico (CH2Cl2) e passássemos a utilizar água, obedecendo assim os conceitos de química verde para processos ambientalmente seguros. Este novo protocolo desenvolvido permitiu que, ao invés de duas reações consecutivas, fizéssemos apenas uma reação, reduzindo desta maneira o número de horas na fabricação do IFA, quantidade de materiais utilizados e, principalmente, de rejeitos gerados. Há também a vantagem, em se tratando de um medicamento de alta potência, de maior estanqueidade do processo, com menor número de operações, diminuindo risco de contaminação da área de produção e operadores. Além das características descritas acima, podemos também comentar no aumento da pureza do produto obtido através deste novo processo, além da maior segurança.

IQ - Os Senhores poderiam enumerar as vantagens para o uso dos reatores de fluxo contínuo na indústria farmoquímica?
LS/ROAS, SÉRGIO FALOMIR PEDRAZA - 1) Maior eficiência no controle de parâmetros de reação e na mistura dos reagentes; 2) Menor custo na otimização das condições de reação; 3) Menor número de etapas para o escalonamento; 4) Maior eficiência energética; 5) Menor número de operações no isolamento do produto; 6) Maior segurança na operação de moléculas de alta potência (HPD); 7) Maior precisão no controle de temperatura.

IQ - Como a Nortec considera esta parceria com o IQ?
SFP - A NORTEC QUÍMICA S.A. vem mantendo, ao longo de sua História de Vida de mais de 30 anos, trabalhos em conjunto e Acordos de Cooperação Tecnológica com as mais importantes ICT´s do Brasil. A parceria com o IQ se insere dentro da estratégia de partilhar os trabalhos de desenvolvimento na área de síntese orgânica de Insumos Ativos Farmacêuticos entre aqueles realizados no interior da NORTEC e os realizados nos ICT´s. Neste momento, também estão sendo realizados outros trabalhos de desenvolvimento em escala laboratorial para dar suporte aos vários projetos que objetivam o lançamento de novos IFA´s essenciais à Saúde Pública do País.

IQ - Explique, por favor, a atual política da Nortec para a contratação de profissionais qualificados para as atividades internas de P&D. (doutores e mestres empregados).
SFP - A NORTEC QUIMICA possui em seus quadros um percentual de 40% de profissionais de nível superior. Em relação à área de P&D, especificamente, a Empresa tem como politica, além de trabalhar em cooperação com os ICT´s – que visa oxigenar permanentemente os seus profissionais - a contratação de pesquisadores com a maior qualificação possível devido à necessidade do setor em que a Nortec se encontra, que é da mais alta densidade tecnológica. No setor de P&D da NORTEC, 20% são mestres e 20% são doutores.

IQ - Neste projeto em parceria foi feito algum depósito de patente junto ao INPI? Caso positivo, qual a sua importância?
SFP - Até este momento, não, pois estamos em fase de elaboração. A importância é resguardar o conhecimento adquirido e proteção para a produção deste produto pelo processo desenvolvido, sem possibilidade de concorrência no mercado.

Fonte: Rodrigo Octávio Mendonça Alves de Souza (UFRJ)