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02/03/2017



IUPAC 2017: O Nobel das nanomáquinas vem ao Brasil


Sir Fraser Stoddart é um dos responsáveis pelo desenho e síntese de compostos moleculares com ligações mecânicas, capazes de realizar uma tarefa

Seu fascínio pela Química vem da possibilidade única que essa ciência permite de construir coisas como faz um engenheiro, que sejam expressão da criatividade do autor. Em sua opinião, as demais ciências – e a Química também – são sobre descobrir segredos do universo. Sir Fraser Stoddart, nascido em Edimburgo, na Escócia, criado em uma fazenda, aficionado por quebra-cabeças e jogos infantis, é um dos três vencedores do Prêmio Nobel de Química de 2016, por seu trabalho com desenho e síntese de nanomáquinas baseadas em ligações mecânicas. Ele será um dos palestrantes convidados do Congresso Mundial de Química (IUPAC 2017), que será realizado de 9 a 14 de julho, em São Paulo.

Sir Fraser Stoddart discursa na cerimônia do Nobel: "Rapidamente entendi que a química, mais do que qualquer outra ciência, me daria as melhores e maiores oportunidades para ser criativo. Um químico, assim como um artista, pode criar um objeto inédito e depois estudar suas propriedades e funções"


Infográfico publicado pela revista Nature mostra algumas das máquinas criadas por Stoddart e seus colegas laureados Jean-Pierre Sauvage e Bernard Feringa
(clique na imagem para ampliá-la)

"No começo, em Edimburgo, eu achava que meu futuro seria na medicina. O caminho envolvia uma interação próxima com as ciências e iniciei meus estudos em química, física e matemática. Logo me tornei mais interessado pelas ciências e a medicina perdeu significado para mim. Ao mesmo tempo em que eu reconhecia que poderia ajudar as pessoas mais diretamente em uma profissão médica, percebi que não poderia seguir minha paixão por pesquisa, que já brotava em mim. Rapidamente entendi que a química, mais do que qualquer outra ciência, me daria as melhores e maiores oportunidades para ser criativo. Um químico, assim como um artista, pode criar um objeto inédito e depois estudar suas propriedades e funções", diz Stoddart.

Ele publicou seu primeiro artigo em 1964, pela universidade de Edimburgo, dois anos antes de obter seu doutorado na mesma instituição. Depois passou três anos no Canadá, na Queen´s University onde fez seu primeiro pós-doc. Começou a lecionar em 1970, na Universidade de Sheffield, na Inglaterra. "Eu não estava bem preparado para lidar com os colegas mais antigos na pesquisa, que tinham alguma inveja de minhas recentes conquistas. Eu vinha de uma comunidade de fazendeiros na Escócia, em que a solidariedade era a tônica. Foram anos muito estressantes", contou em uma entrevista.

Durante os anos 80, quando começou a trabalhar com nanomáquinas, Stoddart era uma voz dissonante entre os químicos britânicos, que discursavam contra o baixo nível de financiamento como causa da baixa produtividade acadêmica. "Eu não achava que era uma questão de haver pouco dinheiro, mas de haver um grande desperdício de dinheiro que era dado facilmente. Eu advogava por uma estratégia de financiamento mais competitiva e angariei muitas inimizades."

Em 1990 tornou-se o responsável pela cadeira de Química Orgânica na Universidade de Birmingham. "Meu grupo rapidamente cresceu, e o departamento veio a ser um dos mais produtivos do Reino Unido." Em 1997 mudou-se para a Califórnia, para trabalhar em UCLA, contratado por Don Cram, vencedor do Prêmio Nobel de 1987. Nos 10 anos seguintes à mudança aos EUA, publicou 309 artigos que renderam 13.567 citações, e fez cerca de mil palestras mundo afora.

Foi nos anos 90 que Stoddart começou a desenvolver os catenanos e rotaxanos, compostos moleculares interligados mecanicamente e que poderiam desempenhar uma função. Em 2004 conseguiu construir anéis borromeanos – cuja forma há séculos interessa a artistas, matemáticos e cientistas, tendo Lacan navegado por estes mares – em compostos moleculares.

"Acredito que as nanomáquinas ainda vão ser muito úteis à sociedade. Hoje elas são como aviões na década de 20 – quando já se sabia ser possível voar, mas ainda não tínhamos toda a evolução que os aviões têm hoje. Nas próximas décadas cientistas vão encontrar boas aplicações, seja na área de saúde ou em outras", declarou Stoddart para a revista Chicago Reader.

Para saber mais:

http://stoddart.northwestern.edu/

https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/2016/stoddart-facts.html

https://www.youtube.com/watch?v=Pxs6NTCHAdc

http://stoddart.northwestern.edu/Interviews/Interview1.pdf

https://www.chalmers.se/en/news/Pages/Students-interviewing-Nobel-Prize-Winner-Sir-James-Fraser-Stoddart.aspx

http://www.nature.com/news/world-s-tiniest-machines-win-chemistry-nobel-1.20734

http://people.chicagoreader.com/who/sir-fraser-stoddart/profile/


Fonte: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)








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