29/06/2017
CAUSOS DA SBQ Quem toma mais gin tônica?
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O seguinte causo ocorreu, se não me engano, no último ano em que a RASBQ foi realizada em Caxambu. Naquele tempo o congresso era menor, caÃa como uma luva no Hotel Glória, para onde todos se dirigiam no fim da tarde. Na época éramos pós graduandos, com uma rotina fixa: depois dos exaustivos trabalhos do dia, que incluÃam as sessões coordenadas e apresentações "sugeridas" pelo orientador, a sequência era sempre a mesma: um happy hour no bar da piscina, banho e jantar, e uma segunda sessão etÃlica num dos inúmeros bares do hotel. Tudo à espera da abertura do Buraco Negro, a boate (balada, para os mais novos) do hotel, para onde éramos inexoravelmente atraÃdos todas as noites.
Sempre gostei de gin tônica, ainda mais na boate, pois o efeito da luz negra sobre o quinino da água tônica confere à bebida um aspecto fosforescente que nos levava a chamá-la de coquetel de fótons.
Naquela noite, na porta do buraco negro, também conhecida como horizonte de eventos, reuniu-se a turma de sempre da Unicamp: Aldo Zarbin, André Galembeck, Daltamir (o Maia, favor não confundir com outro!), Marcus Sá, Marco Grassi e Jarbas Rohweder, ou simplesmente Zezé, Bi, Cré, O Bonito, Careca e Jarbinha.
No embalo da música que, contrariando as leis da fÃsica, escapava do buraco negro, prontamente anunciei:
— Hoje só vou beber gin tônica!
Ao que o Jarbinha prontamente respondeu:
— Eu também, e vou tomar mais que você!
Estava lançado o desafio! Corremos ao bar e, por prudência, escolhemos um parceiro, o Cré, para fazer a contabilidade das doses ingeridas.
E assim foi, com a competição se acirrando à medida que as doses iam se sucedendo. Cada vez que eu via o Jarbinha com um copo cheio na mão, virava o meu de uma vez e partia feito um alucinado em busca do próximo. Com a mente tomada por um único propósito, devo ter atazanado todos ao meu redor, insistindo em saber o placar a noite toda. Confesso que lá por volta do oitavo ou nono copo, as coisas começaram a ficar nubladas na minha mente, mas dois sentimentos se sobressaÃam: a obsessão pela vitória e a desconfortável impressão de que Jarbinha estava sempre um copo à minha frente. A competição se tornara, à quela altura, o evento mais importante do congresso. Muito disso por conta dos amigos, que comentavam insistentemente que o Jarbas estava na frente, que eu ia perder, que eu estava muito devagar... Eu corria feito um obcecado pelos corredores do hotel, já alta madrugada, perguntando a quem quer que encontrasse:
—Você viu o Jarbas? Quantos ele já tomou?
Lembro-me de que finalmente, na metade da décima quarta dose, o Cré tirou o copo da minha mão, comunicando com autoridade que já era suficiente, que o Jarbas já tinha ido dormir e que eu deveria fazer o mesmo.
Lá fui eu para o quarto 323, ricocheteando nas paredes dos infinitos corredores do Glória. De alguma forma encontrei o quarto e a cama, pois ao acordar razoavelmente bem no dia seguinte, me deparei com o Cré, o Zezé, o Bi, o Bonito, todos com aquela expressão de mal contida ansiedade no rosto.
— E aÃ, tá inteiro?, perguntou o Cré.
— Até que estou, mas meu consolo é saber que o Jarbas deve estar muito pior que eu!
Ao que o Cré retrucou, para gargalhada geral:
— Que nada, ele está ótimo, porque a partir do terceiro copo, ele só estava tomando água tônica pura!
Ao menos sei que ganhei de goleada...
Fonte: Flávio Vichi (USP)
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