19/10/2017
Aumento de resistência de pragas agrÃcolas a inseticidas ameaça agronegócio
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| PaÃs precisa implementar urgente um plano de manejo integrado de pragas a fim de evitar que o problema saia de controle, avaliam pesquisadores
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O aumento da resistência a inseticidas tem dificultado o controle de pragas agrÃcolas em diferentes partes no mundo. Um dos motivos para o aumento é o uso indiscriminado desses próprios agroquÃmicos nas lavouras.
Segundo especialistas, o Brasil tem sido muito ameaçado por esse problema que, se não for controlado, pode afetar a produtividade do setor. A fim de evitar que o aumento da resistência de pragas agrÃcolas no paÃs atinja um limite a partir do qual não será mais possÃvel controlá-lo, é preciso implementar, com urgência, um plano de manejo integrado de pragas, apontaram pesquisadores participantes do Workshop FAPESP-BBSRC Antimicrobial Resistance (AMR) and Insect Pest Resistance in Agriculture, realizado nos dias 5 e 6 de outubro na FAPESP.
Organizado pela FAPESP em parceria com o Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC) – um dos Conselhos de Pesquisa do Reino Unido (RCUK) –, um dos objetivos do evento foi discutir avanços na pesquisa para controlar a resistência antimicrobiana e de pragas a inseticidas na agricultura.
Durante o evento também foi lançada uma nova chamada de propostas pela FAPESP em parceria com o BBSRC para apoiar pesquisas nessas áreas.
"O fator determinante da evolução da resistência de uma praga a um inseticida é a pressão de seleção, ou seja, o uso contÃnuo de um mesmo produto sem a implementação efetiva de estratégias de manejo de resistência", disse Celso Omoto, professor da Escola de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), à Agência FAPESP.
"Isso faz com que aumente a proporção de indivÃduos resistentes no campo que, ao se reproduzirem, transmitem os genes responsáveis pela resistência aos seus descendentes e, gradativamente, a população dessa praga passa a não ser controlada eficientemente com o inseticida", explicou.
Esse problema é ainda mais grave em paÃses de agricultura tropical, como é o caso do Brasil, que possibilita o cultivo de culturas como milho, soja e algodão o ano inteiro. Com isso, o uso de inseticidas para combater pragas agrÃcolas no paÃs é intensificado e o problema da resistência desses insetos a esses produtos é muito mais rápido.
"Para realizar o manejo de resistência é preciso implementar o que chamamos de Manejo Integrado de Pragas, ou MIP. O I da sigla se refere à integração de diferentes táticas de controle, mas, no Brasil, as pessoas acham que é I de inseticida e fazem por comodidade manejo de pragas apenas com inseticidas", disse Omoto.
De acordo com dados de pesquisadores da área, nos últimos 12 anos, a utilização de agroquÃmicos no Brasil aumentou 172%, enquanto no resto do mundo o crescimento foi de 90%.
Em 2012, por exemplo, foram gastos R$ 9,7 bilhões com agroquÃmicos no Brasil. Já em 2014, o gasto saltou para R$ 12 bilhões, dos quais R$ 4,6 bilhões foram destinados à compra de inseticidas.
Um dos fatores que têm contribuÃdo para o aumento do uso de inseticidas e para dificultar o controle de pragas agrÃcolas no paÃs, segundo o pesquisador, é a ampliação do sistema de agricultura irrigada. Muito incentivada por programas de governo nos últimos anos, o sistema permite o plantio de culturas, como o arroz, o milho e a soja, em perÃodos de inverno e com alto valor agregado.
O sistema, contudo, dá origem a "ilhas verdes", onde ficam concentradas as lavouras e, consequentemente, as pragas agrÃcolas. Com isso, o número de pulverizações com inseticida nessas áreas é muito maior do que em épocas de cultivo normal.
"A seleção de indivÃduos resistentes a inseticidas nessas 'ilhas verdes' é muito grande. E são esses indivÃduos sobreviventes da ação dos inseticidas nesses locais que vão colonizar a primeira safra, que é a mais importante para a maioria dos produtores", disse Omoto.
Transgênicos e outras estratégias
Uma das formas de reduzir o uso de inseticida nas lavouras do paÃs e, consequentemente, diminuir a resistência das pragas a esses produtos, seria usar de forma racional variedades transgênicas de culturas que expressam proteÃnas com ação inseticida obtidas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt).
Com a redução do uso de inseticidas pelo uso dessas culturas geneticamente modificadas para controlar pragas seria possÃvel assegurar a sobrevivência de inimigos naturais desses insetos nas lavouras, que é o controle natural, explicou Omoto.
"A Austrália implantou um programa de MIP que é um exemplo mundial. O programa possibilitou diminuir a aplicação de inseticida e permitiu a sobrevivência de inimigos naturais de pragas agrÃcolas nas lavouras por meio do uso racional da tecnologia Bt para a cultura do algodão, integrada a outras estratégias de manejo de pragas. No Brasil isso também é possÃvel. Só que, para isso, é preciso também fazer uso das tecnologias Bt disponÃveis de forma adequada", disse.
Ao usar culturas transgênicas resistentes a insetos sem tomar outras medidas para a gestão integrada de pragas, tais como o uso de áreas de refúgio na lavoura, o risco de evolução de resistência é alto, pois a planta transgênica expressa a proteÃna inseticida Bt continuamente. Dessa forma, a pressão de seleção é bastante alta.
"Nas áreas refúgio são cultivadas plantas não Bt para produzirem indivÃduos suscetÃveis à tecnologia Bt. Ao cruzá-los com os indivÃduos resistentes é possÃvel quebrar a resistência dos insetos-praga a essas proteÃnas com ação inseticida", disse Omoto.
Outras estratégias de manejo de pragas discutidas no evento foram o controle biológico – a exploração, criação e liberação em lavouras de inimigos naturais de organismos que atacam culturas agrÃcolas – e a edição do genoma dos insetos-praga.
Um grupo de pesquisadores do Rothamsted Research, na Inglaterra, tem desenvolvido um programa de pesquisa, denominado "Proteção inteligente das culturas", que pretende monitorar e prever a propagação de pragas, ervas daninhas e doenças em tempo real e combinar soluções genéticas, quÃmicas, ecológicas e estratégias agronômicas para proteção inteligente das culturas.
"Alguns dos princÃpios desse programa de pesquisa são que as estratégias de proteção de culturas dominadas por pesticidas hoje não são sustentáveis e que a proteção das culturas de próxima geração precisa de novos alvos e novas intervenções", disse Mike Bikertt, pesquisador do centro inglês.
Fonte: Agência FAPESP
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