05/04/2018
Ruth Nussenzweig morre aos 89 anos nos Estados Unidos
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| Cientista foi referência mundial em pesquisa sobre a biologia da malária e o desenvolvimento de vacinas (foto: Eduardo Cesar / Pesquisa FAPESP)
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Ruth Nussenzweig, referência mundial em pesquisa sobre a biologia da malária e o desenvolvimento de vacinas, primeira pesquisadora brasileira eleita membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos, morreu em 1º de abril, aos 89 anos.
Nascida na Áustria, chegou ao Brasil em 1938, aos 11 anos. Viveu aqui por pouco mais duas décadas, antes de transferir-se com o marido, Victor Nussenzweig, para o Departamento de Parasitologia da Escola de Medicina da New York University, onde trabalhou desde então. Mas era no Brasil que ela se “sentia bem”, como disse em entrevista à revista Pesquisa FAPESP em 2014: “Meus amigos são daqui”.
Nascida Sonntag, Ruth era judia, filha dos médicos Eugenia e Baruch, que chegaram ao Brasil fugidos do nazismo. Cresceu em Guarulhos. Aos 18 anos ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde conheceu Victor Nussenzweig.
“Namorávamos falando de ciência”, disse Victor na mesma entrevista à Pesquisa FAPESP. Tanto que se casaram na Biblioteca da Faculdade de Medicina, em 1953, tendo como testemunha o catedrático de Parasitologia Samuel Pessoa, que influenciou fortemente a decisão de Ruth de investigar a biologia da malária. Uma foto publicada no livro Circa 1962 – A Ciência Paulista nos Primórdios da FAPESP, registra a cerimônia de casamento.
O casal ficou dois anos na França, durante o doutorado, e em 1960 tentou se estabelecer no Brasil. “Mas verificamos que não dava para fazer o que queríamos de forma rápida”, disse Victor. Foram para Nova York. Uma nova tentativa de retorno, em abril de 1964, abortou depois de uma conversa de Victor com um coronel instalado na Faculdade de Medicina da USP.
Voltaram ao Brasil, entre 2012 e 2015, em várias ocasiões, para coordenar o projeto “Caracterização da proteína fosfatase UIS2 de Plasmodium como alvo para desenvolvimento de drogas contra a malária”, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o apoio da FAPESP no âmbito do programa São Paulo Excellence Chair (SPEC). O SPEC foi criado em 2012 com o objetivo de atrair cientistas de renome para a coordenação de projetos temáticos em suas áreas de atuação.
Nos Estados Unidos, Ruth publicou em 1967 um artigo que marcaria sua carreira. Nele, mostrou que era possível imunizar roedores contra a malária por meio da irradiação dos esporozoítos, um dos estágios de vida do parasita do gênero Plasmodium.
Alguns anos depois, isolou o antígeno CSP (circumsporozoite protein), responsável por proteger os animais da doença e, a partir daí, começou a trabalhar em vacinas e tratamentos.
“Seus trabalhos na área de imunologia servem como guia para o desenvolvimento de uma nova geração de vacinas recombinantes”, disse Maurício Martins Rodrigues (1961-2015), professor da Unifesp, que fez o pós-doutorado na Universidade de Nova York com Ruth Nussenzweig, na ocasião da eleição da pesquisadora para a Academia de Ciências dos Estados Unidos, em 2013.
As investigações de Ruth foram fundamentais para que a ciência chegasse à RTS,S/AS01, vacina contra a malária causada pelo Plasmodium vivax – de maior prevalência nas Américas – que já obteve 45% de eficácia em testes com camundongos.
A estratégia da nova vacina se baseia em desenvolver versões recombinantes de proteínas encontradas no esporozoíto. A nova vacina já passou por testes clínicos de fase 3 e recebeu sinalização positiva da Organização Mundial de Saúde (OMS) para estudo piloto de implementação.
O artigo que comunica os resultados da pesquisa, publicado na revista Frontiers in Immunology, tem entre seus signatários Ruth e Victor Nussenzweig (leia mais em http://agencia.fapesp.br/27129/).
Ruth deixa os filhos Michel, professor da Rockefeller University e, como a mãe, membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos, Sonia, antropóloga da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e André, que trabalha nos National Institutes of Health (NIH).
Fonte: Agência FAPESP
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