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Boletim Eletrônico Nº 1348

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10/01/2019



42ª RA: Medalha Simão Mathias vai para Vitor Ferreira


Pesquisador da UFF foi presidente da SBQ (2012-2014); conferência de abertura abordará as aspectos sintéticos e biológicos das naftoquinonas

O professor Vitor Ferreira (UFF) fará a conferência de abertura da 42ª Reunião Anual da SBQ (de 27 a 30 de maio, em Joinville) e receberá a Medalha Simão Mathias, mais alta condecoração da SBQ. "Milito na SBQ desde 1979, e a concessão dessa medalha me envaidece, pois é o reconhecimento à causa da SBQ que abracei em minha vida acadêmica, paralela ao trabalho como professor de química e pesquisador", afirma o pesquisador.

Especialista em síntese orgânica, Vitor graduou-se em Química pela UFRJ em 1976. Depois do mestrado em Química dos Produtos Naturais (UFRJ-NPPN), foi para San Diego onde concluiu seu doutorado em 1984. Sua conferência será "uma digressão sobre ocorrência, usos medicinais e importância biológica das naftoquinonas, a área de estudo que mais me envolvi em minha carreira, tanto do ponto de vista sintético, como na área da química biológica", conta.

Professor Vitor Ferreira (UFF): "Em qualquer cenário que se possa deslumbrar à frente, é importante enfatizar que a Química é um importante instrumento para o desenvolvimento socioeconômico do país e tem peso significativo na balança comercial."

Professor Vitor foi presidente da SBQ (2012-2014), é membro titular da ABC, Fellow da RSC, e foi recentemente o Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF. "É uma honra para a SBQ ter o Professor Vitor como conferencista de abertura pois trata-se de uma referência nacional e internacional em síntese química", declara o secretário-geral da entidade, professor Fernando de Carvalho (UFF). "Suas contribuições à SBQ e à Química são inestimáveis e tenho certeza que teremos uma palestra inspiradora para todos."

A Medalha Simão Mathias foi instituída pela SBQ em 1997 para reconhecer personalidades que tenham realizado contribuições expressivas à Química no Brasil e à SBQ. Simão Mathias (1908-1991) foi membro da primeira turma do curso de Química USP (inaugurada em 1935) e o primeiro a obter doutorado em ciências nessa universidade. Construiu o primeiro laboratório de físico-química do Brasil e ajudou a desenvolver diversas sociedades científicas, entre as quais a SBQ, que presidiu entre 1977, ano da fundação, e 1980.

Leia a íntegra da entrevista concedida pelo Professor Vitor Ferreira ao Boletim SBQ:

O que significa para o senhor a medalha Simão Mathias?
Eu milito na SBQ desde 1979, mas só me associei alguns anos depois quando retornei do meu doutorado. Desde então desempenhei diversas funções na sociedade, como: Conselheiro (2014-2016; 2016-2018); membro do conselho editorial da Revista Virtual de Química (2012-atual); Presidente (2012-2014); Vice-Presidente (1994-1996 e 2010-2012); Editor da Química Nova (2000-2012); Membro do Comitê Brasileiro para Assunto de Química – CBAQ (1996-2000); Tesoureiro da Regional SBQ-Rio (2002-2004); Diretor da Divisão de Química Orgânica Sintética (atualmente Divisão de Química Orgânica, 1996-1998); 1º Secretário na diretoria da SBQ (1992-1994); Secretário da Regional SBQ-Rio (1990-1992); Comissão organizadora do "V Encontro Regional de Química"; SBQ-Rio (1993); Organizador das Atividades da SBQ na SBPC (1991); Secretário Geral do 4th BMOS (1990). Acho que foram essas credenciais que levaram os colegas da SBQ a me concederam a medalha Simão Mathias. A concessão dessa medalha me envaidece, pois é o reconhecimento a causa da SBQ que abracei em minha vida acadêmica, paralela ao trabalho como professor de química e pesquisador.

Sobre o que será sua conferência?
Pretendo fazer uma digressão sobre ocorrência, usos medicinais e importância biológica das naftoquinonas que foi a área de estudo que mais me envolvi em minha carreira, tanto do ponto de vista sintético, como na área da química biológica. Durante séculos os produtos naturais foram usados em natura de plantas, insertos e micro-organismos e se tornaram as únicas opções para o tratamento das enfermidades de humanos e animais, e para muitas outras aplicações como corantes, aromatizantes e fragrâncias, pois sua maioria são intrinsicamente fontes de substâncias biologicamente ativas. A partir do século 19 os pesquisadores começaram a extrair as substâncias puras responsáveis pelas atividades farmacológicas. Posteriormente, com o avanço da síntese orgânica as substâncias começaram a ser produzidas industrialmente e, também se tornaram a inspiração para as sínteses de novos protótipos de drogas.

O senhor concluiu seu mestrado no Rio em 1980, antes de partir para o doutorado no exterior, e começou a lecionar em 1986. Em sua visão, o que mudou nestes anos na universidade, no perfil dos alunos, e nas demandas da sociedade pelo ensino de química?
É uma pergunta com vários vieses e vou tentar respondê-las numa ordem meio aleatória. Se olharmos o antes e o depois, houve mudanças radicais no Instituto de Química da UFF. Em 1986 não tínhamos quase nenhuma pesquisa nas áreas clássicas da Química. Hoje temos um curso de pós-graduação conceito 6 da CAPES, fruto de um tremendo esforço coletivo dos docente do IQ-UFF.

Não há como negar que nossas condições para docência pesquisa melhoraram significativamente mesmo como todos os percalços no sistema de C&T&I devido à falta de perenidade nas agências de financiamento. O perfil dos alunos foi modificado significativamente com a introdução dos computadores e mais recentemente com a internet e as redes sociais. As pesquisas foram dramaticamente afetadas, pois com alguns toques no celular se tem resposta para quase tudo.

As culturas dos povos estão sendo continuamente moldadas pelo uso das tecnologias. A televisão, por exemplo, modificou o hábito das famílias e continua até hoje influenciando o comportamento da sociedade. A questão do uso das novas tecnologias na escola não significa apenas um modismo, se as escolas e universidades pretendem formar cidadãos para se integrarem na sociedade. A utilização destes recursos ajuda a formar cidadãos e trabalhadores mais preparados funcionalmente (capital humano), pois em muitas áreas da sociedade estas tecnologias já estão a muito tempo em utilização (indústrias, comércio, transportes, bancos, etc.).

Porém, não podemos esquecer que o elo mais importante neste processo são os professores, que precisarão decidir como irão atuar nesta revolução tecnológica. Pensar que a tecnologia, principalmente o computador e a Internet, substituirão os professores e que não devemos nos preocupar com a formação de novos professores, já é um sintoma de uma doença ou otimismo exagerado. A química apesar de ser uma ciência eminentemente experimental, também tem um lado muito computacional.

Muitas das teorias utilizadas para explicar as reações químicas e a reatividade das substâncias na escala subatômica necessitam de um modelo, como por exemplo, orbitais atômicos, orbitais moleculares, ressonância magnética nuclear, espectroscopia eletrônica, etc. A QNInt é um bom exemplo com a química pode interagir com os alunos.

Quais as suas perspectivas para 2019 para CT & I no Brasil?
Apesar de ser um otimista nato não vejo nos dias atuais grandes perspectivas de melhora em curto prazo. Só vendo mais a frente após dissipar toda essa fumaça que assolou o país e que poderemos ter uma noção exata de futuro do Brasil para as áreas de CT & I. No passado houve notícias alvissareiras de que chegaríamos ao nível de investimento de 1,8% em CT & I, mas isso nunca se concretizou.

Sempre é bom lembrar que esse valor ainda está muito aquém dos países desenvolvidos que investem entre 2,6-3,4% do PIB. Muito pelo contrário as notícias são sobre cortes de bolsas e diminuição dos recursos para a pesquisa. Não consegui captar nenhuma tendência de avanço em qualquer área com o novo Ministro. Em qualquer cenário que se possa deslumbrar à frente, é importante enfatizar que a Química é um importante instrumento para o desenvolvimento socioeconômico do país e tem peso significativo na balança comercial.

Não existe país economicamente desenvolvido que não tenha também uma grande produção química e pesquisas em áreas na fronteira do conhecimento. A produção dos insumos químicos é geradora de milhares dos empregos e, também, responsável por parte significativa do PIB. Apesar de a maioria dos políticos não entenderem isso, alguns já perceberam que os conhecimentos científicos e tecnológicos destacam os países mais avançados e economicamente mais fortes, principalmente quando transformam o conhecimento em inovação.

A Química é responsável pelo progresso social e melhoria da qualidade vida, não só com a criação de novos medicamentos, defensivos agrícolas, novos materiais para aplicações médicas e eletrônicas dentre outros, mas também pelas riquezas geradas. Parafraseando: Mary Lasker, a americana ativista e filantropa na área de saúde, "If you think research is expensive, try disease" e do documento "CIÊNCIA, TECNOLOGIA, ECONOMIA E QUALIDADE DE VIDA PARA O BRASIL- Documento da ABC aos Candidatos à Presidência do Brasil - 2018 - a ABC "O Brasil precisa urgentemente acordar para o fato de que ciência, economia e qualidade de vida andam juntas no mundo contemporâneo. Governos que relegam Ciência, Tecnologia e Inovação a um segundo plano condenam o futuro de sua gente".

O senhor tem várias realizações, colaborações internacionais, prêmios e participações importantes em sociedades científicas, como a SBQ, onde foi presidente. Que conselhos dá ao estudante de graduação que deseja uma carreira de sucesso?
Há recomendações genéricas que estão disseminadas na internet de como ter uma carreira de sucesso a partir do início da graduação. O curso de Química é muito duro e envolve muitas outras ciências duras como matemática e física. Para enfrentar esses desafios, só com muito foco, dedicação e muita transpiração. Você deve ter a mesma responsabilidade para com seus estudos como em outras áreas de sua vida.

O envolvimento com grupos de pesquisa que tenham aluno de pós-graduação é um bom estímulo, principalmente se for através de uma iniciação científica. A ideia é de entrar no Oceano Azul e estar um passo a frente fora dos limites e ter estratégia e planejamento. Planeje-se e adiante as atividades o quanto puder e já inicie sua ideia do que fará após a graduação. Há sempre um limite superior a ser alcançado e que irá influenciar seu futuro. É importante lembrar aos estudantes que todo seu futuro dependerá de seu aproveitamento acadêmico, as habilidades que foram adquiridas na graduação e estar acima da média. Sem isso você perde oportunidades importantes para sua vida profissional.


Quatro artigos relevantes:

“Targeting the Prion-Like Aggregation of Mutant p53 to Combat Cancer”, J.L. Silva, E. A. Cino, L. N. Soares, V. F. Ferreira, G. A. P. de Oliveira, Accounts of Chemical Research 2018, 51, 181-190.

“Insight into and Computational Studies of the Selective Synthesis of 6H-Dibenzo[b,h]xanthenes”, P.F. Carneiro, M.C.F.R. Pinto, R.K.F. Marra, V.R. Campos, J.A.L.C. Resende, M. Delarmelina, J.W.M. Carneiro, E.S. Lima, F.C. da Silva, V.F. Ferreira, Journal of Organic Chemistry 2016, 81, 5525-5537.

“New oxirane derivatives of 1,4-naphthoquinones and their evaluation against T. cruzi epimastigote forms”, P.F. Carneiro, S.B. do Nascimento, A.V. Pinto, M.C.F.R. Pinto, G.C. Lechuga, D.O. Santos, H.M. dos Santos Júnior, J.A.L.C. Resende, S.C. Bourguignon, V.F. Ferreira, Bioorganic Medicinal Chemistry 2012, 20, 4995-5000.

“Trypanocidal Agents with Low Cytotoxicity to Mammalian cell line: A comparison of the theoretical and biological features of Lapachone Derivatives”, V.F. Ferreira, A. Jorqueira, A.M.T. Souza, M.N. Silva, M.C.B.V. Souza, R.M. Gouvêa, C.R. Rodrigues, A.V. Pinto, H.C. Castro, D.O. Santos, H.P. Araújo, S.C. Bourguignon, Bioorganic Medicinal Chemistry 2006, 14, 5459-5466.


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)








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