04/04/2019
A demanda por energia e as oportunidades na quÃmica
Na celebração de 10 anos da Nature Chemistry, ex-presidente da SBQ pontua desafios futuros da quÃmica
A crescente demanda global por energia – e por energia limpa e eficiente – é um grande fator de impulso da pesquisa cientÃfica na quÃmica, e deve gerar cada vez mais desafios e oportunidades aos grupos de pesquisa no Brasil e no mundo. A opinião é do professor Aldo Zarbin (UFPR), único latino-americano convidado pela Nature Chemistry, revista britânica de alto impacto que completa 10 anos, para colaborar em artigo sobre os aspectos desafiadores do futuro da quÃmica.
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Aldo Zarbin (UFPR): "A demanda crescente por energia é uma preocupação que deve estar no topo dos assuntos relevantes para a ciência nos próximos anos, e a QuÃmica tem um papel central nessa questão."
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"Temos uma matriz energética mundial fortemente baseada em combustÃveis fósseis, e uma demanda cada vez maior de energia, dada pelo crescimento da população e necessidade de acesso a bens. Sabemos que a distribuição do consumo energético é desigual entre os paÃses e regiões, e que há um relacionamento direto entre consumo de energia, desenvolvimento econômico e bem-estar da população. E o modelo que está aà é finito e tem sérios problemas ambientais", explica Zarbin, que foi presidente da SBQ entre 2016 e 2018. "A mudança se dará apostando em fontes renováveis, combustÃveis limpos e dispositivos de armazenamento de energia que sejam condizentes com essa realidade." A quÃmica entra na preparação dos novos materiais para todo esse processo, na interação dos materiais e processamento para fazer os dispositivos, nos processos de compreensão das reações envolvidas, na busca de biocombustÃveis, etc.
Ele coordena o Grupo de QuÃmica de Materiais da UFPR, onde 13 alunos (entre ICs, mestrandos, doutorandos e pos-docs) trabalham em linhas de pesquisa voltadas à descoberta de novos materiais, na descoberta de novas maneiras mais eficientes de produzir materiais e em suas diversas possibilidades de aplicações.
"Temos alunos trabalhando com materiais para novos sistemas fotovoltaicos, mais baratos, mais leves e fundamentalmente ambientalmente amigáveis; com materiais para baterias de Ãon metálico em meio aquoso; com materiais para geração de hidrogênio, de forma mais barata e eficiente que as convencionais; com materiais para eletrodo transparentes; com materiais para dispositivos flexÃveis", descreve. "E nos tornamos referência quando desenvolvemos uma nova rota de processar materiais diferentes na forma de filmes finos, baseada em interfaces entre lÃquidos imiscÃveis."
Recentemente Zarbin e seu grupo chegaram a uma nova rota de produção de grafeno que mereceu a capa do periódico Chemical Science, da Royal Society of Chemistry. O grafeno é um material bidimensional, formado por carbono, com uma grande área de superfÃcie e cujos elétrons têm um comportamento diferenciado, gerando propriedades que não se encontram em outros materiais. Tem grande potencial para o armazenamento de energia (entre outras aplicações). "Esse trabalho passou por três teses de doutorado, teve o primeiro trabalho publicado em 2015, e agora em 2018 publicamos um refinamento da ideia, mostrando o mecanismo e controlando o processo de preparação", conta o professor.
Ele destaca o caráter "100% brasileiro" das conquistas de seu grupo, e deixa um alerta: "A Ciência brasileira já provou e vem provando sua capacidade, na geração de conhecimento diferenciado, de alta qualidade, e na solução de problemas de forte impacto na sociedade, em grupos espalhados por todas as regiões do paÃs. É fundamental que não se deixe de investir na ciência brasileira."
Leia o artigo de Aldo Zarbin na Nature Chemistry
Leia o artigo de Zarbin e seu grupo, capa da Chemical Science
Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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