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19/09/2019



O sucesso do BrazMedChem em Pirenópolis


Nona edição do Simpósio reuniu 330 químicos medicinais para debater a aproximação com a indústria

No início do mês a comunidade da Química Medicinal se reuniu na cidade histórica de Pirenópolis (GO) para a nona edição do Simpósio Brasileiro de Química Medicinal (BrazMedChem). Com o tema "Reduzindo o espaço entre a academia e as indústrias farmacêuticas para avançar na descoberta de fármacos", o simpósio reuniu 330 participantes, sendo quase metade estudantes de pós-graduação, com 196 trabalhos apresentados em formato pôster e uma série de atividades de alto nível científico.

Professora Carolina Horta (UFG), discursa na abertura do Simpósio; Todas as mulheres do BrazMedChem; Participantes reunidos no encerramento

A conferência de abertura teve como tema a descoberta de medicamentos para tratar doenças negligenciadas, e foi ministrada pelo Dr. Peter Warner, da Fundação Bill & Melinda Gates (EUA). Ele foi ouvido com atenção pelo reitor da UFG, Prof. Edward Madureira Brasil, que esteve presente na abertura do evento.

O próximo BrazMedChem será realizado de 26 a 29 de setembro de 2021 em Poços de Caldas, sob a organização dos Prof. Angelo de Fátima (UFMG) e Claudio Viegas Jr. (UNIFAL), quando serão celebrados 20 anos do evento.

A professora Carolina Horta (UFG), diretora da Divisão de Química Medicinal da SBQ – que hoje conta com 142 sócios – concedeu a seguinte entrevista ao Boletim SBQ:

O BrazMedChem foi realizado em uma época em que a pesquisa científica no Brasil enfrenta grandes desafios de ordem financeira. Quais os efeitos da situação financeira na pesquisa de Química Medicinal? Quais as oportunidades que surgem nesse contexto?
Os efeitos dos cortes em investimentos em ciência, tecnologia e inovação, assim como em bolsas de pós-graduação, são catastróficos não só para a área de Química Medicinal mas para todas as áreas de pesquisa do Brasil.

Nesse cenário de crise, no entanto, surgem novas oportunidades de interação e aproximação da academia com o setor produtivo. Esse foi um dos principais temas abordados na nona edição do BrazMedChem. Trouxemos para o evento várias indústrias farmacêuticas nacionais e seus pesquisadores expuseram e discutiram alguns modelos de interação que já vem desenvolvendo assim como sobre as oportunidades que podemos buscar essa interação, para avançar na pesquisa e descoberta de fármacos.

Nesses momentos de crise, pesquisadores terão de ser criativos e o setor produtivo na área de fármacos no Brasil terá de mudar de mentalidade, de paradigma, e passar a investir também no Brasil na área de PD&I de novos fármacos e medicamentos, além de absorverem nossos doutores para desenvolver suas pesquisas. Precisamos ter fármacos nacionais, precisamos produzir inovação para a saúde, e temos total potencial para isso, tanto em termos de recursos humanos quanto em termos de infraestrutura dos laboratórios, equipamentos, etc. O que precisamos agora é dessa aproximação com o setor produtivo, para avançarmos na cascata do desenvolvimento de fármacos, para fazermos os estudos clínicos em seres humanos e seguirmos para o licenciamento de novos fármacos pela ANVISA e comercialização para a população.

O evento reuniu 330 participantes internacionais e de diversos estados. Fale um pouco sobre as novidades na Química Medicinal tratadas no Simpósio.
O 9th BrazMedChem reuniu 330 participantes, em sua maioria estudantes de graduação e pós-graduação vindos de vários estados brasileiros, de todas as regiões do país, além de pesquisadores de universidades, consórcios, empresas e startups do Brasil e do exterior. Foram realizadas oito sessões científicas abordando diferentes temas da Química Medicinal, sendo cada uma com 3 palestrantes renomados do Brasil e do exterior, e 1 estudante de pós-graduação ou pós-doutor, como apresentação rápida (flash presentation), que foi selecionado pelo comitê científico. Além disso, tivemos duas sessões especiais, uma com a Premiação BrazMedChem, em que 3 pesquisadores brasileiros foram agraciados com os prêmios BrazMedChem Early Career (Prof. Luis Octavio Regasini), Vanguard (Profa Lidia Moreira Lima) e Senior (Prof Carlos Alberto Manssour Fraga). Esses pesquisadores foram reconhecidos por suas contribuições à Química Medicinal Brasileira.

Tivemos também uma sessão especial em tributo ao Prof Antony (Tony) Hopfinger, considerado o pai da quimioinformática mundial, que faleceu em dezembro de 2018. Nessa sessão, quatro de seus ex-alunos de doutorado ou pós-doutorado apresentaram palestras com as técnicas que o Prof Tony introduziu e foi, sem dúvida, uma sessão muito emocionante. Também tivemos duas sessões interativas, uma para discutir o tema "Mulheres na Química Medicinal, porque tão poucas?"; e outra sessão para falar sobre os desafios das publicações científicas em revistas de qualidade, com editores chefes e associados de importantes revistas científicas da área.

Por fim, tivemos uma mesa redonda com quatro representantes de empresas farmacêuticas nacionais que explanaram sobre seus modelos de interação com laboratórios nas Universidades e como isso tem dado certo. Esse foi o principal foco do evento, e todas as sessões científicas contaram com representantes de empresas, consórcios e startups para trazerem as inovações e os modelos de interação entre universidade-empresa.

Um outro ponto alto do evento foi a divulgação científica. Tivemos uma atividade com a comunidade local, em que convidamos 250 estudantes do 3o. ano no ensino médio de escolas estaduais da cidade de Pirenópolis para participarem de atividades especiais durante o 9th BrazMedChem. Foram realizadas duas sessões especiais dedicadas aos estudantes do ensino médio, sendo uma para discutir sobre "As meninas na Ciência" e a outra sobre "Os desafios dos Fármacos", sendo essa última na forma de exposição com vários experimentos e estações com modelagem molecular, síntese de fármacos, e avaliação biológica, os três pilares da Química Medicinal.

Qual o legado que o evento deixa? E como será o caminho até o próximo BrazMedChem?
O evento deixa a principal mensagem de que a Química Medicinal brasileira está crescendo a todo vapor e que os trabalhos apresentados por palestrantes brasileiros, pós-doutores e estudantes demostram a altíssima qualidade das pesquisas desenvolvidas no país. Além disso, com o 9th BrazMedChem, mostramos que é possível organizar e realizar um evento internacional de altíssima qualidade, com pouquíssimo investimento público. Temos que ser criativos e buscar parcerias na iniciativa privada. Além disso, o evento mostrou que é possível transformar a ciência de qualidade que geramos em produtos, através das parcerias com o setor produtivo. No entanto, ainda é preciso uma mudança de mentalidade das indústrias no sentido de investirem em PD&I de fármacos no Brasil. Temos ainda muito a avançar, mas estamos iniciando essa jornada e no caminho certo.

Já o caminho até o próximo BrazMedChem ainda é longo e está nas mãos da Comissão Organizadora, liderada pelos Profs. Angelo de Fátima e Claudio Viegas Jr, juntamente com a diretoria da Divisão de Química Medicinal da SBQ, que já estão iniciando a montar a programação científica. O principal desafio é trazer a iniciativa privada, do setor produtivo da área de fármacos, para vir participar do evento, além de atuarem como patrocinadores também, já que o financiamento público está cada vez mais escasso. Esperamos todos vocês em Poços de Caldas – MG, em 2021!

Veja todas as fotos do evento neste link.


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)








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