12/03/2020
43ª RA
A catálise como ferrramenta para a sustentabilidade
Método empregando complexos de metais de transição transforma insumos biorrenováveis e abundantes em produtos úteis
Jornalistas e outros profissionais de 'humanas' costumam sair da escola com a nebulosa ideia de que 'catalisador é uma coisa que acelera uma reação quÃmica'. E é bem possÃvel que a imensa maioria da população brasileira não faça a menor ideia de que a pesquisa em catálise pode ser focada em uma busca por melhorias ambientais.
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Professor Eduardo Nicolau dos Santos (UFMG): "Estamos em um momento em que a importância da ciência precisa ser reafirmada. Talvez a RA seja uma oportunidade para refletirmos sobre o tema."
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É o caso do trabalho do professor Eduardo Nicolau dos Santos (UFMG), que irá apresentar na 43ª Reunião Anual da SBQ (26 a 29 de maio, em Maceió) a conferência "Catálise por complexos de metais de transição: uma ferramenta para a sustentabilidade".
"O diferencial desse trabalho é a transformação de insumos biorrenováveis e abundantes no Brasil em produtos úteis, por exemplo, em fármacos, cosméticos e defensivos agrÃcolas, tendo em vista processos de produção de menor impacto ambiental", explica o professor, que coordena o Grupo de Catálise Organometálica na UFMG, atualmente com mais de 20 alunos.
Graduado e doutorado pela UNICAMP, Eduardo Nicolau dos Santos tem experiência internacional no Japão, Alemanha e na França. É um entusiasta do empreendedorismo, realizou seis projetos em parcerias com indústrias, é autor de 7 patentes, três capÃtulos de livros e 60 publicações em periódicos nessas áreas, com Ãndice h 21. Ao longo da carreira titulou 19 mestres, 12 doutores e orientou sete pós-doutorados.
Leia a Ãntegra da entrevista concedida pelo Professor Eduardo ao Boletim SBQ:
Em termos leigos, qual será a essência da sua palestra?
A palestra será focada em uma área muito aplicada da quÃmica: a catálise. Mais de 80% dos produtos quÃmicos utilizam processos catalÃticos em sua fabricação. Mais especificamente, falarei sobre a catálise por complexos de metais de transição. O diferencial do trabalho é a transformação de insumos biorrenováveis e abundantes no Brasil em produtos úteis, por exemplo, em fármacos, cosméticos e defensivos agrÃcolas, tendo em vista processos de produção de menor impacto ambiental.
O sr tem sete patentes. Como vê o futuro dos quÃmicos e da pesquisa via o empreendedorismo?
A tecnologia atualmente é a aplicação prática do conhecimento cientÃfico. Não há inovação tecnológica sem a construção de uma base cientÃfica sólida. Para os acadêmicos que querem ir na direção tecnológica, é importante buscar o diálogo com o setor industrial, que tem uma melhor visão de mercado e de problemas relevantes a serem resolvidos. Vejo com bons olhos as iniciativas de desenvolver o espirito empreendedor no alunado de cursos de graduação relacionados à quÃmica. É uma maneira de potencializar o desenvolvimento industrial nesta importante área.
O sr tem uma ampla experiência internacional. Daria dicas para jovens que desejam estudar e participar de pesquisas fora do Brasil?
Nas últimas décadas, o sistema educacional brasileiro tem sido generoso com o financiamento para a formação de jovens no exterior. O intercâmbio internacional é uma ação correta e foi, por exemplo, um componente importante para o rápido incremento do nÃvel cientÃfico da China. Espero que essas ações sejam mantidas e até mesmo ampliadas. Para os jovens, o conselho é sair da zona de segurança e buscar oportunidades de estágios no exterior, pois esses acrescentam não só à formação profissional, mas também à visão de mundo.
Como foi seu processo de opção pela carreira quÃmica?
Meu fascÃnio pela quÃmica vem desde a infância e os kits de experimentos quÃmicos então disponÃveis como brinquedos educativos certamente contribuÃram. Segui os estudos nesta direção, fazendo o bacharelado tecnológico em quÃmica na UNICAMP. A iniciação cientÃfica com o Professor Ulf Schuchardt, que lamentavelmente nos deixou há pouco, levou-me ao doutorado e à carreira acadêmica.
O que espera da 43ª RASBQ?
Estamos em um momento em que a importância da ciência precisa ser reafirmada. Como fazer a população conhecer que todos os confortos da vida moderna, desde o celular até os novos medicamentos, tiveram origem e dependem, em última análise, do método cientÃfico? A resposta fácil "aumentar a divulgação cientÃfica" não me parece suficiente. Talvez a RA seja uma oportunidade para refletirmos sobre o tema.
Cinco artigos relevantes
"Anisole: a further step to sustainable hydroformylation", F.G. Delolo, E.N. dos Santos, E.V. Gusevskaya, Green Chemistry 2019, 21 (5), 1091.
"p-Cymene as Solvent for Olefin Metathesis: Matching Efficiency and Sustainability", A.V. Granato, A.G. Santos, E.N. dos Santos, ChemSusChem 2017, 10 (8), 1832.
"Chemical Plants: High-Value Molecules from Essential Oils", J.A.M. Lummiss, K.C. Oliveira, A.M.T. Pranckevicius, A.G. Santos, E.N. dos Santos, D.E. Fogg, Â Journal of the American Chemical Society 2012, 134 (46), 18889.
"An efficient method for the transformation of naturally occurring monoterpenes into amines through rhodium-catalyzed hydroaminomethylation", D.S. Melo, S.S. Pereira, E.N. dos Santos, Applied Catalysis A-General 2012, 411, 70.
"Rhodium-catalyzed hydroformylation of allylbenzenes and propenylbenzenes: effect of phosphine and diphosphine ligands on chemo- and regioselectivity", A.C. da Silva, K.C.B. de Oliveira, E.V. Gusevskaya, E.N. dos Santos, J Mol Catal A-Chem 2002, 179 (1-2), 133.
Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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