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Primeiro censo feminino da SBQ norteará ações de equidade de gênero
A Sociedade Brasileira de Química (SBQ) acaba de concluir o primeiro censo das mulheres na química. Com 1357 respostas, a pesquisa ouviu associadas ativas e inativas da SBQ em todos os estados. Os resultados serão usados para balizar ações da entidade no sentido de fortalecer a presença feminina na Sociedade, no ensino e na pesquisa. Esses dados foram apresentados pela primeira vez durante a 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química em Águas de Lindóia (22-25 de Maio de 2024).
Quanto à faixa etária, 66,5% das entrevistadas têm 40 anos ou mais. "É na maturidade da carreira que tomamos consciência da importância de sermos representadas por uma sociedade científica de respaldo como a SBQ", avalia a professora Daniela Anunciação (UFAL), integrante do Núcleo Mulheres SBQ, que coordenou a pesquisa. Estudantes, em sua visão, têm outras prioridades dentro dos limites financeiros de cada uma.
"Se eu preciso comprar um livro, vou comprar o livro, e não vou pagar a anuidade da SBQ", reproduz a fala de uma estudante ao conversar sobre associação à SBQ em sala de aula. "Esse dado indica que precisamos cuidar das mais jovens para que elas adquiram esse senso de pertencimento." A professora Daniela cita o exemplo do PL 1904, o chamado PL dos Estupradores, que foi repudiado em carta aberta pela SBQ e outras entidades científicas. "A voz da sociedade científica tem mais eco que a minha voz de pessoa física."
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Daniela Anunciação durante a 47ª Reunião Anual da SBQ
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Na questão étnica, a pesquisa indicou que 65% das entrevistadas se declaram brancas, enquanto apenas 30%, se dizem pretas e pardas. Na população brasileira, 55% das pessoas se dizem pretas e pardas. "Aqui cabe uma reflexão importante: A Química, assim como outras ciências exatas está mais acessível para mulheres brancas havendo pouco acesso a negras ou nos falta letramento racial a ponto de termos problemas com autodeclaração? Muitas mulheres pardas não entendem que são negras!", observa a professora Daniela. A pesquisa indicou ainda que 96% das entrevistadas são mulheres cisgênero.
Metade das entrevistadas não é mãe, 24% são mães de um filho, 20% de dois. Das mães, 13% declaram ter maternidade atípica (deficiência física, neurodivergência e outras). São doutoras 70% das entrevistadas, mestras 16% e graduadas 9%. A maior área da Química representada individualmente é Ensino de Química, com 9% das respostas. Também se destacam Química Analítica e Química de Produtos Naturais.
A pesquisa também questionou sobre a participação das mulheres em grupos de trabalho que discutam a questão da equidade. Apenas 20% das entrevistadas estão envolvidas com esse tipo de trabalho, seja em suas instituições de ensino ou entidades externas.
Com relação à orientação de mulheres, 14% das docentes entrevistadas orientaram 41 ou mais mulheres ao longo da carreira, 45,4% tiveram entre uma e 20 orientandas e 22,1% nunca orientaram uma mulher.
Sobre o assédio moral e sexual, 57% das doutoras e 53% das não-doutoras relataram ter sido vítimas. A professora Daniela acredita que pode haver uma subnotificação sobretudo por parte das entrevistadas mais velhas, pois a questão do assédio não era discutida anos atrás. "É possível que mulheres tenham sido assediadas moralmente sem perceber", reflete a docente da UFAL.
A pesquisa também procurou estabelecer correlações entre a cor da pele e indicadores da carreira acadêmica: 53% das mulheres brancas têm doutorado, ante apenas 17% das negras. As brancas têm duas vezes mais start-ups que as negras, 3 vezes mais patentes depositadas, e quase 4 vezes mais ativas em corpos editoriais. Mas, na questão do assédio, as negras são mais impactadas tanto no moral, quanto no sexual.
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Comparação de perfis de mulheres negras e brancas associadas à SBQ, em destaque perfil comparativo de assédio
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Na correlação entre maternidade e indicadores da carreira, a pesquisa mostra que o fato de ser mãe não impede a mulher de obter o doutorado, criar start-ups, participar de corpos editoriais, depositar patentes, obter financiamentos ou ter cargos de chefia. "Entretanto, há que se refletir sobre a que custo emocional, mental e físico essas mulheres estão mantendo este grau de destaque na carreira" comenta Daniela.
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Relação entre maternidade e indicadores da carreira em destaque entre associadas da SBQ
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"Com essa pesquisa, a SBQ dá o pontapé inicial para trazer luz à comunidade feminina da SBQ e à demanda por políticas de equidade de gênero. Agora podemos enxergar quem são as mulheres que fazem a SBQ, fazer um diagnóstico e entender que ações são necessárias para que as mulheres tenham a carreira que têm direito a terem", afirma a professora Daniela.
Faça parte do Núcleo Mulheres SBQ: https://www.sbq.org.br/nucleo-mulheres/
Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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