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Boletim Eletrônico Nº 1612 - 18/07/2024




DESTAQUE

Interesse por ciência não se traduz em conhecimento, indica estudo do CGEE


Embora a maioria dos brasileiros tenha um interesse grande sobre saúde, meio-ambiente e ciência, esse interesse não se traduz necessariamente em conhecimento. Essa é uma leitura do físico Ildeu de Castro Moreira sobre a sexta edição do estudo "Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil", conduzido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, associação civil supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

A pesquisa ouviu 1.931 pessoas com idade superior a 16 anos, com cotas por gênero, idade, escolaridade, renda e local de moradia em todas as regiões do País.

Embora 77,9% dos entrevistados tenham interesse pelo tema 'Medicina/Saúde', 76,2% tenham interesse por 'Meio-Ambiente' e 60,3% tenham interesse por 'Ciência e Tecnologia', menos de um quinto das pessoas conhecem alguma instituição de pesquisa científica e apenas um em cada dez sabe citar o nome de algum cientista importante. "A pesquisa colheu esse dado justamente no ano do centenário de César Lattes não deixa de ser uma ironia. Temos muitos e muitas cientistas importantes, nas várias áreas do conhecimento", declara o professor Ildeu.

Ildeu de Castro Moreira: "O estudo traz bons argumentos para discutirmos financiamento, e mostra que o negacionismo científico está presente em uma parcela relativamente pequena da sociedade, mas influente e barulhenta"

Na visão do físico da UFRJ e conselheiro da SBPC, o estudo traz alguns alertas, e ao mesmo tempo apresenta motivos para otimismo. "O estudo traz bons argumentos para discutirmos financiamento, e mostra que o negacionismo científico está presente em uma parcela relativamente pequena da sociedade, mas influente e barulhenta", afirma o professor Ildeu.

Para 20,8% dos entrevistados, algumas vacinas podem causar autismo. Para 24,9% o signo do zodíaco influencia a personalidade das pessoas, e mais da metade (52%) acredita que existem curas para o câncer que foram escondidas do público por causa de interesses comerciais.

O professor Ildeu entende que o antídoto mais eficiente contra o negacionismo é "não entrar na deles. É dar elementos para as pessoas fazerem a sua própria interpretação e construírem uma visão de mundo em que a ciência tenha uma participação mais clara", pondera. "O fato é que a pesquisa mostra que a maioria das pessoas entende a importância das vacinas, ou que as mudanças climáticas representam uma ameaça."

O estudo apontou que o lugar em que as pessoas mais frequentemente buscam informações sobre ciência, tecnologia, saúde e meio ambiente são as redes sociais, aplicativos de mensagem e plataformas digitais (39,8%). Abaixo na frequência de busca por informações estão a imprensa - tanto TV (22,7%) quanto jornais ou revistas (22,4%), nas plataformas tradicionais ou na internet, seguida por rádios e podcasts (19,0%), depois livros (16,4%) e por fim enciclopédias online (12,9%).

Com relação à segurança quanto à informação, 42,2% das pessoas confiam na informação passada por pessoas ou instituições que admira e 45,6% suspeitam da falsidade de informações passadas por pessoas ou instituições que não admiram. A pesquisa mostra que em geral, as pessoas tendem a confiar na informação se ela for veiculada por mais de uma fonte.

Juliana Fedoce Lopes: "Se as pessoas, em geral não procuram por informações em ciência, o conteúdo de ciência tem que estar disponível de forma abundante e, redundante nas mídias tradicionais"

"Se as pessoas, em geral não procuram por informações em ciência, o conteúdo de ciência tem que estar disponível de forma abundante e, redundante nas mídias tradicionais, num contexto de transmídia para que no jogo do algoritmo ou na busca de ver/ouvir algo interessante as pessoas sejam interceptadas por conteúdos de ciência", avalia a química Juliana Fedoce Lopes, docente da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e sócia ativa da SBQ.

Em sua visão há uma boa cobertura jornalística de temáticas de ciência pela mídia tradicional, porém poderia haver mais programação para além do jornalismo, com os devidos recortes regionais, de gênero e étnico-racial - algo que junte ciência e cultura, ou ciência e entretenimento. "Vou citar dois exemplos que eu gosto bastante, que poderiam ser multiplicados: um bem importante e recente foi o programa apresentado pela química Kananda Eller, influenciadora conhecida como 'Deusa Cientista': Ciência, Substantivo Feminino. A série (GNT/Globoplay) trouxe a história de várias cientistas mulheres, quebrando diversos estereótipos da ciência e apresentando conteúdo técnico de qualidade como entretenimento. O outro é a animação nacional O Show da Luna (Discovery +) que conta diferentes histórias de ciência conduzidas pela curiosidade infantil da sagaz personagem principal", descreve a docente.

A professora Juliana é uma ávida consumidora de conteúdo de divulgação científica, não somente de química, mas também de outras áreas do conhecimento. Em 2016, depois de ouvir de seus alunos da graduação expressões como 'saúde quântica', 'colchão quântico', e usos inusitados da palavra 'quântica' resolveu começar a produzir material de divulgação científica em seu instagram pessoal. Em 2018 deu um passo além, fundou o Instituto Sua Ciência (www.suaciencia.org), agregou voluntários e bolsistas para aumentar a produção e expandiu para outras plataformas, como Facebook e You Tube. "Aos poucos estamos produzindo com linguagens específicas para o tik tok, X (antigo twitter) e LinkedIn, e também publicando conteúdo em formato de texto. Fica aqui o convite a nossa vibrante comunidade da SBQ para produzir conteúdos colaborativos de comunicação pública da ciência com a gente."

O estudo "Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil" contou com a relevante colaboração do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Veja a íntegra do estudo: https://percepcao.cgee.org.br/


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)



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