SEÇÃO ESPECIAL – CENTENÁRIO CESAR LATTES
Um acaso e uma memória
Conheci o Prof Cesar Lattes no final de 1978, quando meu pai foi passar um período sabático na UNICAMP. Eu estava fazendo cursinho em Campinas e acabei convivendo com o professor Lattes por conta da amizade dele com o meu pai, que havia sido um de seus alunos. Em um dos primeiros encontros fiquei impressionado com sua capacidade de leitura e memória. Eu estava com um livro de OSPB (Organização Social e Política Brasileira) que beirava as 300 páginas. Não lembro bem a razão, mas ele pediu o livro emprestado, sentou em uma cadeira e uns 20 minutos depois ele me devolveu o livro e aconselhou: "Não leia! Só tem besteiras aqui". Eu não acreditei que ele tivesse lido aquilo tudo tão rápido. Abri em uma página aleatória e perguntei sobre a passagem escrita. Ele não só respondeu, como criticou e identificou um erro de sintaxe no texto, além de dizer que aquilo estava escrito em uma página do lado direito do livro!
Uma outra memória que tenho foi sobre o nome de seu cachorro. O Prof. Lattes tinha um cachorro, "derivado de um perdigueiro" (segundo suas palavras) que se chamava Arthur. Um dia eu perguntei a razão daquele nome e ele me respondeu: "Arthur da Costa e Silva! Um cão que me obedece! " Essa era sua forma sutil de se manifestar contra o regime de exceção.
No curto período de nossa convivência o professor Lattes sempre me pareceu uma pessoa de hábitos simples e muito atencioso com todos. Tenho boas lembranças da pessoa não só do cientista.
Fonte: Prof. Alfredo Ricardo Marques de Oliveira do Departamento de Química da UFPR
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