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Você consegue tempo para pensar e elaborar adequadamente seus pensamentos?
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Você, cientista, consegue tempo para pensar e elaborar adequadamente seus pensamentos, conforme a ciência nos demanda?
A recente matéria publicada na Nature (v.631, p.709, 2024), intitulada "Scientists need more time to think" (https://www.nature.com/articles/d41586-024-02381-x.pdf), trata da temática com base no livro de Cal Newport (Georgetown University), intitulado "Slow Productivity: The Lost Art of Accomplishment Without Burnout" (2024). Newport desafia a ideia de que a produtividade deve sempre aumentar e avalia os efeitos negativos desta tônica, que reina na sociedade moderna.
Você, cientista, certamente já se questionou sobre o ritmo frenético de seu dia a dia, assoberbado de uma carga de trabalho repleta de gestão e burocracia impulsionada pelas redes sociais e suas constantes mensagens e demandas. Como bem diz a matéria, "mais dispositivos digitais equivalem a menos tempo de concentração e pensamento". Newport reforça que os "trabalhadores do conhecimento" precisam desacelerar e pensar mais para alcançar melhoria na qualidade de seus trabalhos.
O artigo não traz soluções prontas, mas sugere a implementação de lista de prioridades e distribuição de tarefas como pontos importantes. Em trabalhos de equipe, por exemplo, reuniões periódicas com todos os membros podem trazer soluções de implementação imediata e assim evitar constantes trocas de mensagens, que interrompem o tempo de pensar. Para fora da academia, sistemas mais transparentes de gerenciamento da carga de trabalho podem levar à redistribuição das tarefas, mas esta é uma solução difícil para as instituições universitárias. A maioria de nós trabalha de forma individual e coordena inúmeras tarefas simultaneamente, agravado pela falta de sensibilidade dos orgãos de fomento sobre a necessidade urgente de podermos pagar por funções de gerenciamento e administração.
Felicity Mellor (Imperial College London), outra pensadora da área, sugere a necessidade de uma mudança na cultura de pesquisa, um repensar mais radical do atual modelo de financiamento para pesquisa acadêmica, juntamente com alterações em outros aspectos da ciência acadêmica (Nature v.630, p.793, 2024).
A matéria chama atenção ainda para a IA e suas ferramentas, que podem ser uma saída pela capacidade de automatização das tarefas administrativas. Mas deixa claro que somente nós, cientistas, somos capazes de avaliar se tais ferramentas são realmente capazes de liberar mais o nosso tempo, ou não.
Fica a dica!
Fonte: Profª Claudia Rezende da UFRJ, vice-presidenta da SBQ 2024-2026
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