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Panorama de pesquisa no Brasil: Avanços e desafios
No último mês de agosto a Clarivate publicou um documento sobre o panorama da pesquisa no Brasil levando-se em conta dados bibliométricos de publicações, citações e assuntos de interesse. Muito além do olhar do que a pesquisa no Brasil vem desenvolvendo, o olhar para o que ainda não avançou deveria saltar aos olhos.
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O documento ressalta a importância dos países do BRICS na expansão do conhecimento na última década, sendo responsável por cerca de 40% da produção em 2023 frente a pouco mais de 24,2% em 2014. Dentro desse contexto o Brasil apresenta-se um pouco abaixo das médias internacionais ocupando do 13º lugar em número de publicações, apresentando um forte foco em pesquisas relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU quando comparado com outros países do BRICS, em especiação a ODS 3 (Saúde e bem-estar) e ODS 13 (Ações contra a mudança Global do Clima.
Se esses dados mostram avanços importantes na pesquisa brasileira eles também apontam problemas que persistem mesmo após uma década. Ainda há uma grande concentração da pesquisa nacional nos estados do Sul-Sudeste com destaque aos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Com uma discrepância em todas as variáveis estudadas como o número de artigos, as métricas de impacto e as colaborações internacionais.
Por exemplo, São Paulo possui mais que o dobro de artigos de pesquisa do que o segundo colocado, Minas Gerais, oito vezes mais que o primeiro estado do nordeste da lista, Pernambuco, aproximadamente treze vezes mais que o estado do centro-oeste e norte mais produtivo, Goiás e Pará, respectivamente. Dentre as quatro universidades mais produtivas, três delas são as estaduais paulistas (USP, UNICAMP e UNESP) e a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso está diretamente relacionado ao apoio das Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisa (FAPs), estando a FAPESP, FAPERJ e FAPEMIG entre as maiores financiadoras estaduais.
Olhar os dados de produção apenas por os números de publicação demonstra as potencialidades que podemos obter e alguns problemas ainda a serem solucionados, no entanto, esses dados também devem ser observados com cautela e discutidos sobre outros aspectos.
A pesquisa científica é feita por pessoas, a maior parte nas Universidades Públicas. Pensar então no avanço da ciência significa pensar em quem faz efetivamente ciência no Brasil. Se por um lado aumentamos consideravelmente nossa produção internacional, ainda nos mantemos distantes dos incentivos financeiros e governamentais que países de alta produção acadêmica tem com seus cientistas.
Ainda temos bolsas de pesquisa desvalorizadas, há poucos avanços nos direitos previdenciários para bolsistas de pós-graduação, a indústria ainda não consegue absorver doutores de forma efetiva, problemas relacionados a saúde mental se multiplicam entre mestrandos, doutorandos e pesquisadores. Tais fatores tornam a busca por programas de pós-graduação cada vez menos interessante, o que afasta o Brasil dos objetivos de formação de doutores e na produção de ciência.
Uma vez que esses problemas não forem enfrentados, o futuro da ciência no país pode ser incerto, pois é impossível fazer ciência sem cientistas e para se formar um pesquisador é necessário romper essas barreiras e enfrentar esses desafios. E isso só será possível se todos nós engajarmos nessa luta e buscar melhorias nos sistemas de pós-graduação que afeta principalmente jovens pesquisadores.
Podemos estar melhorando nossos indicadores em número de publicações, mas nunca avançaremos de fato, enquanto não lutarmos pela valorização do pesquisador e essa luta passa pela luta dos jovens pesquisadores, mas não deve ser um front solitário, deve ser uma luta coletiva.
Cada artigo deve ser olhado muito mais que um número, muito mais que suas citações: ele deve traduzir o esforço de toda uma comunidade em fazer ciência, desde o financiamento da pesquisa a valorização do pós-graduando.
Ainda temos tempo de mudar, mas o futuro é promissor se a luta começar hoje.
Acesse o documento na íntegra, neste link.
Fonte: Prof. º Luan Fonsêca da Universidade Estadual do Ceará, Coordenador do JP-SBQ
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