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Boletim Eletrônico Nº 1624 - 10/10/2024




DESTAQUES

Lauro brilhou


Lauro brilhou
Homem de coração vasto
Legado eterno

Mestre sereno
Seu legado transcende
Vento de bondade



Formação Acadêmica e Vínculo Atual

Lauro Tatsuo Kubota (60) formou-se em Química pela Universidade Estadual de Londrina em 1986, obteve seu mestrado em Química Analítica pela Universidade Estadual Paulista (Araraquqara) em 1988, doutorado. Doutorou-se em Química pela Universidade de Campinas (Brasil) em 1993, e fez pós-doutorado na Universidade de Lund (Suécia) em 1997/98. Foi docente da Universidade Estadual Paulista (Bauru) de 1989 a 1994. Ingressou na Universidade Estadual de Campinas em 1994 como Professor Assistente, tornando-se Professor Associado em 2000 e Professor Titular em 2009.


Coordenações/diretoria e Atuação em Periódicos Científicos

Foi Coordenador do Laboratório Central de Química Analítica pela Unicamp (2002-2008). Foi Diretor do Instituto de Química da Unicamp (2014-2018) e atualmente era o Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Bioanalítica (INCTBio) desde 2008. Foi assessor de várias agências de fomento nacionais e internacionais.

Atuou como revisor das principais revistas da área de Química Analítica e Eletroquímica. Foi membro do corpo editorial das revistas Sensors and Actuators B: Chemical, da ChemElectroChem, Microchemical Journal, Analytical Methods, Analytical Methods, Sensors Diagnostics, da Electrochemical Sciences Advances e da ACS Measurement Sciences Au, etc.

Foi consultor de diversas agências de financiamento nacionais e internacionais. Atuou como revisor dos principais periódicos da área de Química Analítica e Eletroquímica. Suas pesquisas se concentraram na Química, com ênfase na Química (Bio)Eletroanalítica para o desenvolvimento de sensores e biossensores empregando novos materiais.


Suas conquistas, premiações e contribuições

Entre as contribuições científicas do professor Lauro Kubota, algumas conquistas devem ser destacadas. Elas estão listadas em ordem cronológica. i) Durante o doutorado, introduziu o uso da sílica gel, material isolante, na preparação de eletrodos modificados, no grupo de seu orientador (Prof. Yoshitaka Gushikem), pioneiro no mundo. Após seu trabalho, muitos pesquisadores passaram a desenvolver eletrodos modificados à base de sílica gel funcionalizada de diferentes formas ou materiais inorgânicos e ainda utilizam esse conhecimento para preparar sensores eletroquímicos. Esses materiais inorgânicos foram importantes na imobilização de grupos funcionais e afetaram as propriedades catalíticas do eletrodo modificado em função de suas características superficiais. Ele também contribuiu com novos insights para compreender o mecanismo do óxido metálico que funciona como um material eletroquimicamente ativo para detectar alguns carboidratos e aminoácidos. O uso de óxido de níquel e cobre como material de eletrodo alcançou repercussão na cromatografia iônica.

ii) Outra contribuição relevante foi a utilização de compostos organometálicos como catalisadores biomiméticos para modificar superfícies de eletrodos. Ele combinou esses catalisadores biomiméticos com a superfície do eletrodo e introduziu o termo "biossensores sem enzimas". Após seu trabalho neste assunto, muitos pesquisadores passaram a utilizar esse conceito para desenvolver sensores eletroquímicos.

iii) Foi pioneiro no uso de polímero de impressão molecular (MIP) como elemento de reconhecimento no desenvolvimento de sensores eletroquímicos como anticorpo artificial. Em seu primeiro trabalho, um MIP para catecol foi preparado e utilizado para concentrar e detectar eletroquimicamente o analito em amostras ambientais. Na evolução do MIP, ele introduziu o catalisador biomimético imobilizado na cavidade do polímero para reproduzir uma espécie de sítio ativo da enzima. Com essa estratégia, obteve o material com atividade redox e seletividade superior a algumas peroxidases. Para melhorar a estabilidade, passou a preparar MIP com siloxanos obtendo resultados irelevantes.

iv) Buscando o desenvolvimento de sensores eletroquímicos mais eficientes, ele também empregou materiais nanocarbonados como nanotubos de carbono, negro de fumo, grafite, grafeno e óxido de grafeno. Publicou diversos trabalhos sobre síntese desses materiais, sua modificação e utilização na preparação de sensores. Seus trabalhos ajudaram a compreender o papel desses materiais nas modificações dos eletrodos. Recentemente, publicou um artigo sobre a origem do potencial Zeta suportado por um mecanismo redox numa dispersão aquosa de grafite esfoliada. Esta descoberta contribuirá para a forma de utilização da grafite esfoliada na preparação de eletrodos.

v) A contribuição mais impactante foi a utilização de um simples pedaço de papel para produzir um dispositivo onde fosse possível realizar separação e detecção eletroquímica. Ele foi um dos pioneiros na utilização do papel como célula eletroquímica, combinando os processos de limpeza, separação e detecção de um analito alvo. Publicou diversos trabalhos relatando o uso de diferentes papéis e configurações, incluindo resenhas críticas e capítulos de livros. Atualmente, o número de artigos sobre dispositivos eletroquímicos baseados em papel reflete o sucesso de sua contribuição a esse assunto. Os dispositivos analíticos baseados em papel para detectar analitos são baratos e fáceis de fabricar com meios técnicos rudimentares. Ainda assim, podem ser aplicados com sucesso em unidades de atendimento permanente ou transitório.

vi) Uma das principais preocupações do Prof. Kubota era o desenvolvimento de biossensores para doenças tropicais negligenciadas (DTN). Nesse contexto, ele contribuiu com estratégias para preparar biossensores para algumas doenças de forma simples, barata e acessível. Usando um dispositivo analítico simples baseado em papel, ele melhorou biossensores para detectar leishmaniose, dengue e malária.

vii) A contribuição mais recente foi a preparação da superrede de DNA na superfície do eletrodo e sua investigação para entender a transferência de elétrons através deste DNA bem organizado e estruturado, permitindo a preparação de sensores eletroquímicos altamente sensíveis. Além disso, o DNA estruturado na superfície do eletrodo abre novas áreas permitindo novos dispositivos para diferentes finalidades, desde nanorreatores catalíticos até dispositivos sensores.

viii) Iniciou a aplicação da convergência dinâmica entre CRISPR e sensoriamento eletroquímico, elucidando seus papéis em plataformas de biossensoriamento rápidas e precisas. O CRISPR, conhecido por sua notável precisão na edição do genoma e capacidade de programação, encontrou uma nova aplicação em conjunto com sensores eletroquímicos, prometendo detecção altamente sensível e específica de ácidos nucléicos e biomarcadores associados a diversas doenças. ligação de sensores eletroquímicos alimentados por CRISPR em configurações reais de POC, com impacto no futuro do diagnóstico.

Quando foi Coordenador do Laboratório Central de Química Analítica da Unicamp entre 2002 e 2008 desenvolveu um sistema de monitoramento da qualidade dos combustíveis comercializados em Campinas e região (151 municípios). Os resultados foram compartilhados com a Agência Brasileira de Petróleo, contribuindo para a melhoria da qualidade dos combustíveis vendidos aos clientes. Ele também foi responsável por colocar o laboratório para prestar serviços à comunidade (indústrias e empresas).

Tornou-se membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP) em 2007, da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 2010, e Fellow da Royal Society of Chemistry (RSC) em 2014. Recebeu diversos prêmios e/ou homenagens, inclusive o do Governador do Estado de São Paulo de Inventor do Ano em 2000, Prêmio Zeferino Vaz de Reconhecimento Acadêmico em 2004 e 2023, e Prêmio Rheinboldt-Hauptmann em 2023. Foi membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP), Fellow da The World Academy of Science (TWAS), Fellow da Royal Society of Chemistry (RSC), Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico na Classe Grã-Cruz.


Inovação, Dedicação e atuação no INCT de Bioanalítica

O professor Lauro Kubota sempre foi um pesquisador criativo e dedicado a introduzir novidades e inovações, trabalhando com seus colaboradores para aprimorar os recursos humanos principalmente para o país. Foi o Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Bioanalítica (INCTBio) desde 2008. Trouxe a Química Bioanalítica Brasileira para o cenário internacional, abrangendo campos químicos da Química Analítica à Eletroquímica. Seu foco foi o desenvolvimento de ferramentas analíticas para aplicações biológicas, forenses, clínicas, agrícolas, ambientais e alimentícias, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e na busca por um mundo sustentável, visando a obtenção de dispositivos portáteis e de baixo custo. Ele teve sucesso nesta missão, unindo esforços de 44 grupos de pesquisa que atuam em Bioanálise em diferentes regiões do Brasil, com apoio financeiro do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Com isso, a INCTBio permitiu a consolidação de diversos grupos de pesquisa em Química Bioanalítica em diferentes regiões do país, minimizando as desigualdades nas áreas menos desenvolvidas.

Além das atividades bioanalíticas cotidianas, o escopo deste Instituto visa fornecer novas ferramentas analíticas e abordagens para aplicações biológicas, forenses, clínicas, agrícolas, ambientais e alimentares, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida em todo o Brasil e desenvolvendo a ciência básica para o desenvolvimento sustentável. Além disso, as atividades da rede analítica INCTBio têm possibilitado a consolidação de diversos grupos de pesquisa em Química Bioanalítica em diferentes regiões do país, representando a contribuição dos membros do instituto para a área bioanalítica.

De fato, além de seu talento científico e realizações brilhantes em várias áreas da eletroquímica, desde aplicações físicas até aplicações analíticas e biológicas, ele é um ser humano com alto nível de criatividade, renome mundial e compromisso com a comunidade acadêmica.



Produção Científica em números

Publicou mais de 420 artigos em periódicos especializados com seletiva política editorial, os quais receberam mais de 16.326 citações, correspondendo a um "índice h" de 70. O Google Scholar relata um "índice h" de 78 para 21.100 citações, indicando que seus trabalhos são amplamente aplicados por alunos de doutorado e mestrado. Esses números são impressionantes para alguém da sua idade (60). Publicou 15 capítulos de livros. Foi autor/co-autor de 26 patentes. Participou do desenvolvimento de vários produtos tecnológicos. Em suas atividades profissionais interagiu com mais de 800 colaboradores na coautoria de trabalhos científicos.


Formação de Recursos Humanos

Essa é sem dúvida, sua herança mais impórtante: formou cientistas e cidadãos, que se espalham por todos os cantos do Brasil. Orientou 18 dissertações de mestrado, 38 teses de doutorado, supervisionou 30 pós-doutores, além de um números expressivo de alunos de iniciação científica na área de Química. Além disso, a maioria dos seus ex-alunos são docentes em universidades ou trabalham em empresas renomadas no Brasil ou no exterior.


Abaixo descreve-se alguns dos seus alunos e suas instituições de trabalho:

Alexandre Kisner: Professor do Departamento de Neurociência da American University em Washington DC.
Altair Benedito Moreira: Professor Associado da Universidade Estadual Paulista em São José do Rio Preto-SP.
Antônio Alberto da Silva Alfaya: É professor associado da Universidade Estadual de Londrina, UEL.
Antônio de Santana Santos: Atualmente é professor titular da Universidade Estadual de Santa Cruz na Bahia.
Arnaldo Cesar Pereira: Atualmente é professor associado da Universidade Federal de São João del Rei, (Campus Dom Bosco, São João del Rei/MG).
Cecilia Carvalho Castro e Silva: Professora assistente da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
César Ricardo Teixeira Tarley: Professor titular do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Christiana Andrade Pessoa: Atualmente é professora associada do Departamento de Química da Universidade Estadual de Ponta-Grossa (UEPG).
Dênio Emanuel Pires Souto: É professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Elizabete Yoshie Kawachi: Atualmente é professor associado do Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
Elizabeth de Fátima Perez: Atualmente é gerente da qualidade da EQUALIS – Laboratório de Análises Físico-Químicas e Microbiológicas Ltda.
Emerson Schwingel Ribeiro: Atualmente é professor associado do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Eric de Souza Gil: Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Everson Thiago Santos Gerôncio da Silva: Atualmente é professor do Departamento de Química da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Flávio Santos Damos: Atualmente é professor associado do Departamento de Química da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Gabriela Furlan Giordano: Atualmente é Especialista em Desenvolvimento Tecnológico no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, Laboratório Nacional de Nanotecnologia.
Jailson Cardoso Dias: Atualmente atua como Especialista em Pesquisa (Quimiometrista) junto ao Laboratório de Quimiometria e Quimiosensorial da empresa British American Tobacco.
Júlio Cesar Bastos Fernandes: Professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOP).
Karin Yanet Chumbimuni Torres: Professora da Purdue University – Estados Unidos
Laércio Rover Júnior: Atualmente é Professor - Ensino Médio do Centro Educacional e Assistencial Divino Salvador.
Lucilene Dornelles Mello: Atualmente é professora associada da UNIPAMPA (Campus Caçapava do Sul, RS).
Marcio Eduardo Vidotti Miyata: Atualmente é professor associado do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Maria Del Pilar Taboada Sotomayor: Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP, Campus Araraquara.
Mariana Massafera: Especialista em Laboratório do Instituto de Química – USP.
Miyuki Yamashita: Atualmente é professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Moises Teodoro Messi: Atualmente é professor titular da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação.
Murilo Santhiago: Atualmente é pesquisador no Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) – Campinas.
Noemi Nagata: Atualmente é professora associada do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Percy Calvo-Marzal: Professor da University of Central Florida.
Phabyanno Rodrigues Lima: Atualmente é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas (IFAL).
Rafaela Fernanda Carvalhal Passos: É pesquisadora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nalco Company.
Reinaldo Francisco Teófilo: Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Renata Kelly Mendes Valente: Atualmente é professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Renato Sanches Freire: Professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP-SP).
Renato Sousa Lima: Atualmente é pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, Laboratório Nacional de Nanotecnologia.
Rita de Cassia Silva Luz: Atualmente é professora associada do Departamento de Química da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Rosa Fireman Dutra: Professora associada do Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Tania Jacometo de Castilho: Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Obs: As informações referentes aos vínculos foram obtidas do currículo lattes podendo ter havido mudança de endereço profissional.

Os discentes que o professor Lauro Kubota orientava atualmente antes de sua recente partida:

Orientações e supervisões em andamento - Dissertação de mestrado
Felipe Barbosa Marques, Neuryelen dos Santos Bandeira, Tais Xastre, Raul Arruda Artisiani, Agnes Nascimento Simões, Rafael Gonçalves Pontes, Dagwin Wachholz Junior, Lourenço Henrique Bittar Vidotto, Camila Regina Erbereli, Lory Cantelli Carossi

Supervisão de pós-doutorado
Bruna Maria Hryniewicz, João Paulo V. Damasceno, Patrícia Derocco


O professor Lauro Tatsuo Kubota foi alguém muito especial, uma pessoa admirável que se dedicou ao seu trabalho com tanto entusiasmo e dedicação, cativando todos ao seu redor. As lições que aprenderam com ele ficarão para sempre em suas memórias.

A sua preocupação constante com o ensino e com a qualidade da universidade provocou mudanças. Uma homenagem singela a um Grande Homem, generoso e humano. Um homem de bem! Se houver alguém insubstituível, talvez seja ele. Mas, o conjunto de seus herdeiros intelectuais faz e continuará fazendo o caminho.

Nossas sinceras condolências à sua esposa e ao seu filho e a todos, cuja presença ele beneficiou.


Fonte: Christian Amatore (França), Marília Goulart (UFAL) e Rita de Cássia Silva Luz (UFMA)



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